Representantes de hospitais e entidades anunciaram nesta quinta-feira (8) pela manhã que o atendimento médico-hospitalar na rede pública em Londrina, no Norte do Paraná, está à beira de um colapso. Participaram da entrevista coletiva representantes da Associação Médica de Londrina (AML), Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná, Irmandade Santa Casa (Iscal), Hospital Evangélico e Hospital do Câncer de Londrina.
Os médicos afirmam ser necessário um aumento de 30% no repasse do Sistema Único de Saúde (SUS), que hoje é de R$ 11 milhões. Além disso, para sanear as contas do sistema em Londrina, seria preciso uma suplementação de R$ 10 milhões/mês. Em junho, a Prefeitura encaminhou ao Ministério da Saúde um documento requerendo esses recursos. Ainda não houve resposta.
Os médicos apontam dois problemas. Um deles, é que há defasagem entre o custo real dos procedimentos e o que é repassado pelo SUS. Um tratamento de pneumonia de adulto, por exemplo, tem custo de R$ 2.072,77 para o hospital, mas apenas R$ 1.016,66 são repassados pelo SUS. O déficit é de 103,81%. Do valor repassado, R$ 48,35 correspondem aos honorários médicos. Há ainda procedimentos, como o tratamento clínico de trauma de tórax por arma de fogo, que tem mais de 300% de defasagem. O valor repassado pelo SUS é de R$ 291,05, mas o procedimento tem custo de R$ 1.193,89.
Outro problema é que, apesar de valores insuficientes, determinados procedimentos não estão sendo pagos pelo SUS. São rejeitados, por exemplo, internamentos de um mesmo paciente no mesmo mês. Os plantões a distância quando o médico fica de prontidão fora do hospital - também não têm sido remunerados. "Os valores pagos estão aviltados, isto é, quando são pagos. Quando o governo faz propaganda do SUS, é caridade com o chapéu alheio. Quem faz maravilhas são os médicos", afirmou Luiz Soares Koury, diretor do Hospital Evangélico.
José Luiz de Oliveira Camargo, presidente do Sindicato dos Médicos, afirma que, na prática, os médicos e hospitais recebem apenas 70% dos serviços que prestam. "Quem deixa de nos pagar é o gestor municipal, que diz que a verba é insuficiente. Essa situação já dura cinco ou seis anos. A nossa preocupação maior é com o paciente, pois trabalhando nesse sistema de prejuízo podemos enfrentar situação semelhante aos estados do Nordeste, onde houve várias paralisações dos serviços", alertou. Segundo ele, os médicos têm "feito milagres". "Se dependesse do que é repassado, o serviço deveria estar parado há tempos. Não sabemos até que ponto podemos agüentar. Ou as coisas mudam, ou haverá um colapso", disse.
Antonio de Paula, da AML, disse não acreditar que vai haver uma greve de médicos, mas que os profissionais podem começar a pedir demissão dos hospitais. Segundo ele, já há casos de demissionários especializados em cirurgia vascular e cirurgia geral.