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tragédia

Sobrevivente da Boate Kiss vive rotina de tratamentos médicos

 | Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil /
(Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil /)

Quando ocorreu o incêndio na Boate Kiss, há três anos, a publicitária Aline Henriques Maia trabalhava, cuidava da filha, à época com 6 anos, e saía para se divertir com o marido em festas como a que era realizada naquele dia na casa noturna. Hoje, Aline não consegue mais trabalhar nem frequentar ambientes fechados ou que tenham muita gente, sequelas deixadas pelo episódio e pela inalação de fumaça tóxica, liberada pelo contato das chamas com o material de proteção acústico da boate. A fumaça venenosa foi a maior responsável pela morte de 242 pessoas naquele 27 de janeiro.

A danceteria tinha as janelas dos banheiros lacradas, apenas uma porta de saída que era fechada por barras de ferro e nenhuma rota de fuga em caso de acidentes. O pânico generalizado associado à desorientação das pessoas sobre a saída da boate e à fumaça tóxica fizeram o ambiente ser comparado a uma câmara de gás à época.

Aline é uma das 636 pessoas que sobreviveram ao incêndio, causado por um artefato pirotécnico usado por integrantes da banda que se apresentava no dia. Ela conta que sua rotina mudou completamente desde então.

“Minha vida mudou muito. Minha semana agora é voltada toda para médicos, tenho que me cuidar mais que a maioria das outras pessoas, fora os lugares que não consigo mais ir”, diz.

As vias áreas e os pulmões foram os mais afetados. Por causa disso, crises de falta de ar e tosse são constantes. Além disso, a publicitária enfrenta problemas psicológicos e, em decorrência das deficiências pulmonares, tem sérios problemas de imunidade que a fizeram parar de trabalhar. A rotina agora inclui um périplo por médicos das mais diversas especialidades.

“Faço fisioterapia respiratória três vezes por semana, vou à psicóloga uma vez por semana e ao psiquiatra uma vez por mês. Também vou ao pneumologista uma vez por mês quando estou sem crises, quando tenho crises vou semanalmente ou mais, a depender da intensidade. Também faço acompanhamento com neurologista porque sinto dores de cabeça fortíssimas e tenho problemas de memória e ao otorrinolaringologista porque minhas cordas vocais queimaram e eu fiquei com problemas de refluxo também”, conta.

Todos os tratamentos e remédios são custeados pela própria vítima. “No começo deixei o emprego para me cuidar. Depois tentei voltar, mas com esse problema de [falta de] imunidade eu pegava qualquer doença que alguém próximo a mim tivesse. Então, o médico achou que era melhor eu me afastar de novo até que eu fique melhor”, conta.

Até o último mês, a publicitária arcava com todos os custos das medicações porque o sistema público de saúde de Santa Maria não tinha a maior parte dos remédios para fornecer. Agora, começou a receber um valor do governo estadual para ajudar com os gastos. “Eu entrei na Justiça, por meio da Defensoria Pública, para conseguir os medicamentos e como nunca tinha disponível aqui, eles tiveram que passar a me dar o dinheiro para comprar”, explica.

Com problemas de saúde e financeiros para administrar, Aline conta que seu foco deixou de ser a cobrança de punição aos responsáveis pelo incêndio. “Até pouco tempo eu sentia muita revolta, mas com o passar dos anos, os tratamentos, eu tinha uma filha para cuidar, então hoje meu foco é ficar boa para cuidar dela. Mas é claro que a gente fica muito indignado, com muita raiva, por tudo que a gente passou, ver tantos pais que perderam seus filhos e não ver nenhuma punição, nada”, diz.

Atualmente, Aline e o marido, Francisco Godinho Pinto, que também esteve na boate, mas não teve sequelas apesar de uma bronquite logo após a tragédia, fazem parte de um grupo de centenas de pessoas que processa individualmente os responsáveis pela casa noturna na esperança de serem indenizados.

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