Condenada a 7 anos e 7 meses de prisão por tráfico de drogas, a sueca Falida Djonni Dahlgren foi eleita na noite desta quinta-feira (24) a Miss Beleza Internacional da Penitenciária Feminina da Capital, na zona norte de São Paulo. O concurso, apresentado por Raul Gil e Ana Hickmann, foi um dia de festas para as detentas, com direito a show com dançarinos sem camisa, que rebolavam embalados por músicas como “Lepo Lepo” e “Hit da Muriçoca”.
Um auditório foi improvisado no pátio para as detentas assistirem ao concurso. A festa tinha palco, iluminação profissional e até um backstage. Os trajes usados para os desfiles, como vestidos de gala e maiôs, foram doados por patrocinadores. Um cabeleireiro fez penteado e maquiagem em todas as 24 candidatas. Além de detentas paulistas, disputaram as faixas estrangeiras da Espanha, Paraguai, Moçambique, África do Sul, Inglaterra, Tailândia, Rússia e Venezuela. Na plateia, colegas animadas aplaudiam, torciam, cantavam alto e faziam corações com as mãos. No júri, figuras populares como a ex-chacrete Rita Cadillac, o humorista Ary Toledo e o músico Thobias da Vai-Vai e Marquito, atual vereador em São Paulo.
Aos 25 anos, a Miss Beleza do presídio, detida há seis meses, sonha em voltar para a Suécia e formar uma família. Procura não pensar que ainda faltam sete longos anos pela frente. - Estou muito feliz, surpresa. Passa muita coisa pela minha cabeça. Muitos sonhos para o dia de sair daqui. Quero rever parentes que ficaram lá no meu país e ter filhos - falou.
O representante do Consulado Geral da Suécia em São Paulo, Peter Johansson, acompanhou o concurso. A vencedora aproveitou seu momento de fama para fazer uma reivindicação ao diplomata: pediu um par de havaianas. O pedido, segundo o consulado, será atendido.
O concurso, aliás, chamou a atenção dos representantes dos consulados que estavam na plateia. - Não esperava um concurso tão organizado dentro de uma penitenciária. E elas se alegram, não é verdade?- disse Johansson.
O evento coroou ainda Rafaela de Cassia Cordeiro, 22 anos, também condenada por tráfico, como Miss Princesa. A faixa de Miss Simpatia ficou para Fatna Songambele, nascida na Tanzânia, África. Talvez inspirada pelo evento do qual participava pela primeira vez, disse que sonha em ser apresentadora da TV.
O carisma da reeducanda Ana Paula Correia, de 35 anos, garantiu nota máxima, um chapéu e o cetro de Mister Simpatia, categoria para as lésbicas da penitenciária. - A dois meses da liberdade, Ana Paula, conhecida como a “Furgão” no presídio feminino, pensa em abrir um restaurante. A Justiça concedeu o direito do regime semi-aberto. - Deu uma animada este concurso. Agora, quando passar pelo portão e sair daqui, quero construir uma família e montar meu negócio. Meu sonho é ter uma rede de restaurantes - revela Ana Paula, que cumpre pena também por tráfico.
As detentas mais velhas puderam disputar a faixa de Musa da Terceira Idade. No entanto, a boliviana que venceu não autorizou ter seu nome nem imagem divulgados.
Como prêmio, cada vencedora ganhou um kit de beleza e higiene - algo valioso na cadeia -, chocolates e flores.
Para aprender a desfilar como miss, as presas ensaiaram durante três meses, com direito a coordenador “artístico”, função desempenhada pelo cabeleireiro Julinho do Carmo. Durante a convivência na Penitenciária Feminina, do Carmo disse que ficou surpreso em saber que boa parte está atrás das grades por tráfico de drogas. - É o amor bandido, muitas em relacionamento com traficantes e que acabam se envolvendo com a atividade criminosa. Mas eu acredito na recuperação de muitas delas - declarou o cabeleireiro.
Ao lado de uma discreta Ana Hickmann, Raul Gil, há 40 anos participando de eventos em presídios tanto femininos quanto masculinos, sentia-se tão à vontade que não tinha papas na língua. Durante as quatro horas de concurso, ele chamou uma candidata venezuelana de “gostosa” e disse frases como “ você vendia whisky falso no Paraguai?”, “você é da Inglaterra, vem de longe para se lascar aqui?”
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