São Paulo - Há dois meses, o estudante Danilo Montes tentou participar de enquete no site do Senado. Frustrou-se. Ele é cego e, no momento de registrar o voto, deparou-se com um dos obstáculos para os deficientes visuais: o código de verificação letras que aparecem na imagem para serem digitadas pelo usuário. "Era o último dia da enquete e eu não pude votar", conta. Apesar dos avanços tecnológicos, que hoje já permitem, por exemplo, transformar livros impressos em áudio num curto espaço de tempo, facilitando a "leitura", os deficientes visuais ainda encontram dificuldades para ter acesso à informação.
A legislação determina que sites da administração pública sejam acessíveis, mas muitos entre eles o da Presidência da República ainda não o são. Vários portais trazem imagens, vídeos e códigos que não são decodificados ou lidos pelos programas de tela, que transformam a informação em voz.
Pesquisa de 2007 feita pela Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio) mostrou que, de 351 sites analisados, apenas 23 eram acessíveis. "Há padrões internacionais de acessibilidade", explica Simone Bacellar, uma das coordenadoras do estudo. "Não é fácil tornar um site acessível, especialmente quando ele não começou assim", diz.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 16,6 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual cerca de 10% da população. Desses, 150 mil se declararam cegos.
Cuidados
Entre os problemas mais comuns encontrados pela reportagem nos sites estão a falta de descrições de imagens e elementos em flash (linguagem de computador inacessível aos leitores de tela). Por vezes, um site acessível perde a característica quando é atualizado. "Sites são dinâmicos, sempre têm conteúdo novo. Se não houver a preocupação com a acessibilidade nas atualizações, rapidamente a página fica difícil de navegar", explica Simone.
Para ela, é fundamental que haja uma equipe para cuidar da acessibilidade. É esse o caso da Câmara dos Deputados, que tem funcionários especificamente para garantir que o site seja de fácil navegação. "Hoje o portal da Câmara é um dos mais acessíveis", diz Edson Júnior, que é cego e jornalista da Rádio Câmara.
Simone Bacellar acredita que a acessibilidade virtual ainda é uma utopia no Brasil. "Primeiro porque é realmente difícil fazer um site acessível. E as empresas não perceberam que pessoas com deficiência são consumidores em potencial", diz.
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