Kluppel estava com medo de represálias, diz filho

A família de Sérgio Kluppel afirmou ontem que o ex-síndico tinha medo de sofrer represálias por estar investigando suspeitas de desvio de dinheiro no condomínio em que morava. Um dos filhos da vítima, o médico Cícero Alaor Kluppel, afirma que no dia anterior ao assassinato, Kluppel tinha enviado um e-mail para Prestes, com cópias para outros moradores, pedindo explicações dos fatos apurados. No texto ele comentava que tinha "medo de que ele chegasse às vias de fato."

A missa de sétimo dia de Kluppel foi realizada ontem. O amigo e ex-colega de banco Antônio Carlos Peluso, 65 anos, comenta que Kluppel era uma pessoa calma e companheira. "Mesmo aposentados, continuamos nos encontrando em almoços de confraternização", disse.

Cícero também disse que o clima no condomínio continua "péssimo". "Minha madrasta e minhas irmãs têm montado barricadas para se proteger." Antes de entregar os documentos que podem provar a acusação de fraude à polícia, a viúva temia que alguém pudesse invadir o apartamento para roubar os papéis.

Aline Peres

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O síndico José Francisco Prestes, 58 anos, acusado de matar o bancário e ex-síndico Sérgio Alaor Kluppel, 64 anos, na semana passada, no prédio em que ambos moravam em Curitiba, permaneceu calado ontem, dia marcado para a polícia ouvir o seu depoimento. A delegada do 2.º Distrito Policial, responsável pelo caso, Selma Braga, foi até o Hospital Evangélico, onde Prestes está internado e vigiado por um policial, para ouvi-lo.

"Ele utilizou o direito constitucional de se pronunciar somente em juízo, mas isso não vai influenciar na conclusão do inquérito. O interrogatório é peça de defesa do acusado", explica Selma. De acordo com o advogado de Prestes, Marden Esper Maués, a polícia foi informada de que o acusado não teria condições psicológicas de prestar depoimento neste momento. Como não houve o adiamento, o advogado orientou Prestes a permanecer em silêncio. "Até agora, nem eu tive comunicação com ele. Vou tentar marcar uma audiência com o juiz na semana que vem para que ele possa dar o seu depoimento", afirma Maués.

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Segundo a delegada, o inquérito sobre a morte de Kluppel será finalizado hoje e Prestes será indiciado por porte ilegal de arma e homicídio triplamente qualificado – motivo torpe (vil), crime cometido por emboscada e para assegurar a impunidade em outro crime (irregularidade financeira nas contas do condomínio). Para a delegada, tudo indica que o assassinato de Kluppel foi premeditado. "Prestes chamou a vítima até o local do crime com o pretexto de mostrar contas do condomínio e foi armado", explica. Para chegar a esta conclusão, a delegada ouviu oito testemunhas: a viúva, quatro filhos da vítima, o porteiro do prédio, a zeladora e um conselheiro do condomínio.

A delegada vai solicitar a prisão preventiva de Prestes. "Ele foi preso em flagrante por ato da autoridade policial. Com a prisão preventiva decretada pelo juiz fica assegurado que ele continue preso", afirma Selma.

Selma também vai pedir para que Prestes seja transferido o mais rápido o possível para o Complexo Médico Penal, em Piraquara, na região metropolitana. "É importante que ele seja transferido para que possamos liberar o policial que faz a sua escolta", diz. De acordo com o diretor-clínico do hospital, Flamarion Santos Batista, o quadro de Prestes está evoluindo bem e ele deve ter alta em dois ou três dias. Só então ele poderá ser transferido.

Kluppel foi morto no último dia 27, no salão de festas do edifício Barão de Cotegipe, no bairro Água Verde, com um tiro na cabeça e outro na nuca. Prestes é acusado de fazer os dois disparos de pistola 765. Depois de atirar no bancário, o síndico teria atirado contra o próprio peito. De acordo com as investigações, um desfalque de R$ 19 mil nas contas do condomínio descoberto por Kluppel teria motivado o crime.