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OMS quer reduzir casos até 2020

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte mais comum entre jovens, em todo o mundo. Como problema de saúde pública, a OMS estabeleceu metas para redução e prevenção ao suicídio no plano de ação da área de saúde mental para 2020. Em 17 anos, a expectativa é de que 80% dos países possuam pelo menos dois programas nacionais multissetoriais para promoção e prevenção da saúde mental. Além disso, a taxa de suicídio por 100 mil habitantes por país deve cair 10% até 2020.

A meta é ousada, mas a prevenção é importante. Por isso, a OMS pede que os governos criem seus planos de prevenção e mantenham atenção especial nos grupos de risco e naqueles em que prevalência do ato está aumentando. Outro ponto é a qualidade da informação: muitos países sofrem com a subnotificação dos casos. O organismo sugere que sejam calculadas as taxas de mortes por suicídio levando-se em conta a idade, a representatividade desse grupo perante a população e condições socioeconômicas.

Onde buscar ajuda

Centro de Valorização da Vida: 141; (41) 3342-4111 (Curitiba); (43) 3356-4111 (Londrina) e www.cvv.org.br. Em Curitiba, basta procurar uma unidade de saúde ou um dos Caps.

Em 2012, ao menos 804 mil pessoas em todo o mundo cometeram suicídio, uma média de 11,4 mortes a cada cem mil habitantes ou uma morte a cada 40 segundos. A estimativa é da Organização Mundial da Saúde (OMS) e foi divulgada no início de setembro com a ressalva de que os números podem estar subestimados. O fato é que o suicídio precisa de atenção como problema de saúde pública que pode ser prevenido. Mas falar sobre o assunto ainda esbarra em desinformação. Em Curitiba, a secretaria municipal de saúde lança hoje o seu próprio programa de prevenção ao ato, com foco na capacitação dos profissionais de saúde, acolhimento e acompanhamento dos pacientes e linha telefônica de acesso.

INFOGRÁFICO: Confira a taxa de suicídios no Paraná

O diretor do De­par­ta­mento de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Kimati, explica que a capacitação começa agora e que os serviços devem ser oferecidos à população a partir de dezembro. O objetivo principal é diminuir a mortalidade por suicídio na capital fazendo um acompanhamento sistemático dos pacientes mais vulneráveis, especialmente os que já tentaram alguma vez ou possuem transtorno mental.

Além disso, devem ser criados centros de referência de acolhimento para esses pacientes, um programa de acompanhamento específico e uma linha de cuidado para as pessoas que têm ideação ao suicídio. Serão quatro eixos de atuação. O primeiro é a capacitação dos profissionais de saúde, desde os funcionários de postos de saúde até os que atuam em urgência e emergência. A prefeitura também vai criar serviços de referência, que atuam sete dias da semana, durante 24 horas. A novidade é que haverá treinamento para enfermagem e um plantão técnico de atendimento telefônico. Outro passo é criar uma linha de acompanhamento ao paciente que tentou o suicídio, por sete, 30 e 180 dias. Por fim, haverá uma linha de cuidado que vai garantir o acesso desses pacientes à rede.

Na capital, mesmo antes da implantação desse programa, houve um avanço com a ampliação do horário de funcionamento dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), sobretudo os que fazem atendimento a pacientes com dependência de drogas e álcool. Até 2016, a expectativa é de que até 11 serviços operem 24 horas. O aumento dos leitos nessas unidades também traz benefícios: são quatro mil internações a mais por ano, diz Kimati.

Para a psiquiatra Sa­bri­na Stefanello, da Fun­da­ção Estatal de Atenção Es­pecializada em Saúde de Curitiba (Feaes), é preciso dar opções de onde buscar ajuda. "O Caps é a retaguarda do setor de saúde mental, é um acesso direto, sem barreira. Às vezes, quem está mais vulnerável ou tem uma vida estruturada e passa por problemas acaba achando a unidade básica, a atenção primária, como porta de entrada mais fácil", pontua. Por isso, facilitar o acesso ao sistema de saúde é tão importante como estratégia de prevenção.

Brasil

Em 2006, o Ministério da Saúde criou um manual, dirigido a equipes de saúde, para orientar a atuação desses profissionais na prevenção ao suicídio. Apesar de adequadas, as diretrizes ficaram na gaveta. "Com raríssimas exceções, e apenas em planos municipais, não há programa federal nem estadual que inclua a prevenção ao suicídio", critica o psiquiatra José Manoel Bertolote, professor na Unesp Botucatu. Ele cita o exemplo do município do interior paulista, cujo Caps fica aberto das 8 às 18 h. Para o atendimento desses casos, só restam os dois prontos-socorros da cidade, onde há funcionários capacitados para atender esse tipo de ocorrência.

Tema precisa deixar de ser tabu

O suicídio ainda é tabu em muitos países. Há localidades na África que nem possuem palavra para designar o ato, e em várias nações o número de casos é subnotificado. Em números brutos, o Brasil é o oitavo país com mais suicídios, conforme a OMS. Analisando a taxa de mortes por 100 mil habitantes, caímos para a 270.ª posição, com índice de 5,8. No entanto, de 2000 para 2012 houve um aumento de 10,4% no número de casos. "O suicida é um solitário, embora cercado de gente", resume o psiquiatra José Manoel Bertolote, professor na Unesp Botucatu. "O suicídio não tem uma causa, é um conjunto de fatores que atuam de forma sinérgica e o individuo chega a essa decisão", completa.

Para o especialista, o suicídio é um problema de saúde pública. "Na faixa dos 15 aos 55 anos, o suicídio é uma das três principais causas de óbito em todo o mundo. Por ano, o suicídio mata mais que a Guerra do Vietnã matou de americanos", compara. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, durante os vinte anos da Guerra do Vietnã, morreram cerca de 58,2 mil soldados americanos, o que não chega a 10% do total de suicídios em 2012.

Prevenido

Entretanto, para Mar­ce­lo Kimati, diretor do De­par­tamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, o suicídio pode ser prevenido. Isso porque é possível tratar os fatores de risco, geralmente ligados à depressão, consumo de álcool e drogas e tentativas anteriores. Além disso, pode-se controlar o acesso aos meios usados para tirar a própria vida, como armas e medicamentos. A rede de atenção primária e atendimento especializado, como os Caps são portas de entrada para o acompanhamento de indivíduos que apresentam essas tendências.

A psiquiatra Sabrina Stefa­nello alerta para uma mudança no perfil dos suicidas. "Há mais tempo, a gente tinha uma curva que indicava que era a população idosa que cometia suicídio. Hoje essa curva muda e cada vez mais adultos jovens, de 20 a 40 anos, cometem o suicídio. Perdemos gente produtiva e jovem na sociedade", conclui.

Mitos

O suicídio ainda é tabu em diversas sociedades e a falta de discussão sobre o assunto acaba gerando mitos sobre o tema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou sete itens que precisam ser desmentidos. Confira:

• Uma vez que a pessoa tem tendências suicidas, sempre as terá: O elevado risco de suicídio é, muitas vezes, a curto-prazo e em situações específicas. Apesar de o pensamento suicida poder ser recorrente, ele não é permanente e um indivíduo com pensamentos e tentativas de suicídio prévios pode seguir em frente e ter uma longa vida.

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