Comissão também atacou condições “insalubres” de presídios| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Denúncia

"Solitárias" são usadas para ampliar vagas

A comissão criticou a criação de 2 mil vagas no sistema penitenciário por meio da transformação de celas de isolamento em comunitárias – reduzindo de 5% para 2% a quantidade desses espaços em cada estabelecimento penal.

No total, seriam 800 "solitárias", construídas sem janelas e com apenas orifícios para entrada de ar, que teriam sido readaptadas com camas metálicas para receberem seis presos cada uma. O trabalho da Comissão de Direitos Humanos não apontou significativa superlotação nas 27 unidades visitadas, mas desconsiderou a superlotação em carceragens de delegacias policiais – onde há 6.023 presos a mais do que o sistema comporta.

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Agentes seriam mal preparados

A OAB-PR diz ter constatado que os presos não são os únicos submetidos às más condições dos presídios. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos, os agentes penitenciários são mal treinados e, em alguns casos, em baixo número.

Segundo o relatório gerado pelas visitas, dos 2.911 agentes que trabalhavam nas unidades prisionais, 80% não tinham passado por cursos de atualização penal e 70% sabiam o que era assistir aulas de Direitos Humanos.

Além disso, a comissão afirma ter encontrado situações nas quais um único agente era responsável pela movimentação de até três galerias. Também diz ter localizado agentes dependentes químicos com tratamento financiado por colegas – sem apoio oficial do governo estadual.

Saúde

O relatório da OAB-PR mostrou que o atendimento médico nos presídios também é precário. No total, há apenas 27 médicos clínicos gerais e 11 psiquiatras para atender os quase 15 mil detentos do estado.

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Um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR) concluiu que 80% das unidades prisionais do sistema paranaense não oferecem condições de ressocialização aos presos e violam princípios dos Direitos Humanos.

O veredicto foi divulgado ontem, após membros da comissão terem visitado 27 unidades prisionais – entre os dias 26 de julho e 14 de setembro de 2012. Nas visitas, foram aplicados questionários à direção, ao corpo funcional dos presídios e também aos internos.

De acordo com a OAB-PR, dos 14.527 presos, pouco mais de 5 mil (39%) trabalhavam. Metade desses trabalhadores fazia atividades como limpeza e conservação das próprias unidades. Isso porque a comissão constatou que as unidades foram construídas sem a preocupação com espaços destinados a oficinas. A recém-inaugurada Penitenciária Central do Estado, por exemplo, contava na época com apenas 214 dos 1,4 mil presos em alguma atividade laboral.

O relatório da comissão também mostrou o baixo alcance de sistemas de ensino dentro dos presídios. Segundo o documento, 4.262 internos estudavam (30%) à época das visitas. As aulas eram ministradas graças a convênios mantidos pela Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) com a Secretaria da Educação, o Senai e a Agência do Trabalhador.

A comissão ainda atacou a falta de espaço para os presos e as condições "insalubres" de presídios. De acordo com a OAB-PR, na maioria dos casos, de seis a oito presos permanecem em celas de menos de 7 m² 24 horas por dia, com apenas dois banhos de sol de duas horas por semana.

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Além disso, os membros da OAB dizem ter encontrado, na maioria das unidades, celas às escuras e com esgoto entupido. As poucas roupas de camas colocadas à disposição dos presos, também segundo a comissão, eram lavadas e secadas no espaço em que detentos dormiam.

Diretor chama relatório de "fantasioso"

Maurício Kuehne, diretor do Departamento de Execução Penal (Depen), disse que o relatório da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR não mostra avanços do sistema penal paranaense dos últimos dois anos. "O relatório é tendencioso e não retrata a verdade. Quando assumimos o governo, apenas 17% trabalhavam e 21,8% estudavam. Hoje, essas porcentagens passaram para 30% e 43,4%. Na Colônia Penal Agrícola, temos mais de 1,1 mil de 1,4 mil presos trabalhando", afirmou Kuehne.

O diretor também descartou que problemas relacionados à infraestrutura dos presídios sejam generalizados. "Pegaram alguma coisa pontual, uma cela sem lâmpada, por exemplo, para dizer que o problema é geral. Não temos falta de água, energia ou esgoto entupido."

Sobre a utilização de "solitárias" como celas coletivas, Kuehne informou que isso atende a uma resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – que reduziu de 5% para 2% as celas individuais. Ele ainda afirmou que as celas têm as mesmas características dos espaços que já eram coletivos.

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Apesar de desqualificar o relatório, o porta-voz da Seju informou que o enviou faz 20 dias a todos os diretores das unidades prisionais e que responderá a OAB-PR em até 15 dias.