| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Stanislaw, o

O polonês Stanislaw Skar­zynski temia entrar para a história como um fracassado. O piloto de 34 anos driblou imprensa, curiosos e o risco de virar chacota por um possível desastre para decolar do aeroporto de Varsóvia em direção à França. Lá, conferiu o peso do avião – eram 450 quilos redondos – e seguiu rumo à África.

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A meta era bater um recorde: cruzar o Oceano Atlântico em um avião monomotor de pequeno porte. Os riscos, constantes. Todo peso excedente, por exemplo, deveria ser evitado para a colocação de um tanque extra de combustível. Por isso, Stanislaw teve de abrir mão de qualquer equipamento de segurança. Não havia rádio, nem paraquedas. Bote salva-vidas muito menos. Sua bagagem? Duas maletas. Uma com roupas, outra com mapas.

A viagem

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Há 80 anos, em maio de 1933, Stanislaw saiu de Saint-Louis, em Senegal, e partiu com destino a Maceió, em Alagoas. Após 20 horas de voo e 3,6 mil quilômetros de travessia, o polonês obteve o recorde mundial de voo em linha reta, sem aterrissagem, feito com um avião de segunda categoria.

O Aventura teve apoio do governo polonês, que queria estreitar os laços com a comunidade polonesa no Brasil. Um ano antes do voo, Stanislaw e outros pesquisadores se debruçaram em livros e mapas para que o plano saísse do papel.

Muitos estudos de rotas e de clima foram necessários para dar segurança a Stanislaw. Mas nem isso evitou que o piloto encarasse fortes neblinas durante a viagem, forçando o "Águia Polonesa", como passou a ser conhecido, a sobrevoar em altitudes baixas – algumas vezes a apenas 50 metros da superfície do mar.

Stanislaw ficou em território brasileiro até julho e visitou diversas cidades. Passou por Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Santos e estendeu a viagem para Buenos Aires, capital argentina.

Quando chegou ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, visitou o presidente Getúlio Vargas. Em seguida, voou para Curitiba. Ao aterrissar na capital paranaense, um pequeno acidente deteriorou parte de uma das asas do avião.

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Isso não impediu uma festa de dez dias que incluiu desfiles em carro aberto pela cidade, visitas a autoridades e em sociedades polonesas. Stanislaw ainda foi até Ponta Grossa, Mallet e Irati. Em junho, com o avião em ordem, o polonês seguiu sua peregrinação pela América do Sul, passando por Porto Alegre e Buenos Aires.

O plano tornou-se mais audacioso. O governo da Polônia queria que Stanislaw chegasse aos Estados Unidos. Durante uma viagem de Porto Alegre para o Rio de Janeiro, o pequeno monomotor mostrou sinais de cansaço. Um vazamento de óleo o obrigou a uma breve parada em Santos.

O Águia Polonesa trocou, enfim, o céu pelo mar. No final de julho, ele embarcou junto com o avião em um navio rumo à Polônia, onde foi recebido. De braços abertos.

O fim"Águia Polonesa" morreu durante a Segunda Guerra, aos 53 anos

Após a façanha histórica de atravessar o Atlântico com um avião tão pequeno, Stanislaw encarou a Segunda Guerra Mundial. Começou a defender seu país, junto com França e Grã-Bretanha, em 1939. A luta era contra os alemães. Mas em junho de 1942, quando regressava de uma investida em Bremen, na Alemanha, sua aeronave foi atingida.

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O cônsul-geral da Polônia em Curitiba, Marek Makowski, conta que o piloto ainda conseguiu fazer um pouso de emergência no Mar do Norte. "Toda sua tripulação conseguiu se salvar, mas ele morreu afogado", relata. Stanislaw tinha 53 anos.

Makowski afirma que o Águia Polonesa é um herói para o país. "Foi um grande aviador, audacioso, que defendeu a Polônia", afirma o cônsul.

Poloneses no Brasil

Segundo o cônsul-geral da Polônia em Curitiba, Marek Makowski, existe hoje 1,5 milhão de descendentes poloneses morando no Sul do Brasil. O primeiro grupo de imigrantes chegou ao país em 1869 e se instalou em Brusque, Santa Catarina. "Após um ano, os cerca de 30 poloneses que saíram de lá vieram para Curitiba morar na então colônia Pilarzinho", conta o cônsul. A última imigração em massa para o Brasil aconteceu em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada de aproximadamente 20 mil "polacos."

Exposição tem documentos e fotos da proeza

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Para quem quiser saber mais sobre as aventuras do polonês aviador, uma boa oportunidade: com curadoria de Dulce Osinski e Everly Giller, a exposição Um Intrépido Polonês em Céu Brasileiro: o Feito Ex­traor­dinário do Aviador Sta­nislaw Skar­zynski está em cartaz e fica aberta ao público até o dia 3 de junho no Museu Paranaense, no Centro de Curitiba.

A mostra traz a história de toda a viagem do aviador polonês com reproduções fotográficas, documentos e recortes de jornais da época. Há também uma maquete confeccionada por Axel Giller que reproduz uma réplica da aeronave RWD-5bis, utilizada pelo piloto, e um selo postal comemorativo, além de cartazes criados pela artista plástica Everly Giller.

A exposição é uma realização do Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba e da Casa de Cultura Polônia Brasil.

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Serviço:

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Exposição: Um Intrépido Polonês em Céu Brasileiro: o Feito Extraordinário do Aviador Stanislaw Skarzynski. Museu Paranaense (R. Kellers, 289), São Francisco. De terça a sexta-feira das 9 às 18 horas. Sábados e domingos, das 10 às 16 horas. Entrada franca.