As audiências públicas organizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para debater a legalidade da interrupção de gravidez em casos de anencefalia do feto foram encerradas nesta terça-feira (16). Ao fim do debate, o relator da ação, ministro Marco Aurélio Mello, disse, segundo o site da instituição, que a previsão é de que o processo seja julgado, pelos 11 ministros do STF, em novembro. No entanto, ele ponderou: "Há quem diga que sou otimista em excesso quanto à agilização da máquina judiciária."

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Ele lembrou que a ação esteve parada no STF por quatro anos, aguardando um momento propício para a realização das audiências públicas. Quanto à decisão, apenas afirmou que o STF visará à preservação da saúde física e psíquica da mulher. Esta foi a terceira audiência pública promovida na história da Corte. As duas anteriores aconteceram recentemente sobre pesquisa em células-tronco embrionárias e importação de pneus usados.

Mello considerou que a audiência foi "norteada pela espontaneidade e pela liberdade em seu sentido maior". E disse que, com os argumentos apresentados, chegará ao seu relatório e ao seu voto. "Sem elementos não há julgamento, não se julga", afirmou. De acordo com o STF, tudo o que foi falado durante as audiências será integrado ao processo com DVDs que serão encaminhados aos ministros do Supremo.

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No total, foram quatro dias de audiências públicas com representantes de 25 instituições, entre eles ministros de Estado e cientistas. De um lado, defensores do direito de as mulheres decidirem sobre prosseguir ou não com a gravidez de bebês anencéfalos. Do outro, aqueles que acreditam ser a vida intocável, mesmo no caso de um feto sem cérebro.

Dois lados

De acordo com informações do site do STF, durante a audiência pública de hoje, o médico psiquiatra Talvane Marins de Moraes, especializado em psiquiatria forense e medicina legal, comparou a obrigação de manter um feto anencéfalo no útero ao sofrimento causado pela tortura. "É como se o Estado estivesse promovendo tortura em uma mulher, que mais tarde pode apresentar um quadro grave de estresse pós-traumático", advertiu.

Ele comparou a falta de atividade cerebral de um feto anencéfalo à de uma pessoa com morte cerebral. "Não há ondas cerebrais no anencéfalo; não há manifestação, como na morte encefálica", disse. Ele informou que a anencefalia é a segunda malformação congênita mais comum, especialmente no Brasil, considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o quarto país do mundo com maior incidência de casos.

O especialista refutou a interpretação de que retirar um feto anencéfalo do útero seria um crime. "É um crime impossível porque o feto é considerado morto e depois disso é retirado. Não é um aborto que mata, mas um aborto que salva a vida da mãe de riscos desnecessários", declarou, lembrando que 75% dos fetos morrem dentro do útero - o que causa riscos para as gestantes.

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Já a ginecologista e obstetra Elizabeth Kipman Cerqueira defendeu a continuação da gravidez. "O feto é vivo seriamente comprometido quando nasce, com curtíssimo tempo de vida, mas está vivo", disse, de acordo com o site do STF.

A médica ainda avaliou que a mãe sofre risco durante a gravidez, mas o risco maior seria na antecipação do parto, que na verdade seria um trabalho de parto prolongado de três a onze dias de internação e que poderia causar ruptura interina e infecção. De acordo com ela, no caso de manter a gravidez, os problemas seriam 100% resolvidos, enquanto nas complicações da antecipação do parto as seqüelas seriam permanentes para a vida da mulher.