O empresário Nelito Simão mostra com orgulho a água da nascente que brota em seu restaurante. Segundo ele, análises mostraram que a água é boa| Foto: Fotos: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Mapa das minas

Veja mais detalhes sobre a localização das nascentes registradas pela pesquisadora Cynthia Leitão:

Rio Belém

Das 274 minas d’água registradas, 106 estão na bacia hidrográfica do Rio Belém. Dessas, 86 estão em terrenos particulares e 20 em áreas públicas.

Rio Barigui

Na bacia do Rio Barigui existem 116 nascentes catalogadas, sendo 87 em áreas particulares e apenas 29 em terrenos públicos.

Rio Bacacheri

Na bacia do Rio Bacacheri, há 11 nascentes em terrenos privados e quatro em áreas públicas.

Ribeirão dos Padilhas

Das 11 minas d’água da bacia do Ribeirão dos Padilhas, cinco estão em terrenos particulares e seis em públicos. É o único caso em que há mais nascentes em áreas públicas do que em particulares.

Passaúna e Iguaçu

As demais nascentes ficam nas bacias dos rios Passaúna (oito minas d’água – seis particulares e duas públicas) e Iguaçu (cinco particulares e quatro públicas).

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Fonte erguida sobre a nascente do provincialato: água abundante
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Um importante patrimônio natural de Curitiba está sendo cuidado – ou não – por cidadãos e empresas privadas. Cerca de 75% das nascentes, ou minas d’água, que abastecem os rios da capital paranaense estão localizadas em terrenos particulares, sem manejo direto da prefeitura. O dado foi revelado por um levantamento que catalogou 274 nascentes em território curitibano, entre 1999 e 2010. Desse total, 205 estão em áreas privadas e apenas 69 em locais públicos, como parques e praças.

"Podemos protegê-las com mais facilidade sabendo onde se localizam", justifica a veterinária e educadora ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba Cynthia Hauer de Mello Leitão, responsável pelo estudo. Fazer a catalogação, diz ela, é o primeiro passo para futuramente se estabelecer critérios para cuidar desses bens naturais. De acordo com a especialista, é muito provável que existam muito mais nascentes em Curitiba. Várias delas, inclusive, podem desaparecer antes mesmo de serem registradas.

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Localização

Conforme explica Cynthia Leitão, Curitiba está localizada em uma região onde os rios estão se formando e as características climáticas e geológicas do território favorecem o surgimento das minas d’água. "Essa cidade deveria se chamar ‘cidade das águas’", reitera o engenheiro am­­biental e professor da Pon­tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Carlos Mello Garcias, que alerta para o aterramento de nascentes devido à expansão imobiliária e ao surgimento de grandes condomínios. "Por não haver controle, querem tirar vantagem de tudo, construindo em espaços que não deveriam receber lotes. É uma irresponsabilidade do dono do imóvel, de quem assina o projeto e de quem aprova", sentencia.

Garcias explica que é importante conservar as minas d’água porque, do ponto de vista técnico, é perigoso construir em cima dessas áreas, que podem se tornar instáveis. "Cada vez que se mexe em uma surgente [sinônimo de nascente], ela vai aparecer em outro lugar. É uma energia indomável", ensina. Por outro lado, apesar da urbanização, muitas nascentes ainda estão preservadas, mesmo em áreas centrais da cidade.

Uma delas fica a 200 metros do poluído Rio Belém, no bairro Ahú. Na sede do provincialado das irmãs da Divina Providência, onde antigamente funcionava um cassino, a água brota límpida da terra. "Em novembro, fizemos uma análise e a qualidade da água está excelente", informa Zenith Ribas, administradora do local. Ainda na época do cassino, a fonte foi cercada e a água chegou a ser comercializada pelo antigo proprietário, segundo conta Cynthia Leitão. O bosque no entorno da nascente ajuda a preservá-la. "Tem muita gente da cidade que vem pegar água aqui", comenta Zenith Ribas.

O empresário Nelito Simão, dono do restaurante Mangiatto Bene, no bairro São Lourenço, também investiu na preservação de uma nascente. A mina d’água, aliás, virou até uma atração a mais para os clientes. "Eles pedem para que eu leve uma jarra de água à mesa. Faço isso com muito gosto", orgulha-se. Simão informa ter feito análises da qualidade da água e diz que os resultados foram muito bons. Cynthia Leitão, porém, não recomenda o consumo in natura de águas de fontes naturais. "Em ambientes urbanos, ela está sujeita à contaminação."

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Projeto de lei prevê aumento na fiscalização

Um projeto de lei que obriga o registro de nascentes para fins de preservação em áreas particulares e públicas está em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba. "Estamos acompanhando um crescimento habitacional e esse pessoal todo está começando a ir para cima dessas nascentes", justifica o presidente da Câmara e atual prefeito em exercício de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), autor da proposta.

Entre outras coisas, o projeto proíbe que os donos de terrenos com nascentes construam edificações sobre elas ou destruam a vegetação no entorno, prevendo punições para quem não respeitar as fontes de água. "Temos diversos casos de grandes construtoras que passam o trator em cima de nascentes", afirma De­­rosso. Segundo ele, o projeto está sendo elaborado em parceria com a educadora ambiental Cynthia Leitão, que fez o inventário das nascentes da cidade.

Recompensa

Apesar disso, o projeto não prevê recompensa para quem preservar, o que pode colocar em risco muitas nascentes que ainda nem foram catalogadas. "Como existe o desconto no IPTU para quem tem um bosque preservado, o mesmo poderia acontecer com as nascentes. Até motiva os proprietários a registrá-las", opina Cynthia Leitão. Ela defende que as nascentes constem na chamada Guia Amarela, impedindo o aterramento de minas d’água por parte dos donos dos imóveis, sob pena de não terem seu empreendimento liberado pela prefeitura.

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De acordo com Derosso, seria inconstitucional se o projeto trouxesse este tipo de incentivo fiscal. É função do prefeito, segundo ele, propor este tipo de aditivo posteriormente. "Temos o cadastro das nascentes e poderíamos sugerir depois que se crie um mecanismo fiscal de incentivo", diz. Por outro lado, ele observa que é preciso ver o lado dos empreendedores. "Devería­mos ter uma lei mais flexível para áreas urbanas, já consolidadas", argumenta, citando o Código Florestal, que prevê um raio de 50 metros de mata ao redor de uma nascente – algo dificilmente respeitado nas cidades. O engenheiro ambiental Carlos Garcias também admite uma eventual mudança na lei. "Meu medo é que isso leve a excessivas flexibilizações", pondera.