Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Águas de junho

Sob a água, União da Vitória teme repetição da cheia de 92

Estima-se que 40% da cidade, que tem 53 mil habitantes, esteja alagada. O nível da água deve levar 15 dias para baixar | Marcelo Andrade
Estima-se que 40% da cidade, que tem 53 mil habitantes, esteja alagada. O nível da água deve levar 15 dias para baixar (Foto: Marcelo Andrade)
O professor Dago Woehl monitora as águas do Iguaçu. Nem ele esperava um estrago como o registrado em 1992 |

1 de 18

O professor Dago Woehl monitora as águas do Iguaçu. Nem ele esperava um estrago como o registrado em 1992

Carlos, 13 anos, transporta a família em um pequeno bote. Em União da Vitória, quase todo mundo tem um |

2 de 18

Carlos, 13 anos, transporta a família em um pequeno bote. Em União da Vitória, quase todo mundo tem um

Na foto, Manoel Leandro Rodrigues, 70 anos, o

3 de 18

Na foto, Manoel Leandro Rodrigues, 70 anos, o

Como as enchentes são comuns em União da Vitória, moradores costumam ter barcos em casa. No bairro Navegantes como em outras regiões alagadas, pelo toque de recolher, a população circula só até as 20 horas |

4 de 18

Como as enchentes são comuns em União da Vitória, moradores costumam ter barcos em casa. No bairro Navegantes como em outras regiões alagadas, pelo toque de recolher, a população circula só até as 20 horas

Na foto, a Igreja no bairro Navegantes, construída em formato de barco por antigo morador cuja família ainda reside no local. A edificação também foi atingida pelas chuvas |

5 de 18

Na foto, a Igreja no bairro Navegantes, construída em formato de barco por antigo morador cuja família ainda reside no local. A edificação também foi atingida pelas chuvas

Exército trabalha com a Defesa Civil na entrega de donativos para as famílias |

6 de 18

Exército trabalha com a Defesa Civil na entrega de donativos para as famílias

Vista geral da cidade que teve 40% da área tomada pela enchente |

7 de 18

Vista geral da cidade que teve 40% da área tomada pela enchente

Bairro ao lado da Ponte de Ferro, na divisa com Porto União, a

8 de 18

Bairro ao lado da Ponte de Ferro, na divisa com Porto União, a

Na foto, ruas e casas alagadas no Bairro São Bernardo |

9 de 18

Na foto, ruas e casas alagadas no Bairro São Bernardo

O professor e pesquisador Dago Woehl, presidente da ONG Sec-Corpreri, monitora incessantemente o Rio Iguaçu.

10 de 18

O professor e pesquisador Dago Woehl, presidente da ONG Sec-Corpreri, monitora incessantemente o Rio Iguaçu.

Criança brinca em rua alagada no bairro do Limeira |

11 de 18

Criança brinca em rua alagada no bairro do Limeira

Rodovia BR-476, perto de União da Vitória |

12 de 18

Rodovia BR-476, perto de União da Vitória

Donativos chegam à população do bairro do Limeira, um dos mais carentes e afetados do município |

13 de 18

Donativos chegam à população do bairro do Limeira, um dos mais carentes e afetados do município

Casa inundada no bairro do Limeira |

14 de 18

Casa inundada no bairro do Limeira

Casa inundada no bairro do Limeira |

15 de 18

Casa inundada no bairro do Limeira

O Prefeito de União da Vitória, Pedro Ivo, recebeu o governador Beto Richa |

16 de 18

O Prefeito de União da Vitória, Pedro Ivo, recebeu o governador Beto Richa

Salão paroquial da Igreja do bairro Navegantes. Três famílias estão abrigadas no local |

17 de 18

Salão paroquial da Igreja do bairro Navegantes. Três famílias estão abrigadas no local

Na foto, Manoel Leandro Rodrigues, 70 anos, o

18 de 18

Na foto, Manoel Leandro Rodrigues, 70 anos, o

O presságio de mais chuva, trazido por nuvens que encobriram União da Vitória ao amanhecer de ontem, tirou o sono do professor Dago Woehl, por volta das 6 horas da manhã. Em uma folha de almaço, ele anotou à caneta o nível do Rio Iguaçu dia a dia, nos meses de julho de 1983 e junho de 1992, tentando achar um número importante: qual o volume máximo de chuva pode cair desta vez, para que a situação da cidade – que já é a mais arriscada do Paraná – não se agrave.

