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Investigação

Suspeita de obra mal-executada

A extensão da tragédia: o impacto dos escombros do edifício de 20 andares, que teria desabado primeiro, fez desmoronar os dois prédios menores | Juca Varella/Folhapress
A extensão da tragédia: o impacto dos escombros do edifício de 20 andares, que teria desabado primeiro, fez desmoronar os dois prédios menores (Foto: Juca Varella/Folhapress)
Abraçado pela família, Alexandro segura o celular que o ajudou no resgate |

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Abraçado pela família, Alexandro segura o celular que o ajudou no resgate

A principal hipótese levantada até o momento pela Defesa Civil estadual e por engenheiros para explicar o desabamento súbito dos três prédios no centro do Rio é a ruptura de algum pilar de sustentação do edifício maior, de 20 andares, provavelmente causada por uma reforma interna. Esse edifício, o Liberdade, teria desabado primeiro e o impacto de seus escombros fez desmoronar também os dois prédios menores. Já a hipótese de explosão, que chegou a ser levantada na noite do desabamento, foi praticamente descartada pela prefeitura.Frequentadores do edifício Liberdade afirmam que havia obras em andamento no 3.º e no 9.º andar, ambos sob responsabilidade da empresa Tecnologia Organizacional. A empresa divulgou nota lamentando o acidente, mas não deu detalhes sobre as intervenções. Também não se manifestou sobre possíveis causas do acidente.

"Não sei se tinha obra clandestina no prédio, mas desconfiava do movimento no terceiro andar. A gente percebeu que eles mexeram nas pilastras e o andar virou um salão. Eles também armazenavam material de construção lá dentro", disse Teresa Andrade, 47 anos, sócia de uma empresa de crédito consignado, localizada no 16.º andar.

De acordo com o presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ), Luiz Antonio Cosen­za, não havia no conselho registro de qualquer obra no Liberdade. Segundo ele, "qualquer obra grande, que altere a estrutura do prédio" deve ser registrada no órgão. Segundo Cosenza, a derrubada de uma parede, por mais simples que seja, precisa ser autorizada.

De acordo com a prefeitura, não havia licença para obras que resultassem em alterações de áreas comuns dos três edifícios, nem mesmo denúncias sobre a ocorrência de intervenções do tipo.

Moacir Duarte, pesquisador da Universidade Federal do Rio, afirma que o excesso de carga em determinados pontos da estrutura, como entulho de obras, também pode ter contribuído para o desmoronamento dos edifícios.

Salvo pelo elevador e o celular

O servente de pedreiro Ale­xandro Fonseca, 31 anos, estava no interior do prédio Liberdade quando este desabou. Ele contou que levava material para o 9.º andar quando viu o teto caindo. "A minha primeira reação foi me jogar de volta ao elevador. Ele despencou em queda livre ficando preso entre o terceiro e quarto andar. No andar em que estava não teve explosão, não teve nada. Cheiro, só de tinta", disse.

"Na escuridão do elevador pensava que não veria mais meus filhos, minha família. A única luz que havia era a do celular."

Ele comentou que o telefone o salvou. "Foi esse aparelho aqui. Fiquei conversando com um amigo a cada dez minutos. Ele me colocou para falar com um dos bombeiros que logo me acharam", conta. Fonseca não sofreu qualquer ferimento.

Para coronel bombeiro Lu­­ciano Sarmento, foi surpreendente o fato de Fonseca se salvar ao entrar em um elevador. Para retirá-lo, as equipes de salvamento correram riscos. Cor­taram uma barra de ferro para aumentar a área livre no teto do elevador, sob o risco de que os escombros caíssem. "Foi muito difícil. Tínhamos a notícia de que havia alguém vivo. De re­­pente, ouvimos uma voz que vinha de um vão de cerca de 20 centímetros de diâmetro no teto do elevador", contou o coronel. Os bombeiros perguntaram se ele conseguiria subir até o teto do elevador para ser retirado. Fonseca disse que sim. E saiu ileso.

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