Diagnóstico costuma ser tardio
A falta de preparo dos médicos e a inibição dos idosos em falar sobre a vida sexual são fatores que fazem com que o diagnóstico nessa faixa etária costume ser tardio. "Os médicos simplesmente não pensam que pode ser aids. Tendem a pensar em outras coisas, câncer, tuberculose ou doenças degenerativas", diz a professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Paraná, Rita Esmanhoto.
Segundo ela, os profissionais também se sentem inibidos em questionar sobre os hábitos e a vida sexual dos pacientes, que envergonhados também não comentam. "Mesmo quando se tem o diagnóstico, o médico tende a crer que a contaminação foi por transfusão de sangue, ele não pensa no sexo", diz. Para ela, há um despreparo dos profissionais de saúde em lidar com a sexualidade. "O modelo de ensino biomédico não trabalha essa questão", afirma. A demora no diagnóstico faz com que a aids geralmente seja mais agressiva nos idosos.
A existência de doenças coexistentes, as interações com outros medicamentos e o sistema imunológico mais debilitado acabam contribuindo para que o tratamento seja ainda mais difícil. (CV)
Durante quase duas décadas, a ocorrência da aids entre idosos foi um assunto ignorado. E a resistência da sociedade em admitir que pessoas com mais de 50 anos continuam tendo vida sexual ativa contribuiu para o aumento do número de infectados. Em função disso, neste ano, pela primeira vez, o Ministério da Saúde decidiu focar a campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids, hoje, na população com mais de 50 anos.
Em dez anos, de 1996 para 2006, a taxa de incidência de aids duplicou entre pessoas com mais de 50 anos, passando de 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7. Dos 47.437 casos notificados nessa faixa etária desde o início da epidemia, 29.393 (62%) foram registrados entre 2001 e 2008. A maioria, 63%, em homens. De acordo com a diretora do Programa Nacional de DST/Aids, Mariângela Galvão Simão, a prioridade são justamente os homens porque ainda cabe a eles, na maioria das vezes, a decisão de usar a camisinha.
A incidência vem crescendo em todas as regiões. O maior aumento foi sentido no Norte do país, onde os casos quadruplicaram. Existiam, em 1996, três casos para cada 100 mil habitantes e, em 2006, já eram 13. No Sul, a incidência triplicou, passando de 7,1 para 22,9. No Paraná, em 1996 haviam sido registrados 79 casos, dez anos depois esse número era de 168. De acordo com o chefe da Divisão de Controle de DST/ Aids da Secretaria Estadual da Saúde, Francisco Carlos dos Santos, as ocorrências começaram a aumentar de forma mais intensa a partir de 2004. "Foi quando surgiram os casos de pessoas contaminadas nos anos 90", comenta.
Para o médico infectologista e coodenador da Divisão de Aids em Idosos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, Jean Carlo Gorinchteyn, o aumento dos casos na terceira idade é resultado da falta de prevenção. "O uso do preservativo não é visto como algo habitual nessa fase da vida. Para essas pessoas a função da camisinha era de evitar a gravidez. Muitos não usam simplesmente porque não sabem usar", afirma. Segundo ele, a insegurança dos homens também afeta o uso de preservativo. "Os homens muitas vezes se relacionam com mulheres mais novas e não querem admitir que não sabem usar o preservativo. É como se isso demonstrasse que eles não têm experiência. Outros não usam porque têm medo de perder a ereção", comenta. Entre as mulheres, a chegada da menopausa faz com que elas fiquem despreocupadas em evitar a gravidez e com isso o preservativo também é deixado de lado.
A professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Paraná, Rita Esmanhoto, tem a mesma opinião. Para ela, a dificuldade em convencer essas pessoas sobre a importância da prevenção está no fato de a camisinha não ser encarada como um meio de evitar doenças. "Muitas vezes os homens se relacionam com mulheres mais novas que tomam anticoncepcional e por isso não usam preservativo", afirma.
Disfunção erétil
A incidência da aids na terceira idade começou a aumentar de forma significativa a partir do ano 2000. Ainda não há estudos que comprovem esta relação, mas os especialistas acreditam que o surgimento de drogas para disfunção erétil tenha influenciado no crescimento das contaminações. "Quando o homem toma esse medicamento se sente mais seguro e acaba tendo mais relações", comenta Gorinchteyn.
Como uma doença social, a aids mostra comportamentos que muitas vezes as pessoas preferem não revelar. "Quando isso vem a tona, muitas vezes põe em xeque a estrutura familiar. Tanto a família como o paciente se sentem desconfortáveis com a situação. No entanto, o apoio da família é fundamental. Sem ele muitas vezes o idoso nem inicia o tratamento", comenta Gorinchteyn.
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