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Kelly recebeu alta ontem após um transplante do coração: problema diagnosticado no momento do parto da filha Anna | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Kelly recebeu alta ontem após um transplante do coração: problema diagnosticado no momento do parto da filha Anna| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Retrospecto

A história dos transplantes no Paraná tem 51 anos:

1959 – Primeiro transplante de córneas.

1973 – Em Londrina acontece o primeiro transplante de rim com doador cadáver. O procedimento teve a participação da Universidade de São Paulo (USP).

1979 – Primeiro transplante de medula óssea do Brasil é feito no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

1985 – Hospital Evangélico de Curitiba faz o primeiro transplante de coração. É criado o projeto Paraná Transplantes, por iniciativa do extinto Inamps, com assessoria da Comissão Regional de Nefrologia do Paraná.

1989 – Criado o projeto Paraná Transplantes/Cidadão Vida, por intermédio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

1991 – Primeiro transplante de fígado, no Hospital de Clínicas da UFPR.

1995 – Criação da Central Esta­dual de Transplantes do Paraná com o projeto da Comissão Espe­cial de Transplantes de Órgãos.

2001 – Primeiro transplante de rim e pâncreas, no Hospital Angeli­na Caron, em Campina Grande do Sul.

Fonte: Sesa

  • Confira o número de transplantes feitos nos últimos sete anos no país

O tempo é o maior empecilho para aumentar o número de transplantes de órgãos no Brasil. Além de parentes de potenciais doadores demorarem muito para se decidir pela doação, médicos que fazem o diagnóstico de morte encefálica (condição para o paciente morto ser doador) nem sempre priorizam este tipo de atendimento porque são mal-remunerados. Para resolver esses problemas, o Ministério da Saúde anunciou ontem um aumento nos honorários pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Simultaneamente, lançou uma nova campanha para conscientizar as famílias sobre a importância da rapidez na decisão.Hoje, os médicos recebem R$ 42 por um procedimento de morte encefálica. Agora vão receber R$ 600. Além disso, haverá uma padronização do tipo de exame, que antes não existia no Brasil. "Este profissional que faz o diagnóstico não está envolvido diretamente no transplante e nem deve estar, para não haver a comercialização de órgãos. Mas é ele quem ajuda a melhorar a captação", afirma o chefe do serviço de transplante hepático do Hospital de Clínicas de Curitiba, Julio Coelho.

O diagnóstico de morte encefálica acaba ficando de lado, segundo Coelho, porque nem sempre os médicos se ausentam de suas atividades no hospital para dar atenção a isso. E este é um dos motivos para que só 50% dos casos sejam comunicados pelos médicos ao sistema nacional. "Muitos deixam para fazer este exame de um dia para o outro e isso reduz o número de potenciais órgãos a serem doados porque o paciente é mantido artificialmente com o coração batendo", diz. Se o coração para de bater, perde-se imediatamente órgãos importantes como pulmão, pâncreas, coração, fígado e rim. "Havia desinteresse porque estes profissionais não são da área de transplante e ainda recebiam mal pelo serviço prestado. Com este estímulo, acredito na melhoria", diz.

Também haverá aumento na remuneração dos transplantes de córnea (de R$ 353 para R$ 1,2 mil por cirurgia) e de coração (de R$ 3,2 mil para R$ 6,4 mil). "Se olharmos o valor por si só parece bastante, mas não é. O médico recebe uma única vez pela cirurgia e pelo atendimento que deve prestar depois ao paciente, o que envolve todo o tratamento e recuperação", explica Coelho.

Tratamento longo

A secretária Kelly Vargas Santana do Vale, 26 anos, sabe muito bem que um transplante de coração não dura apenas algumas horas na sala de cirurgia, mas dias ou meses. Ela ficou oito dias internada na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Casa de Curitiba depois do transplante e agora deve seguir mais 90 dias de restrições alimentares e cuidados extras em casa. Ela recebeu alta ontem e saiu ansiosa para curtir novamente a filha Anna e o marido Diogo Queiroz Favareto. "Estou me sentindo bem. Doar é um ato de amor, é dar uma segunda chance para alguém", diz.

Kelly já se declarava doadora de órgãos e foi surpreendida quando soube que precisava de um novo coração. Sem nenhum fator de risco para doenças cardíacas – praticava natação e ia à academia todos os dias –, ela passou mal no dia do parto da filha quando, então, foi detectada uma miocardiopatia (deterioração do músculo do coração). A doação foi rápida: chegou de um rapaz de 21 anos de Santa Catarina. Sorte que, por enquanto, não bateu à porta do consultor de vendas Marcelo Ivan, 41 anos. Internado há 15 dias, ele não tem condições de ficar fora do hospital. "Andar duas quadras me cansa terrivelmente. Tem dias que não consigo levantar um copo", diz.

Meta

A nova campanha pretende aumentar em 20% o número de transplantes no Brasil – teve um aporte financeiro de R$ 76 milhões. Para o enfermeiro-coordenador de transplantes da Santa Casa, Antônio Pereira, o mais importante é focar a atenção na família que demora para se decidir. "O protocolo para ver se o paciente poderá fazer a doação leva em média 12 horas para ficar pronto. Depois entrevistamos os parentes e muitos pedem até o dia seguinte para pensar. Se vem cinco e um fica na dúvida, a opção é por não fazer o procedimento", diz.

O Ministério da Saúde prevê ainda a criação de mais 80 leitos para cirurgias de medula óssea, a capacitação de mais 1,2 mil profissionais no país e a criação de um Banco de Multitecidos (pele, ossos e músculos) que até então não existia no país. Dez estados – não divulgados – devem receber o banco.

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Interatividade

Que outras ações o governo deveria adotar para aumentar o número de transplantes de órgãos?

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