Antonio Carlos esperava atendimento ontem na UPA do Boa Vista| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

UPA Boa Vista

Espera passou de três horas para atendimento

Na UPA do Boa Vista, que atende vários bairros de Curitiba, além de moradores de Colombo e Almirante Tamandaré, na região metropolitana, a espera por atendimento passava de três horas, por volta das 18 horas de ontem. "Estou aqui a 3 horas e meia, faz uma hora e meia que não chamam ninguém que está esperando por médico", reclamava a vendedora Sandra Ribeiro, 41 anos.

Antonio Carlos Muzy, 64 anos, esperava por atendimento havia mais de 45 minutos. "Ele tem gota, diabetes, está gritando de dor, mas ninguém fez nada ainda. Nem um copo para tomar água tem aqui", reclamou a ex-mulher dele, Rita Terezinha Muzy, 58 anos.

Funcionárias da UPA, que pediram para não ser identificadas, disseram que o atendimento lento já é rotina. O local conta com nove servidores de enfermagem para fazer o trabalho de 23. "Um funcionário se reveza em três setores. A farmácia não libera remédio por falta de pessoal para trabalhar. O prefeito ampliou o horário de atendimento das unidades, mas não contratou mais gente", reclamou uma delas. "É revoltante a questão funcional. Aqui sempre demora de 4 a 5 horas."

Por meio de nota, a prefeitura informou que abriu processo seletivo para os serviços de urgência e emergência. A prova foi aplicada no sábado. "Também haverá realização de concurso público para reforçar o quadro de servidores da Saúde ainda no primeiro semestre deste ano."

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Resposta

Prefeitura propõe parcelamento dos valores atrasados

A principal motivação para a paralisação seria o R$ 1,5 milhão que a prefeitura deve aos servidores da saúde, segundo o sindicato. Desse valor, R$ 660 mil seriam referentes a 31 mil horas extras não pagas aos servidores. Outros R$ 900 mil são referentes ao reajuste salarial concedido pela prefeitura conforme a inflação.

A secretaria de Saúde diz ter feito o pagamento das horas extras referentes a dezembro no salário de janeiro, depositado sexta-feira. As demais seriam parceladas em, no máximo, seis vezes a partir deste mês. Já o reajuste salarial deve ser pago em março, retroativo a janeiro e corrigido pela inflação. A prefeitura acha que a greve é injusta porque teria cumprido com suas obrigações. O sindicato considera a proposta insuficiente e insiste que o pagamento das horas seja depositado ainda em fevereiro.

No fim de 2014, a Secretaria Municipal de Recursos Humanos comunicou aos servidores municipais que os benefícios salariais definidos para diversos cargos pela Lei 4.442/2014, a partir de 1º de dezembro, foram adiados por decreto municipal.

O Sismuc considera o decreto ilegal, e a categoria aprovou greve para exigir o pagamento imediato das divisas.

Servidores municipais da saúde decidiram ontem à tarde em assembleia pela manutenção da greve iniciada pela manhã. Um ato público está marcado para as 9 horas de hoje em frente ao prédio da prefeitura. A categoria reclama de atraso no pagamento de horas extras e reivindica novas contratações, além da elevação do piso salarial.

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De acordo com o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc), o segundo dia de paralisação segue os moldes do que ocorreu ontem: atendimento somente em casos de urgência e emergência, conforme determinação do Ministério Público. Pelos cálculos da entidade, pelo menos 72 das 109 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da capital registraram paralisação, que chegou a 90% das atividades na maioria dos casos.

Na prática, boa parte dos 7 mil servidores estão nas UBS e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), mas recusam atendimento quando não se trata de urgência e emergência. "Estamos em greve hoje, mas a prefeitura está em greve há muito tempo. Uma escala de trabalho de 24 pessoas que só tem oito trabalhadores, certamente, é uma greve de gestão", resumiu a coordenadora do Sismuc, Irene Rodrigues. O município contesta os números.

Versão oficial

Balanço atualizado da Secretaria Municipal da Saúde aponta a ausência de 4,57% dos servidores. "Naquelas unidades em que houve adesão à mobilização convocada pelo sindicato dos servidores, foram mantidos o atendimento e encaminhamento dos casos agudos, bem como, quando necessário, o reagendamento de casos eletivos. Nas UPAs e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os serviços operam com capacidade total, conforme recomendação do Ministério Público", informou em nota a prefeitura.

Irene Rodrigues confirmou que a greve não afetou os serviços de urgência e de emergência das unidades básicas de saúde da cidade. "Estamos respeitando a orientação do Ministério Público de atender a 30% dessas demandas. Já os pacientes com consultas de atendimento eletivo (exames específicos) estão sendo orientados a reagendar."

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"Estamos trabalhando no limite. Em turnos em que deveríamos funcionar com oito enfermeiros, às vezes temos apenas dois", diz a enfermeira Andreza Gonçalves da Silva, da UBS da Cidade Industrial. "Isso acontece porque, com o 'calote', muitos funcionários estão se recusando a fazer horas extras."

À tarde, cerca de 250 manifestantes fizeram uma passeata impedindo o trânsito em um dos sentidos na Avenida Visconde de Guarapuava. Os servidores se reuniram nas escadarias da Câmara para a assembleia que decidiu pela manutenção da greve.