A perícia técnica vai investigar como a auxiliar de serviços gerais Cleonice Ferreira Gouveia, 29 anos, caiu de um ônibus ligeirinho em movimento. Após a queda, Cleonice foi atropelada pelo próprio veículo e morreu na hora. O acidente aconteceu ontem, por volta de 7h10 da manhã, na Rua Vicente Michelotto, no CIC. De acordo com a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa responsável pela Rede Integrada de Transporte, uma análise preliminar dos técnicos apontou a possibilidade de falha mecânica no dispositivo de segurança. O laudo definitivo deve ficar pronto em 15 dias.
A diarista Maria Joana Mota Matsumoto, 48 anos, era uma das passageiras do ônibus em que Cleonice estava. Como as duas pegavam o ônibus no mesmo horário, no Terminal da Vila Angélica, Maria Joana diz que conhecia Cleonice de vista. "Estava sempre bem vestida, bem arrumada", conta. Segundo Maria Joana, o ônibus estava completamente lotado quando Cleonice embarcou. A auxiliar de serviços gerais teria enroscado o salto de seu sapato na porta do ônibus, deixando-a entreaberta. Mesmo assim, o ligeirinho teria arrancado. Segundo passageiros, esse tipo de situação é comum na linha Araucária. "Você está na lata de sardinha. Não dá para se mexer", reclama a auxiliar de serviços gerais Elizabeth Ferreira.
Durante a viagem Cleonice tentou soltar o sapato da porta, sem sucesso foi obrigada a permanecer perto da porta. Cerca de um quilômetro depois, a porta em que Cleonice estava teria se aberto completamente, fazendo com que a passageira se desequilibrasse. "Acho que a porta não tinha encaixado direito", diz Maria Joana. Outro passageiro ainda teria tentando segurá-la pela blusa. "A roupa dela rasgou e ela acabou caindo sem a blusa. A roda de trás do ônibus passou pela cabeça e pelo braço dela. Foi então que o motorista parou o ônibus", lembra Maria Joana. "Não sei nem como ele percebeu, porque o ônibus estava completamente lotado", conta.
Houve tumulto. Passageiros gritavam e choravam. "Um rapaz chegou a desmaiar. Queriam linchar o motorista, mas depois desistiram", conta Maria Joana. Outra passageira do ônibus, que preferiu não se identificar, conta que o pior horário para usar a linha é entre às 6h30 e 7h15. "Está lotado todos os dias. As pessoas andam empurrando a porta sempre", diz. Motorista de ligeirinho, Luiz (que optou por não informar o sobrenome) afirma que a dificuldade em cumprir a tabela de horário obriga a andar em alta velocidade. "Quem está na porta acaba forçando ainda mais", diz.
O motorista do ônibus, Silvestre Farinhaque, foi procurado pela reportagem, mas a responsável pelo ônibus, Empresa Araucária Transporte Coletivo Ltda, informou que, por orientação psicológica, ele não concederia entrevista. Ele será afastado do serviço para receber acompanhamento e treinamento.
A empresa afirma que o ônibus, fabricado em 2004, tem dispositivo eletrônico de segurança. O veículo não arranca se a porta estiver aberta informação confirmada por três motoristas de ligeirinho consultados. Outro dispositivo, que pode ser acionado por passageiros em caso de emergência, será analisado pela perícia. De acordo com o gerente de operações da Araucária, João Francisco Stocco, os ônibus passam por manutenção semanal. "Estava tudo funcionando", diz.
Em nota, a Urbs manifestou "profundo pesar pelo acidente ocorrido" e informou que determinou uma "perícia completa para se determinar as causas do acidente", cujo "laudo definitivo deve ficar pronto num prazo de 15 dias". Segundo a empresa, o ônibus também tem sinais de alerta aos passageiros junto às duas portas, com a frase "evite permanecer nesta área". Conforme o motorista Luiz, é impossível respeitar a orientação: "Com a quantidade de passageiros em determinados horários, não há como ficar longe", diz.
A Empresa Araucária se manifestou sobre o acidente por meio de nota oficial. O texto informa que a empresa "está profundamente consternada com o acidente ocorrido". A Araucária informa que está prestando todo o atendimento necessário aos familiares da vítima e que abriu um procedimento investigatório próprio para analisar as causas do acidente.
* * * * *
Interatividade
O que deveria ser feito para reduzir a superlotação nos ônibus de Curitiba?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe se comentário no espaço abaixo.
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.