Familiares e amigos presentes no velório de Lucas, em Araucária, não entendiam qual foi a motivação do ataque| Foto: Ivonaldo Alexabdre/Gazeta do Poco

RACISMO SEM CAUSA

Jornalista espanhol chama nazistas de ridículos

Ataques de skinheads acontecem com relativa frequência na região de Curitiba. O último caso de destaque foi a morte do casal Bernardo Dayrell, 24 anos, e Renata Waeschter Ferreira, 21 anos, em Campina Grande do Sul, em abril de 2009. Os jovens foram mortos quando saíam de uma festa em homenagem aos 120 anos do ditador alemão Adolf Hitler.

Para entender o fascínio por trás desse tema, o jornalista espanhol Antonio Salas – pseudônimo usado por um famoso jornalista investigativo – se infiltrou no movimento neonazista espanhol por um ano. No final da experiência, escreveu o livro O Diário de um Skinhead.

Salas considera os nazistas brasileiros, em um país com raízes negras, ridículos. "Se analisar um pouco os nazistas brasileiros ou latino-americanos, eles são tão ridículos como os espanhóis. No Chile, por exemplo, os nazis consideram os peruanos inferiores. Na Espanha, esses nazistas chilenos seriam agredidos pelos espanhóis", afirma. "Os nazis espanhóis, por outro lado, seriam agredidos pelos membros do Ku Klux Klan, nos Estados Unidos. E nenhum deles seria considerado membro da raça ariana pura pelos alemães do Terceiro Reich. A supremacia racial é uma estupidez: na Europa, na América ou em qualquer lugar." (VB)

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Um grupo de skinheads é suspeito de assassinar um jovem no último domingo, no bairro São Francisco, em Curitiba. Di­­fe­ren­tes versões do crime levantam dúvidas sobre o que teria motivado a morte de Lucas Augusto de Carvalho, 18 anos. A polícia aguarda alguns depoimentos para tentar identificar os autores do ataque.

Segundo a família, o jovem teria ido ao Shopping Mueller com um primo e dois amigos e começaram a ser perseguidos por cerca de dez homens. Os quatro fugiram até o Cemitério Municipal, onde se separaram. Na esquina das ruas Inácio Lustosa e Raul Munhoz, Carvalho teria sido agredido e esfaqueado. No ataque, um celular e a carteira foram roubados. O jovem chegou a ser encaminhado ao Hospital Evangélico, mas não resistiu aos ferimentos.

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De acordo com a Polícia Militar, Carvalho e seus amigos teriam se deparado com vários homens usando roupas pretas e todos carecas, o que indicaria a ação de um grupo neonazista. No entanto, a Delegacia de Furtos e Roubos, responsável pela investigação, ainda não confirma a ação de skinheads. "Não existe nenhuma suspeita até o momento. Só é possível apontar essa motivação após uma conversa com o primo", explica o investigador Hélcio Piasseta. O jovem deve ser ouvido nos próximos dias.

Apesar de não haver confirmação da polícia, funcionários de um comércio a cerca de 600 metros do local do crime relatam que um jovem na faixa dos 18 anos chegou ao local e pediu o telefone emprestado para saber se seus amigos estavam bem. Contou que teriam sido perseguidos por skinheads. "Ele estava com uma marca de facada na camiseta, na altura da barriga", conta o homem, que preferiu não se identificar. Outro funcionário confirma a presença de grandes grupos de homens carecas na região nos finais de semana.

Outra pessoa que vive nas proximidades apresenta outra versão. De acordo com ela, cerca de dez homens vestidos de preto – maioria carecas – estavam reunidos desde as 17 horas de domingo no local do crime. Carvalho estaria entre eles. O jovem teria saído e voltado sem um "pacote", o que teria desencadeado a agressão. "Eles gritavam ‘cadê o pacotinho’ e começaram a agredi-lo até esfaqueá-lo", relata.

Em geral, grupos de skinheads são ligados ao neonazismo e costumam atacar negros, homossexuais e grupos rivais, como os punks.

Carvalho estava no ensino médio e trabalhava como estagiário na prefeitura de Araucária, onde morava. Ele tinha completado 18 anos na última sexta-feira. Em seu enterro, no Cemitério Jardim Independência, em Araucária, ninguém entendia as motivações por trás do ataque. Familiares e amigos contam que o jovem era tranquilo, costumava fugir das encrencas e não apresentava problemas com drogas. "Ele ia da casa para escola, da escola para casa", diz o irmão Rodrigo de Carvalho. "Ele só foi dar um ‘rolê’ no shopping. Só isso."

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