Desde domingo, União da Vitória vive uma enchente de proporções semelhantes às do último grande evento do tipo, registrado em 1992. Quem estava lá, há 30 anos, sabe bem que o mais importante agora é não atingir a marca histórica de 1983, quando o Iguaçu chegou a 10,42 metros (em situações normais, o nível médio é de 2,75 metros). "Em 83, choveu 800 milímetros; em 92, 280 milímetros, praticamente a mesma coisa de 2014. Em dois dias, tivemos uma chuva equivalente a dois meses", resume Woehl, que é presidente da Ong Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção Contra Cheias do Rio Iguaçu (Sec-Corpreri).

"No domingo, 10h30, começamos a ir às rádios avisar que o rio ia chegar a sete metros, às 7 da manhã [da segunda]. Quem acreditou saiu de casa", conta. A previsão – como mais tarde a cidade percebeu – era otimista demais. A chuva foi tanta que o nível passou a subir uma média de 12 centímetros por hora, chegando a 8,01 metros.

Na entrada da cidade, a igreja do bairro Navegantes, construída sugestivamente em forma de barco, "navega" ao lado das casas, tomadas por água até o telhado. Quem mora em sobrado ainda resiste no segundo andar, mas precisa de um bote para sair de casa. "Estamos morando aqui, mas, como o fornecimento de luz foi cortado, vamos tomar banho na casa de parentes", conta a professora Marcela Mazur, 25 anos, ao sair do barco, com uma sacola de roupas. "Eu moro no andar de baixo, por isso, perdi tudo. Mas a família vai voltar quando a água baixar", garante.

O sobrinho dela, Carlos André Rodrigues, 13 anos, é o responsável por transportar a vizinhança – quase todos parentes – no barquinho a remo da família. "Fui criado nas chuvas, estou acostumado." Ter um bote é comum entre moradores de União da Vitória, onde as enchentes são bastante frequentes. Mas, nessas proporções, garantem, talvez só a de 1992 mesmo. "No domingo de manhã, não tinha água e, à noite, estava tudo cheio. É difícil o rio chegar a sete metros, mas, dessa vez, chegou a oito", conta a técnica em enfermagem Gisele Ferreira de Paula, 23 anos. "Não tinha como fazer nada. É normal que o nível suba um ou dois centímetros por hora, mas domingo subiu 11. Quando chegou a três, já pensamos ‘meu Deus’."

Mesmo com os transtornos constantes, deixar o bairro não é alternativa cogitada pelas famílias. "Meu falecido avô construiu essa igreja, temos uma história aqui", afirma Carlos. No pavilhão da paróquia, onde são feitas as festas, a tia dele – a dona de casa Lourdes Pires do Prado, 55 anos – encontrou abrigo, com o marido, uma senhora de 72 anos e outras duas famílias. "Trouxe o que deu. Já havia perdido coisas na de 92, nas outras, nem tanto. Mas minha casa é antiga, de madeira. Dessa vez, deve ter abalado a estrutura, acho que não vai aguentar", lamenta ela, de cima do telhado.

Entre morros, região é propícia a inundações

Para o pesquisador Dago Woehl, a enchente só não foi mais arrasadora porque a represa de Foz do Areia, porta de entrada das usinas hidrelétricas do Rio Iguaçu, estava 29 metros abaixo do nível máximo, quando começou a chover forte, na madrugada de sábado passado. "Se estivesse cheio lá, a situação seria drástica. Ainda hoje [ontem], a usina está operando com 6 metros de água abaixo do nível de operação. Em função do volume, o foco é manter Foz do Areia 8 metros abaixo, por meio dos vertedouros."

Na semana passada, o nível do Rio Iguaçu era de pouco mais de um metro. Na manhã de ontem, as réguas instaladas ao lado de uma ponte em Porto União – a gêmea catarinense de União da Vitória – mostravam 7,95 metros de água. "Quando cai uma gota em Curitiba, leva sete dias para chegar aqui. Da foz do Rio Negro para cá, são 24 horas. Por isso, começamos a avisar a população", diz Woehl. Segundo ele, as enchentes no município são decorrentes de fatores geográficos. "É uma área de várzea, terrenos planos, com morros dos lados, que acumulam um grande volume de água. São 26 quilômetros de estreitamento do rio, em curvas, até Porto Vitória. Então, a água vai espraiando", explica.

União da Vitória

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Tudo sobre:

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.