Laudo feito pelo Núcleo de Engenharia do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico Científica de São Paulo concluiu que o incêndio que atingiu o laboratório de répteis do Instituto Butantan, na capital paulista, há quase um ano, começou após o superaquecimento de uma pedra com resistência elétrica utilizada para esquentar o terrário (ambiente climatizado destinado aos animais). O objeto estava sobre uma mesa de madeira em cima do mezanino da curadoria.
Apesar de nenhum dos animais ter morrido na ocasião, o fogo, que começou às 7h do dia 15 de maio de 2010, destruiu parte do maior acervo de cobras, aranhas e escorpiões para pesquisas no mundo. Ao todo, a coleção era composta por 85 mil peças. Os exemplares estavam empalhados e conservados em vidros com álcool.
Na época do incêndio, o fogo foi notado por funcionários, que avisaram os bombeiros para controlar e apagar as chamas. O prédio de 1.200 metros quadrados teve de ser demolido para a construção de outro, que deverá ficar pronto até o fim deste ano. O levantamento do prejuízo ainda não foi finalizado. O acervo foi iniciado há 120 anos.
De acordo com a cópia do documento feito em 30 de agosto do ano passado e obtida pelo G1, o perito que assina o laudo, o engenheiro Paulo Villa Hutterer, não é categórico ao apontar uma causa para o incêndio. Ao responder os seis quesitos formulados pela Polícia Civil, que investiga eventuais responsabilidades pelo incêndio, o perito afirmou que "não sendo possível precisar a causa", a "mais aceitável" é que ocorreu "dissipação de calor gerado pelo terrário".
Conclusão do laudo
Em sua conclusão, o perito eliminou a hipótese de curto-circuito. "O incêndio em questão teve início na sala do curador, e princípio no terrário. Admite-se que houve um superaquecimento na pedra quente do terrário, o que teria dado início ao incêndio. O calor gerado em contato com materiais de fácil combustão [principalmente madeira e papel] proporcionou a rápida evolução e propagação das chamas, vindo atingir o depósito de animais onde se encontravam os milhares de litros de álcool", disse Villa Hutterer. No prédio havia mais de 200 mil litros de álcool armazenados num depósito.
De posse do laudo, o 51º Distrito Policial, no Butantã, deverá concluir o inquérito sobre o caso nos próximos dias e remetê-lo à Justiça e apreciação futura do Ministério Público.
Procurado para comentar o assunto, o delegado titular do 51º DP, Guaracy Moreira Filho, afirmou que o resultado do laudo não aponta culpados pelo incêndio. "No laudo não há elementos que afirmem sobre a responsabilidade de funcionários do Instituto Butantan", disse o delegado.
Guaracy afirmou que estuda as 3 mil páginas dos autos para decidir se o incêndio foi criminoso ou uma fatalidade. "Direi isso nos próximos dias, se alguém irá ser indiciado por crime culposo ou não". Pelo menos três funcionários trabalhavam diretamente no laboratório.
O G1 também procurou a assessoria de imprensa do Instituto Butantan para comentar o assunto. Foi solicitada uma entrevista com o curador Francisco Luis Franco. Mas ele não foi localizado para falar.
Potência acima do usual e papelão
Mesmo sem apontar uma causa direta do que gerou o superaquecimento na pedra, o perito citou algumas evidências técnicas no seu trabalho que podem sugerir uma possível relação delas com o incêndio. O primeiro é que a resistência da pedra que deu origem ao incêndio tinha "potência acima do usual" e o outro é que essa mesma pedra estava coberta por um pedaço de "papelão".
Villa Hutterer afirmou que no mercado são encontradas, "com mais frequência, pedras aquecidas" de 3 watts a 17 watts, mas o modelo usado no terrário tinha 50 watts de potência.
Além disso, a perícia informou que o "catalisador", substância que diminui a energia, "não estava bem distribuída na massa da pedra".
O laudo não deixa claro se o equipamento falhou por problemas técnicos ou se foi usado de modo inadequado por quem o instalou.
O documento sugere que esse calor propagado pela pedra entrou em contato com o papelão que estava sobre ela. O perito informou que o procedimento de cobrir a pedra com um material inflamável não deve ser feito. Ele disse no laudo que a pedra "não deve estar envolta ou coberta por nenhum material, principalmente papelões que são bons isolantes térmicos e, geralmente, usados para piso dos animais e facilitar a limpeza, porém, são inflamáveis".
Questionado sobre as evidências encontradas pela perícia, a resistência duvidosa e o papelão, o delegado do 51º DP afirmou que elas faziam parte da rotina de funcionamento do laboratório. "Como nunca aconteceu nada, não vejo como sendo algo leviano. Aparentemente não vi maldade. Ocorreram consequências graves, mas não erros graves", disse Moreira Filho.
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