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Almeri Siqueira e os voluntários que vão assumir a Casa do Idoso, no Pinheirinho: plano de gestão traçado por especialistas | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Almeri Siqueira e os voluntários que vão assumir a Casa do Idoso, no Pinheirinho: plano de gestão traçado por especialistas| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Comunicação

Campanha por mais voluntários

Os números da ONG Socorro aos Necessitados mostram a dimensão da instituição que atende idosos e crianças em situação de vulnerabilidade social há quase 90 anos em Curitiba. São três frentes de trabalho: o Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, com 100 moradores fixos, mais 20 atendidos diariamente no Centro Dia e a creche Pequeno Reino, com 110 crianças de 2 a 6 anos em período integral. Os cem funcionários da instituição precisam de voluntários para dar conta de todas as rotinas. "Hoje temos 150 pessoas cadastradas para o voluntariado aqui. Mas só a metade é ativa. Se todas participassem, já seria suficiente", explica Larissa Araújo, coordenadora de marketing da ONG.

Conquistar voluntários foi a missão dada à Interage, agência de publicidade experimental formada por alunos da Unibrasil. Eles assumiram a tarefa de criar uma campanha publicitária para tevê, rádio e impresso. "É o maior trabalho do qual já tive oportunidade de participar, em sete meses que estou aqui. E é uma excelente oportunidade de aliar experiência profissional com desenvolvimento pessoal", diz Marina Flavia Krug, aluna do 8º período de Publicidade.

Além do filme para tevê, que deve ser veiculado dentro de uma proposta de mídia gratuita, a agência está elaborando chamadas para rádio e todo o material impresso de cartazes e folders. A campanha deve entrar no ar no início de dezembro. (APF)

  • Internos do Recanto do Tarumã são estrelas da campanha por mais voluntários, criada pela Interage, da Unibrasil
  • Alunos da Unibrasil trabalham na agência Interage: parceria com o IGRPCom

Oito dígitos aleatórios no telefone e a professora aposentada Almeri Siqueira de Siqueira, 61 anos, cumpria a rotina diária de pedir donativos para a Casa do Idoso Portador de Deficiência Visual. Foi assim que conquistou os poucos sócios contribuintes para fundar e manter a instituição que administra a casa, comprada com recursos próprios para abrigar velhinhos carentes e cegos que, como ela, precisam de suporte para fazer as atividades diárias sem poder contar com familiares. Em dez anos de dedicação ao projeto, Almeri fez todos os malabarismos ao seu alcance – e muitos que superam seus próprios meios – para realizar o sonho de promover assistência digna a idosos sem visão, mas viu tudo estagnar por problemas de administração e gestão que fugiram do seu controle. A casa foi fechada há três meses por falta de dinheiro para cumprir exigências determinadas pela Vigilância Sanitária municipal. O desafio da instituição é se viabilizar administrativamente para levantar recursos e retomar o projeto.

Com capacidade para dez a 12 internos, localizada no bairro Pinheirinho, em Curitiba, a casa foi comprada com o dinheiro da venda de outros dois imóveis de Almeri, depois da morte do marido. Amigos ajudaram nos trâmites legais da negociação, bem como na reforma para as adaptações físicas necessárias. Também assumiram a administração dos recursos que a professora conseguia com a venda dos livros de poesia que escreve, em bazares beneficentes, das doações que arrecadava na peregrinação telefônica e em gabinetes políticos.

Gestão

Boa vontade não faltou, tanto para a mentora do projeto quanto para seus colaboradores. Faltou, sim, foi conhecimento de gestão e administração. "Verdade que falta tempo para dedicar ao projeto a atenção que ele merece e exige. O que temos feito é gerir interinamente a instituição, muitas vezes colocando dinheiro do bolso e recorrendo aos sócios contribuintes, até que a nova diretoria assuma o comando", explica o empresário João Guilherme Cardoso de Melo, presidente interino da entidade.

Melo assumiu o cargo para substituir o antigo presidente, que renunciou. E pegou o bonde andando. Foi durante a sua gestão, nos últimos seis meses, que a casa acabou fechada por inadequações às normas técnicas. Almeri e mais dois internos precisaram sair do local. "A residência tem capacidade máxima para 12 pessoas. Mas exige-se lavanderia industrial, por exemplo, que vai consumir cerca de R$ 50 mil em equipamentos", diz. "Tínhamos todos os outros requisitos em dia, com número de funcionários e equipe de assistência. Sem dinheiro para as adequações, o jeito foi fechar."

