Seja com a cobrança de passagem ou com recursos de impostos – alguns defendem que o melhor seria uma mistura dos dois –, o dinheiro para custear o deslocamento nas cidades precisa sair de algum lugar. Nesse sentido, para os especialistas, a tarifa zero é viável simplesmente por ser uma decisão política. Nisso, todos concordam. Já quanto ao modo de implantar o transporte público grátis e os limites para isso dependem da cabeça de cada estudioso e das experiências em curso (leia mais nesta página).
Professor de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), na Bahia, Antônio Rosevaldo é otimista quanto à possibilidade de transformar o transporte público em algo gratuito e de qualidade. “Claro que não existe almoço grátis, alguém vai ter de pagar. O que acontece hoje com o sistema é que o empresário ganha para deixar ônibus na garagem. Nós apuramos com o Ministério Público que há empresas de ônibus que cumprem apenas 60% do número de passageiros que está no contrato”. Ele defende que se houver mudança nos contratos para que as empresas precisem cumprir uma quilometragem determinada, a situação do transporte já teria uma melhora substancial.
O professor de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB) Joaquim Aragão enfatiza o peso político envolvido na gratuidade da tarifa. “O importante é que a população seja extremamente clara quanto às suas prioridades. Prefere pagar tarifa ou imposto? A comunidade precisa aprender a discutir de forma integral, e não se limitar a uma bandeira fácil de se pronunciar.” Aragão retira o foco do formato e diz que o debate da qualidade tem um caráter mais urgente. “A qualidade não é de graça, mesmo com subsidio do Estado. E essas são questões que a sociedade deve pautar.”
Já na opinião de Otávio Cunha, diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a tarifa zero ao usuário é utopia. “O movimento gerado no debate da tarifa zero ajuda a pensar por que o transporte público no Brasil não melhora. A gente não sai dessa lógica cruel, perversa, poder público pressionado para não aumentar a tarifa e não tendo como bancar diferenças, oferece para a população um serviço ruim. A empresa acaba ficando com a pecha de que oferece serviço ruim, o que não é verdade”.
Sobre o fato de a qualidade do transporte ser ruim, Cunha concorda que é preciso mudanças para resolver o que ele chama de verdade absoluta. “Transporte de boa qualidade custa muito caro. Se analisar qualidade do serviço do metrô, todos acham que é excelente. Mas é sempre subsidiado.”