
A presença do fungicida carbendazim no suco de laranja brasileiro colocou o produto na mira da Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês). O alerta aconteceu em dezembro, depois que uma empresa americana informou às autoridades do país sobre a presença de 30 partes por bilhão (ppb) do agrotóxico no produto brasileiro, que agora está sendo testado pela FDA.
Usado nas lavouras de frutas cítricas do Brasil há 21 anos para o controle do fungo que provoca a doença conhecida como pinta-preta, o carbendazim é proibido nos EUA. Segundo o FDA, as amostragens de todos os carregamentos com suco importado começaram no dia 4 de janeiro. "Qualquer carregamento que contenha carbendazim em níveis superiores a 10 ppb será recusado", informa o site da agência americana. Até 12 de janeiro, porém, as amostras testadas não continham quantidades mensuráveis do fungicida.
Segundo a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, em inglês), produtos com até 80 ppb de carbendazim não prejudicam os consumidores. Porém, estudos feitos com animais mostram que o fungicida pode aumentar as chances de aparecimento de tumores de fígado, reduzir a fertilidade, provocar a morte do filhote no útero e causar deficiências.
Segundo Ângelo Trapé, professor de Saúde Coletiva e toxicologista do Centro de Controle de Intoxicações da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esses testes não apresentam respaldo científico. "Se houvesse risco para o homem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já teria feito um alerta para proibir o uso de carbendazim. Nos últimos 30 anos, não existem registros de intoxicações pelo consumo de alimentos com agrotóxicos no Brasil. A análise de resíduos feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra extrema segurança química", informa.
O professor da Unicamp revela que o fungicida centro da polêmica contém substância similar à uma outra usada em seres humanos como vermífugo. "A restrição americana não tem explicação do ponto de vista toxicológico", diz Trapé.
Regras internacionais
Em nota, o Ministério da Agricul- tura afirma que a quantidade de fungicida autorizada para produtos destinados à exportação segue o limite estabelecido pelo Codex Alimentarius programa conjunto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e da OMS que normatiza regras para a segurança dos alimentos em todo o mundo. "O Codex estabelece o limite de 1 mil ppb ou 1 mg de fungicida por quilo de citros", diz a nota.
"Tudo é veneno, dependendo da dose. Até remédios utilizados para tratar uma simples dor de cabeça. O carbendazim é autorizado para a cultura da laranja e os consumidores não precisam ficar receosos: em doses pequenas, o organismo dá conta de eliminar o químico", diz o patologista João Lauro Camargo, professor do curso de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Botucatu.