Guaraqueçaba guarda boa parte da riqueza natural do Paraná. É um dos locais mais intocados e preservados, com várias unidades de conservação ambiental. O próprio terreno em que a área urbana está faz parte de uma região protegida por lei. Além disso, a estrada esburacada, tortuosa e, às vezes, cascalhada que liga a cidade à Antonina corta uma reserva biológica nacional recém-criada. Tanta natureza a ser cuidada acaba criando reflexos diretos e indiretos para os moradores. Por motivos principalmente ambientais, a rodovia asfaltada nunca saiu. E a PR-405 representa um tormento.
O trajeto é tão ruim que muitos moradores de Guaraqueçaba acabam preferindo ir “pelo mar”: vão de barco até Paranaguá ou Pontal do Sul, quando precisam de mais infraestrutura ou quando querem rumar para Curitiba. De carro, os 100 quilômetros de estrada de chão podem levar três horas. Para quem precisa de acesso à saúde, principalmente em casos de emergência, a situação leva a risco de morte.
Vários grupos se reuniram para discutir o caso e estudos diversos, propondo alternativas, foram apresentados nos últimos 20 anos. O receio é de que a rodovia asfaltada gere excesso de movimento e acabe com o que Guaraqueçaba tem de melhor. O consenso, mesmo entre ambientalistas, é de que preservar não significa impedir o progresso. Contudo, que tipo de desenvolvimento e como causar menor impacto possível é que está em discussão.
Um ingrediente a mais surgiu recentemente no impasse: a criação da reserva biológica Bom Jesus, há dois anos. A PR-405 corta a unidade de conservação federal: a área a ser preservada fica dos dois lados da estrada. Com área semelhante ao perímetro urbano de Curitiba, a reserva reúne exemplares essenciais de fauna e flora para a manutenção do bioma Mata Atlântica. Dos 34 mil hectares, cerca de 7 mil já pertenciam ao poder público – a região já foi uma fazenda do extinto banco Bamerindus e o restante é caso de desapropriação. A área é restrita e autoriza apenas entrada para pesquisa científica e visitação orientada para a educação ambiental. o restante do município está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, uma região que tem o tamanho de sete Curitibas e é a maior área de preservação federal no Paraná.
Para realizar qualquer obras, destaca Rejane Karam, da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística, é necessário pensa em uma forma de acesso que não provoque danos. “Não dá para simplesmente jogar lá um monte de caminhões, que não é esse o objetivo”, diz. Ela reforça que é preciso respeitar o traçado da Serra do Mar e que um projeto desses só sai depois de um grande estudo de viabilidade técnica, respeitando o equilíbrio técnico, econômico e ambiental.