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Queixa de um leitor: "Ao contrário de décadas atrás, hoje os brasileiros usam apenas o mas e o só que. Ignoram a existência de contudo, todavia, entretanto e no entanto. Nossa língua está ficando cada dia mais pobre".

O leitor tem razão quanto à preferência dos itens adversativos mas e só que pelos brasileiros (ou 99,99% deles) nos registros orais: "Ele me chamou pra ir na festa, só que eu tinha compromisso / mas eu tinha compromisso". O mas figura também como a conjunção padrão na linguagem jornalística, escrita e falada: "O secretário disse que a criminalidade diminuiu, mas não apresentou números".

Os itens contudo, todavia, entretanto e no entanto são bem produtivos em textos formais: revistas acadêmicas, editoriais de jornais, teses, textos jurídicos e de outras áreas que exigem uma variedade do que chamamos língua padrão. Em comunicações orais extremamente formais (discurso de formatura, leitura de voto de um ministro do Supremo, por exemplo) também é comum o uso dessas palavras. Contudo, esse tipo de comunicação não pode ser classificado, a rigor, como um exemplo de gênero falado, pois sempre parte do texto escrito.

Portanto, ao contrário do que afirma o leitor, uma grande parcela dos brasileiros com bom letramento não ignora a existência desses itens; apenas faz a escolha de quando usá-los.

Toda língua muda contínua e regularmente, e isso não é sinônimo de pobreza. É natural que palavras de décadas passadas não sejam mais usadas em nossos dias – ou sejam menos produtivas. O português é língua materna de mais de 250 milhões de falantes; milhares de falantes de outras línguas estão estudando nosso idioma. Onde está a pobreza dessa língua?

Nosso grande desafio é aumentar cada vez mais o grau de letramento dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres. E isso vai muito além de conhecer essa ou aquela palavra, algo que aconteceria naturalmente.

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