Depressão
Afastada há três anos
Com diagnóstico de depressão, a professora de língua portuguesa Nilza Teresinha Dal Moro, 46 anos, de Foz do Iguaçu, está afastada da sala de aula desde 2006. A doença começou a se manifestar aos poucos. O primeiro sintoma foi a falta de sono. A professora passava noites sem vontade de dormir. Com o passar do tempo, o quadro clínico foi se agravando e ela foi obrigada a deixar o trabalho, apesar de gostar muito de dar aula. "O professor faz parte da história do aluno", diz.
Para Nilza, alguns fatores contribuíram para o quadro, os principais deles, segundo ela, foram a quantidade de alunos na sala, as cobranças de cima para baixo, a falta de respeito dos alunos e o calor insuportável. "Eu sempre fui muito perfeccionista e levava a aula certinha para os 50 minutos, mas não conseguir dar 10 minutos", diz. Nilza ressalta que, apesar das dificuldades, sempre teve apoio de colegas.
Secretaria questiona
A diretora de Administração Escolar da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Ana Lúcia Schulhan, reconhece os problemas enfrentados pelos professores, mas diz que a classe não é a única a ter dificuldades porque cada profissão tem suas consequências funcionais. Ela diz que desconhece a pesquisa da APP-Sindicato e questiona a representatividade da investigação porque atualmente há 22 mil funcionários e 101 mil professores nas escolas públicas.
Segundo a diretora, em 2005 foi feito um diagnóstico com 62 mil professores em razão do grande número de afastamentos e problemas relacionados às dificuldades com voz. Verificou-se que apenas 11% dos professores tinham doenças pré-existentes relacionadas à voz. Os demais problemas eram decorrentes da má postura; uso de roupas apertadas; uso inadequado da voz e maus hábitos alimentares. "A maioria dos professores tem maus hábitos e estresse causado pela convivência entre os pares, disputas de poder", diz.
A partir do resultado da pesquisa, a Seed elaborou um programa de saúde para os professores com orientações de especialistas.
A secretaria informou que abrirá nova contratação de profissionais pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) e que continua chamando os aprovados no último concurso público. Quanto à hora-atividade, a Seed diz que o aumento para 50% implicaria uma elevação de custos significativos, uma vez que obrigaria a contratação de um número grande de profissionais para suprir a demanda gerada. Esse aumento comprometeria o orçamento do Estado, infringindo a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Em relação ao número de alunos em sala de aula, a secretaria diz ter planos de redução a médio prazo.
Foz do Iguaçu - Salas de aula superlotadas, assédio moral e o desrespeito de alunos são os vilões que mais contribuem para adoecer e afastar professores e funcionários das escolas públicas do Paraná. Conforme levantamento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP Sindicato), no primeiro semestre do ano passado, 29,88% de um universo de 7.612 professores e funcionários da rede pública estadual deixaram de trabalhar por um ou mais dias. Desse total, 36% ficaram doentes em decorrência das más condições de trabalho. Outros 22% faltaram por estresse, 6% alegaram estar com doenças osteomusculares e 35% pediram licença por outros motivos.
Conforme a pesquisa, os 36% dos professores e funcionários afastados pelas más condições de trabalho adquiriram doenças relacionadas a inúmeros fatores, entre eles, ruídos na escola muitas vezes causados pela proximidade das quadras esportivas das salas de aula ; problemas de voz decorrentes da necessidade de controlar muitos alunos em sala e complicações na coluna provocadas por móveis inadequados usados por funcionários da administração.
Segundo o técnico em segurança do trabalho da APP, Edevalter Inácio Bueno, os ruídos em excesso podem gerar perda auditiva e dores de cabeça. Até mesmo a má ventilação, em salas de aula e na cozinha, prejudica os trabalhadores. Há casos de merendeiras que trabalham em ambientes com calor de 40ºC onde não há ventilação adequada.
O sindicato ainda diz que os professores não suportam o ritmo de trabalho intenso, que para alguns pode chegar a três turnos. Aulas para preparar, provas para corrigir e o desafio de controlar mais de 40 estudantes em sala são exigências que acabam comprometendo a saúde.
Alguns professores, com problemas de estresse, apresentam a Síndrome de Burnout, conhecida como síndrome da desistência, na qual o educador perde todo o estímulo em continuar trabalhando. Já as doenças osteomusculares atingem principalmente funcionários em razão de atividades repetitivas, tais como limpar vidros e varrer. Como consequência, há inúmeros casos de bursites.
O professor e secretário de saúde da APP Idemar Vanderlei Beki, diz que há três reivindicações da categoria fundamentais para reverter o quadro: reduzir o número de alunos por turma, aumentar a hora-atividade dos professores e adequar a quantidade de estudantes das escolas ao número de funcionários e profissionais da área de pedagogia.
A redução do número de alunos em sala de aula é uma bandeira antiga dos professores. Eles reivindicam 20 alunos por sala de 2.ª a 4.ª séries, 30 para 5.ª a 8.ª séries, e 35 para o ensino médio.
Quanto à hora-atividade período em que o professor prepara as aulas e faz pesquisas a categoria quer aumento dos atuais 20% para 50%. "A maioria dos professores trabalha 40 horas e tem 8 de hora-atividade. O ideal seria 50%, ou seja, o professor trabalhar um turno e no outro dedicar-se a estudos e ficar à disposição do atendimento de alunos", salienta.
Para a categoria, é preciso adequar o número de alunos ao número de funcionários porque os trabalhadores estão sobrecarregados. No Colégio Monsenhor Guilherme, em Foz do Iguaçu, segundo a APP, há três funcionários para limpar 18 salas de aula e as dependências da escola.
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