A cientista social e educadora Catarina Fernandes, 54 anos, não sabe ao certo o dia em que decidiu abrir uma "escolinha" como os Centros de Educação Infantil eram chamados. Mas sabe que faz tempo, provavelmente desde o dia em que se deu conta de que tinha aprendido a ler sozinha, aos 6 anos de idade, com muito prazer, inclusive, e que seria muito bom poder dividir a experiência com seus alunos.
Em 2001, depois de um longo planejamento financeiro e pedagógico, foi à luta. Diferentemente da maioria dos proprietários de escolas para crianças de zero a 6 anos, Catarina não alugou uma casa decidiu construir uma, no bairro do Capão Raso, com pouco mais de 200 metros quadrados. A primeira pedra encontrada pelo caminho, conta ela, foi a política dos dois pesos e duas medidas nas normas técnicas para colégios. "Meu banheiro tinha mais vasos sanitários do que outras escolas semelhantes. E não havia consenso sobre como devia ser o piso. Minha impressão era a de que os servidores da prefeitura não falavam a mesma língua", conta.
Quando os oito meses de martírio na construção civil acabaram, começou outro o dos entraves trabalhistas. Catarina cujo empreendimento tinha aprovação da Secretaria de Estado de Educação e selo de qualidade do Sindicato das Escolas Particulares sabia que teria rendimentos modestos em sua escola de 60 alunos. Mas não esperava encontrar tantas ciladas burocráticas depois de ter dado emprego a nove profissionais, sete deles professores. As obrigações trabalhistas funcionaram como uma pá de cal.
"Eu abri uma pequena empresa e tinha as mesmas responsabilidades do Colégio Madre Clélia, aqui do lado. É injusto", conta. Ao cabo de dois anos, por iniciativa da própria proprietária, a escolinha dos sonhos teve as portas fechadas, com dívidas a granel. Virou um pesadelo de R$ 80 mil, valor total de investimentos e, por ora, um trauma. "Acho que nunca mais vou querer ter uma escola. Não volto mais", lamenta a educadora.