Sair da casa foi uma decepção para Almeri, vice-presidente da entidade, que quer retomar as atividades da instituição para conseguir arcar com as despesas mensais de R$ 8 mil, entre salários, manutenção e prestação do imóvel. Conseguiu o apoio voluntariado na comunidade religiosa que frequenta, a Igreja Apostólica Efatá do Brasil, cujo ministério é voltado à assistência a portadores de necessidades especiais e minorias, como drogaditos e prostitutas. Até então, amealhava seus colaboradores no bairro onde a Casa está instalada, sem conseguir muitas adesões e com critérios frágeis de seleção. "Fazia o cadastro das pessoas interessadas em ajudar. Mas nem sempre deu certo", conta. Os pastores e fiéis da igreja aguardam uma assembleia da atual diretoria, que deve ser realizada dia 10 de dezembro, para transferência de cargos e funções.

Plano

Em paralelo à transferência da diretoria, a instituição também deve receber nas próximas semanas uma valiosa contribuição: um plano estratégico para administração financeira e de gestão de pessoal. O trabalho está sendo realizado por executivos voluntários que participam do Programa Uaná, do Instituto Superior de Adminis­tração e Economia e Fundação Getulio Vargas (Isae/FGV).

O diagnóstico e o plano de ação devem tirar a condição amadora da administração da entidade, recorrente em organizações não governamentais. "É comum as próprias instituições não identificarem suas deficiências. Muitas são surpreendidas quando o plano de ação é apresentado, porque não tinham visto determinada situação como problema", explica Ângela Finck, integrante do Uaná. Dois voluntários cumprem pelo menos oito horas semanais de trabalho e, ao final de oito encontros, em média, conseguem fazer o diagnóstico e traçar o plano de ação. Depois, acompanham o resultado.

A avaliação da casa foi iniciada há pouco mais de um mês. A experiência é uma via de mão dupla. Quem participa do projeto também agrega conhecimento. O administrador de empresa Nelson da Silva Júnior, 29 anos, cursa MBA em gerenciamento de projetos e entrou na consultoria da casa do idoso há três semanas. "Aproveito para aplicar o meu conhecimento técnico, desenvolver habilidades e retomar o trabalho de voluntariado, que é sempre gratificante", afirma.

Canal de cidadania a serviço da sociedade

Fazer a ponte entre instituições e a assessoria técnica em diferentes áreas é uma das ações do Instituto Grupo Paranaense de Comunicação (IGRPCom). Entre outras atividades, o IGRPCom oferece o canal Serviços e Cidadania, onde mantém o cadastro das entidades de assistência social e os parceiros interessados em contribuir com trabalhos voluntários. Foi assim que a Casa do Idoso Portador de Deficiência Visual e a Socorro aos Necessitados tiveram acesso a consultorias especializadas nas áreas de gestão administrativa e comunicação.

Lançado em maio deste ano, o serviço tem 84 ONGs e 75 parceiros cadastrados. E o recorte dentro desse universo mostra como o setor precisa de mais capacitação técnica e profissionalismo. Do total cadastrado, só metade tem a documentação regulamentar em dia. Só assim as instituições podem formalizar seus pedidos – que atendem exclusivamente as consultorias e assessorias técnicas, sem suporte financeiro. Atualmente, 16 serviços estão em fase de execução e outros oito pedidos estão sendo encaminhados entre os parceiros disponíveis.

Parceiros

Na outra ponta, há pessoas físicas e jurídicas interessadas em participar. A ideia é unir o tempo e o conhecimento disponíveis de um à necessidade do outro. O trabalho do IGRPCom é identificar quem vai atender à solicitação da entidade, a partir das competências e técnicas que o candidato a voluntário oferece no cadastro. E também aqui há triagem dos interessados: 31 dos cadastrados são ativos, sendo a maior parte – 22 – de pessoas jurí­dicas, como a Fundação Getulio Vargas e a Unibrasil.

Serviço:

No site www2.rpc.com.br/novoinstituto/servicos/servico-social, parceiros e ONGs podem conferir quem já participa do projeto e têm acesso aos procedimentos necessários para fazer os cadastros. (APF)

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