Universidade
38% dos estudantes não dominam a escrita e a leitura
A falta de domínio pleno da língua portuguesa e da matemática também atinge os universitários. Os dados do Indicador de Alfabetização Funcional (Inaf) revelam que 38% deles não detêm habilidades básicas de leitura e escrita. A principal causa está na universalização do ensino superior, que facilitou o ingresso na universidade com a ampliação da oferta de cursos e instituições privadas de ensino que, muitas vezes, aplicam um vestibular ruim e acabam selecionando estudantes fracos.
Além da defasagem de aprendizado, que se acumula e culmina no ensino superior, a baixa qualidade das faculdades e universidades e as mudanças nas reações em sala de aula também contribuem para um péssimo desempenho. O diretor de Educação do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae) e Fundação Getulio Vargas (FGV), Antônio Raimundo dos Santos, explica que hoje a estrutura escolar está preocupada mais com o lado afetivo do que com o intelectual. "Percebo que as universidades particulares, que não conseguem separar aluno de cliente, querem deixá-lo confortável, aproximá-lo do professor e evitar descontentamento. Virou um ambiente de perfumaria em vez de ser desafiador."
A baixa cobrança se reflete em pouca leitura que, aliada ao uso intenso da internet, torna o conhecimento descartável. Segundo Santos, se o professor decide exigir mais, o estudante reclama e acha ruim. Quando chega na formatura, muitos não dominam nem 10% de tudo que foi visto em quatro ou cinco anos de graduação. (AS)
Glossário
Entenda os níveis de alfabetização usados pelo Indicador de Alfabetismo Funcional:
Analfabeto
Não consegue fazer leitura simples de palavras e frases.
Alfabetizado rudimentar
Localiza informação em texto curto, escreve e lê números usuais e faz operações simples.
Alfabetizado em nível básico
Lê e compreende texto de média extensão, lê números na casa dos milhões, resolve problemas envolvendo sequência simples de operações e tem noção de proporcionalidade.
Alfabetizado em nível pleno
Consegue ler textos longos assim como analisa e relaciona suas partes, compara e avalia informações, diferencia fato de opinião e faz interferência e síntese. Resolve problemas envolvendo porcentuais, proporções e cálculo de área e interpreta tabelas, mapas e gráficos.
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Em dez anos, o índice de analfabetismo no Brasil caiu pela metade. Mas se no entendimento básico de português e matemática o país conseguiu avançar, no domínio pleno ele está estagnado. Segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa, o porcentual da população que consegue desenvolver atividades mais complexas, como interpretar textos longos, comparar informações e interpretar tabelas, mapas e gráficos, se manteve no ano passado com os mesmos 26% registrados em 2001.
Para educadores, o problema está essencialmente na falta de qualidade do ensino. Com professores mal formados e uma escola despreparada para focar na dificuldade de aprendizado, os alunos não conseguem avançar nos estudos e deixam a escola dominando apenas a leitura de textos curtos e médios, e operações simples de matemática, que não envolvem mais de uma etapa.
Essa falta de preparo do docente tem duas causas: a facilidade para ingressar nos cursos de licenciatura e uma formação defasada, que não faz o professor levar em conta as diferentes realidades do aluno na hora de ensinar. No primeiro caso, como os cursos de formação de professores são pouco concorridos e os salários da carreira muito baixos, a profissão atrai estudantes menos preparados, que tiveram péssima formação no ensino básico.
Para complicar, os docentes não conseguem passar o conteúdo de forma atrativa, que permita ao aluno perceber para que serve o que está aprendendo. Isso ocorre em países modelos em educação, como a Finlândia, que foca no ensino que leva em conta características individuais.
"Por isso, nos últimos anos do ensino fundamental e nos primeiros do ensino médio, quando justamente os assuntos são mais densos e multidisciplinares, o currículo deixa de ser atraente e o aluno não vê sentido em frequentar a escola", avalia a psicopedagoga e professora do departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Evelise Portilho.
Prova disso é que os índices de aproveitamento de matemática e leitura não evoluíram nessas séries. Eles são os mesmos há 13 anos e ficam em torno de 14%, de acordo com dados do programa Todos pela Educação. Um de seus conselheiros, o professor Mozart Neves Ramos, explica que os esforços do governo se concentraram em trazer mais gente para a escola e aumentar os anos de estudo, que saltaram de uma média de 5 para 7,2 anos, mas deixaram de lado o desempenho, principalmente nos conteúdos mais difíceis.
Outro fator que contribui para a má qualidade do ensino é a falta de uma formação continuada adequada para o professor. Embora governos federais e estaduais ofereçam programas de capacitação aos docentes, eles não só são fracos e insuficientes como muitas vezes não são levados a sério. "Os que efetivamente se interessam pelos cursos são os docentes bons, que são a minoria. O resto está lá para conseguir o diploma e ser promovido e não para aprender", diz o consultor educacional Renato Casagrande.
Baixa repetência mascara ensino de má qualidade
Se a baixa qualidade do ensino brasileiro é percebida pelos índices de domínio pleno, ela é mascarada por outros indicadores, como a reprovação. Ou seja, enquanto 65% da população com ensino médio não é plenamente alfabetizada, apenas 13,1% reprovam nessa etapa.
Para os educadores, a situação é reflexo de uma opção do Ministério da Educação (MEC) que se concretizou na redução da média para aprovação e recuperação bimestral no lugar da anual em aprovar o aluno para reduzir os índices de evasão em vez de se preocupar com qualidade e efetividade do aprendizado. Com uma média baixa para ser aprovado (nota 5), muitos alunos passam de ano sem aprender. "Vamos empurrando o estudante de uma série a outra para engordar os índices dos que concluem a escola, mas eles saem sem aprender, sem qualquer domínio", diz o consultor educacional Renato Casagrande.
Desilusão
A doméstica Aparecida Bonfim é um exemplo de que aprovação não significa domínio do conhecimento. Há dez anos, ela, que tinha abandonado os estudos na antiga 3.ª série, voltou a estudar. Em pouco tempo, estava no ensino médio. "Os professores me aprovavam, só que eu não sabia nada. Na minha sala todos colavam, mas não me sentia confortável com isso. Queria aprender de verdade, mas não consegui." Ela lembra que até em inglês, disciplina da qual não sabia uma palavra, foi aprovada. A falta de seriedade levou Aparecida a largar os estudos mais uma vez.
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