Um mês após o governo anunciar que comprará até 900 mil tablets para docentes e alunos da rede pública, as principais editoras de livros didáticos se preparam para entrar em um novo mercado milionário: o digital. A compra de tablets pela União tem um custo previsto de R$ 330 milhões.
Algumas editoras até já possuem versões do material para a plataforma tablet, porém, organização e conteúdo são bem similares aos dos livros "tradicionais", em papel. De seis grandes editoras brasileiras, duas ainda não têm versões digitais do material didático e, das que possuem, apenas três trazem recursos digitais complementares, como áudios, vídeos e animações. As editoras afirmam, porém, que até 2013 vão acelerar as mudanças digitais.
Novidades
Para o ano que vem, a Edições SM pretende trazer ferramentas que personalizem o conteúdo didático conforme a necessidade do aluno.
A FTD disse que desenvolve versões digitais do material para "inovar e criar novas perspectivas educacionais". Ática e a Scipione afirmam que em 2013, em todas as versões digitais, o estudante poderá responder os exercícios no próprio livro.
Desde 1985, essa característica foi desaparecendo das obras em papel porque o Programa Nacional do Livro Didático instituiu o término da compra pelo governo de livros que não poderiam ser reutilizados.
Editoras como a Moderna e Edições SM só disponibilizam a versão digital para quem compra o livro em papel. A utilização do recurso vale durante o período do ano letivo. O mesmo não acontece com a Ática e a Scipione, que permitem a compra da edição eletrônica por 80% do valor de capa do livro "tradicional". Nesse caso, o acesso à versão digital não caduca.
O recurso de leitores de tela, utilizados por deficientes visuais, ainda não foi adotado por nenhuma das editoras. Por enquanto, existe apenas a possibilidade de aumento da letra e das imagens exibidas no aparelho.
Ensino novo?
"Pelo que vemos hoje, o aluno continua lendo o material no tablet como se estivesse lendo no papel", diz Sérgio Amaral, coordenador do Laboratório de Novas Tecnologias Educacionais da Unicamp.
Para ele, falta às editoras usar "toda a potencialidade do aparelho, como a convergência com as lousas digitais".
"Ainda é cedo para avaliar os efeitos da adoção dos tablets em sala de aula", comenta José Moran, professor aposentado de Novas Tecnologias da USP e diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp. Moran diz, porém, que no futuro o tablet pode levar a mudanças curriculares, como permitir que parte das atividades seja feita a distância.
Valdenice Minatel, coordenadora da tecnologia educacional do Dante Alighieri, de São Paulo, diz que a inserção dos tablets em sala de aula da insituição só valeu a pena porque a prática pedagógica de ensino foi repensada pelo colégio a partir do novo recurso.