Nascida favela, mas sonhando ser bairro desde 1985, quando mudou de nome, a Vila das Torres vive um eterno "ser ou não ser". Cada novo projeto comunitário que se inicia ali planta nos moradores sonhos de participação e desenvolvimento, logo frustrados por ciclos de violência que se repetem com intensidade. O resultado é frustração "tão longe e tão perto".
O tráfico
Em 2011, houve comoção pública quando os traficantes decidiram "amolecer", deixando a população circular livremente entre os dois lados da vila. Mas logo a ilusão foi por terra. Não passava de um truque, nos moldes do morde e assopra, usado por contraventores em países como a Colômbia. Relaxados e agradecidos, os moradores tendem a se tornar cordatos com os comerciantes de drogas, deixando que continuem seu "trabalho". Especialistas observam, no entanto, que a cultura da violência volta a se impor cedo ou tarde, fazendo com que os métodos tradicionais de coação sejam usados novamente. Parece ser o caso da Vila das Torres. Depois do armistício veio a força bruta. O criminalista David Weisburd, da Universidade de Jerusalém, lembra que é muito trabalhoso, e caro, para o traficante mudar de área, erguer novas redes, conquistar outros colaboradores. Ele permanece. E se impõe, o que sugere a necessidade de trabalhos de segurança pública a longo prazo, capazes de vigiar as recidivas do crime. Não há resultados instantâneos. A vila é uma prova disso.
PERFIL
Dados da Cohab, levantados em 2007 para o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, indicam que 70% das famílias da Vila das Torres são formadas por até quatro pessoas e 60% não completaram o ensino fundamental. Perto de 55% dos moradores está no local há mais de 20 anos. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2011, duas escolas que atendem a população local tiveram notas inferiores à média de Curitiba, que foi de 5,5. O Colégio Estadual Manoel Ribas teve nota 3,3 e o C.E. Hildebrando de Araújo obteve 2,4.
Toma cá, dá lá
Junho de 2007 líderes reunidos na ONG Vila Nova [hoje extinta] reclamam da falta de compromisso da Fiep para com os jovens. Movimento gera novas parcerias. Também nessa ocasião, o promotor Saint-Clair Honorato dos Santos cria o Observatório da Habitação e elege a Vila das Torres seu primeiro desafio.
Maio de 2008 "Linha proibida" da Rua Guabirotuba impede mães de irem à creche, equipamento público que fica do lado de baixo da vila. Moradores pedem creche do "lado de cima". Prefeitura diz "não", alega que sobram vagas e que não pode se pautar por briga de gangues.
Julho de 2009 Um dos líderes comunitários, Marcos Eriberto dos Santos, faz reuniões com famílias para melhorar as relações de vizinhança, firmando a vila como modelo de desenvolvimento.
Abril de 2011 Traficantes presos pedem que a "linha proibida" seja extinta, liberando a passagem de pedestres de um lado a outro da Rua Guabirotuba. O clima foi de festa, mas o armistício durou pouco. Logo o conflito entre policiais e traficantes recomeçou, sendo a população usada como massa de manobra.
Dezembro 2013 Situação volta a ficar tensa na comunidade. Médicos da unidade básica de saúde foram feitos reféns de traficantes. Criança recebe uma bala perdida em tiroteio e é atingida no ombro.
UPS já
Há uma máxima entre os moradores da Vila das Torres: eles se sentem punidos pelo poder público por habitarem uma zona nobre da cidade, mesmo sendo pagadores de impostos. Vale lembrar que mais de 75% dos terrenos estão regularizados, o que muda o status do local. Não é favela, é bairro pobre. E mal atendido. A bitola do esgoto da vila é mais estreita. O caminhão do lixo passa de forma mais irregular. A comunidade está mais exposta a zoonoses. Uma das últimas ações no local foi a regularização da Vila Prado, uma vila dentro da vila, em 2012; e a trincheira da Rua Chile, ano passado. A trincheira abriu a comunidade para os motoristas. Merece nota o projeto Cores da Cidade, que fez da rua principal, a Manuel Martins de Abreu, um espaço mais bem cuidado. Pena a rua ter virada ponto de guerra entre traficantes. Em meio à atual onda de violência, a população pede que seja instalada ali uma Unidade Paraná Seguro, a UPS. O posto policial, na Rua Imaculada Conceição com a Guabirotuba sempre pareceu uma proteção aos alunos da PUC, não mais do que isso.