O crime cometido por um homem preso também fica registrado na pele dele. É o que defende o perito da Polícia Científica Jorge Luiz Werzbitzki, que há dez anos estuda a linguagem usada nas cadeias em especial a tatuagem para publicar um livro. Segundo ele, os detentos são marcados de acordo com o delito que cometeram e os desenhos são ferramentas para determinar quem tem mais poder dentro da prisão.
Werzbitzki é um dos responsáveis pela elaboração de retratos-falados e aprendeu, ao longo dos 28 anos de trabalho, que cada sinal é importante para a identificação do suspeito procurado. Foi assim que decidiu se aprofundar no assunto e procurou a Escola Penitenciária de São Paulo, pela qual começou sua pesquisa. "Eles já tinham um levantamento sobre tatuagens de presos e começamos a trocar informações. Depois disso, passei a analisar as tatuagens de Curitiba", conta.
A figura de um crânio é a tatuagem feita pelos responsáveis por homicídios e a quantidade de caveiras é o número de vítimas que teriam assassinado, conta o pesquisador.
Segundo Jorge, os estupradores são marcados, quase sempre à força, com desenhos como coração cortado por flecha, sereia e borboleta. "Os outros presos fazem a tatuagem para que o estuprador seja reconhecido em qualquer lugar", explica.
Os presos que delataram membros do seu grupo são marcados com uma cobra. Os que mataram policiais geralmente têm um revólver tatuado na altura da cintura ou uma caveira com uma faca cravada. Pedófilos são marcados com triângulos.
As tatuagens são produzidas dentro da cadeia com uma máquina improvisada ou com um aparelho de barbear e tinta plástica. O traço, por isso, é imperfeito. "Nem todos os que têm uma caveira tatuada são homicidas. As pessoas precisam observar que a tatuagem de cadeia é muito diferente da feita em estúdio".
Além dos desenhos, os presos são marcados por pontos na mão ou no rosto, de acordo com o crime que cometeram: um ponto no rosto indica que o preso cometeu um estupro; dois pontos na mão indicam atentado violento ao pudor; três pontos, que ele é traficante. Quem recebe quatro pontos foi responsável por furto e cinco, por roubo. O detento com seis pontos formando uma cruz é homicida e se houver um círculo ao redor, ele é também chefe de quadrilha, conta Jorge. O perito explica que os símbolos têm o mesmo significado dentro das cadeias de todo o Brasil.
O livro vai se chamar Linguagem de Cadeia e ainda não tem data para ser publicado. Além de tatuagens, deve tratar sobre os meios utilizados pelos presos para se comunicar, como a linguagem de sinais, gírias e espelhos para passar mensagens.