Prevenção
Dois dias antes de caso suspeito, Cascavel havia feito treinamento
Luiz Carlos da Cruz, correspondente
Dois dias antes de Cascavel notificar o primeiro caso suspeito de ebola do Brasil, um curso de capacitação havia sido aplicado para médicos, coordenadores de unidades de saúde e outros profissionais da área. A palestra foi coordenada pela médica infectologista Juliana Gerhardt e a capacitação, realizada no auditório do Senac, foi uma iniciativa da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde.
Além da palestra, foi apresentado um vídeo com os cuidados a serem tomados quando há suspeitas. A cidade se preparava para uma simulação de atendimento, mas o caso do paciente Soulyane Bah, 47, africano da Guiné, apareceu antes de o novo treinamento acontecer. Para a infectologista, a ação imediata e as medidas adotadas após a suspeita do caso não foram exageradas. Ela diz que a mobilização em torno do caso pode ter assustado a população, mas essas são as medidas adequadas.
48 horas após o primeiro teste foi coletado sangue para o segundo exame que deve compravar que o guineano não está com ebola.
Apesar de a suspeita de ebola ter envolvido um imigrante da Guiné, a repercussão em torno do caso atingiu negativamente todos os estrangeiros com pele negra que vivem em Cascavel. Principalmente os vindos do Haiti, que estão em maior número. Discursos que condenam a permanência dos estrangeiros ganharam corpo nos últimos dias, a ponto de preocupar as entidades de apoio. A Associação dos Imigrantes Haitianos de Cascavel chegou a propor que todos os membros sejam submetidos a testes, como forma de conter o preconceito.
"Nós, os haitianos, estamos disponíveis às autoridades de saúde, para fazer todos os exames", disse o vice-presidente da associação, Marcelin Geffeari, que há dois anos e oito meses vive em Cascavel. "Depois deste caso [suspeita de ebola], parece que [o preconceito] piorou muito. Nos preocupa", declarou.
A associação estima que hoje mais de 2 mil haitianos residam na cidade. Quase a metade trabalha em frigoríficos e em uma cooperativa agrícola. "Depois que aconteceu [a suspeita], os brasileiros olham com cara feia. A gente sabe que os brasileiros não gostam de gente", disse Joan Auguste, auxiliar de depósito.
No albergue da Sociedade Espírita Irmandade de Jesus onde o guineano sob suspeita de ter contraído ebola estava hospedado , a preocupação era evidenciada por funcionários. Outro grupo que costuma acolher os migrantes, a Associação Mão Amiga, também destacava o "aumento da tensão" entre moradores da cidade e os imigrantes.
"O povo já tem preconceito normalmente. Agora, aumentou. Só o tempo vai dizer se isso vai passar", disse a diretora do albergue, Valdemira Bibiano da Silva. "O meu medo é com a segurança deles. Que alguém acabe descontando neles", acrescentou a presidente da Mão Amiga, Rosana Cristina Anastácio.
Confusão geográfica
A haitiana Marie Pierre Ciceron, que trabalha como frentista em um posto de combustível, ressaltou não entender a confusão geográfica que estão fazendo já que o Haiti, que fica na América Central, está longe da zona de risco de ebola, que tem seu epicentro na África. "Não tem nada a ver essa doença com o Haiti. No Haiti existe uma epidemia de cólera, não de ebola", disse.
"Tinha que deportar essa gente", diz morador
No fim de semana, o assunto mais comentado nas rodas de conversa em Cascavel, é claro, foi a suspeita de que um imigrante radicado na cidade estivesse infectado com ebola. Por vezes, as reações contra os estrangeiros transpareciam de forma evidente e até agressiva.
O taxista José Ribeiro disse que, depois do caso, passou a se negar a transportar haitianos. Ele criticava a falta de controle sanitário e defendia a expulsão dos imigrantes que estão em Cascavel."Eu não carrego mais [haitianos no táxi]. Com essas doenças, como que eu vou me arriscar a levar essa gente? A gente não sabe de onde eles vêm, se têm alguma coisa, não sabe nada", afirmou. "Tinha que deportar essa gente, mandar embora do Brasil", completou.
No entorno da Unidade de Pronto Atendimento II, onde o guineano sob suspeita de contágio foi internado, os discursos também estavam mais acalorados. Para o jardineiro Edmar Cruz, o governo brasileiro deveria "fechar as portas" aos haitianos. "Olha o tamanho do transtorno que isso gerou. E se confirmassem que ele estava com ebola? Quem ia pagar o prejuízo? A verdade é que dão mais valor a esse povo do Haiti do que a nós, que somos brasileiros", disse.
Colaborou Luiz Carlos da Cruz.
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