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Saúde

Taxa de cura de hepatite C no SUS aumenta para 90%

 | RICARDO ALMEIDA/ANPr
(Foto: RICARDO ALMEIDA/ANPr)

Os pacientes de hepatite C agora têm o que comemorar. No último ano, segundo informações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a taxa de cura com o tratamento oferecido pelo Ministério da Saúde passou de 50% para 95%.

Segundo a infectologista Maria Cristina Assef, membro da entidade, a diferença consiste na forma como os medicamentos envolvidos agem no organismo da pessoa infectada. O tratamento antigo estimulava a imunidade a matar o vírus, o que, observa ela, dependia muito de como o sistema imunológico do paciente respondia a esse estímulo.

Até o ano passado, trabalhava-se com interferon e ribavirina. A terapia consistia em injeções semanais no abdome do paciente e compridos diários, de seis meses a um ano. “Já o tratamento atual age diretamente no vírus, é mais curto, mais fácil e mais eficaz. Não depende de sistema imune, só depende de a pessoa tomar o remédio direito”, compara a médica.

Enquanto as primeiras drogas provocavam uma série de efeitos colaterais, como febre, dor de cabeça e boca e olhos secos, os medicamentos novos são apenas orais e não costumam apresentar efeitos colaterais. O novo protocolo de tratamento dura em média três meses e é feito com sofosbuvir, simeprevir e daclatasvir, drogas importadas.

Maria Cristina explica que o novo cenário tem garantido mais qualidade de vida aos infectados. “O tratamento, mesmo na rede pública, é de muito sucesso”, define a médica, que palestrou sobre o assunto durante o I Congresso SulBrasileiro de Infectologia, realizado na semana passada, em Curitiba.

Notificações

Em Curitiba, a quarta capital brasileira em registros de hepatite C, 251 pessoas seguem fazendo tratamento contra a doença, segundo o Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde. Neste ano, 92 receberam alta. “Quando indicado no momento certo, os medicamentos apresentam chance maior de cura”, observa a responsável pela área, Juliane Oliveira.

A capital paranaense tem hoje uma taxa de detecção da doença acima da média nacional, de 13,3 casos por 100 mil habitantes. Na capital paranaense, segundo o último boletim epidemiológico de hepatites virais do Ministério da Saúde, já são 36,3 situações detectadas para cada 100 mil pessoas. O índice só fica atrás de Porto Alegre (RS), com 107,4; Porto Velho (RO), 75,4; e Florianópolis (SC), com 41,3 registros. Os números, apesar de divulgados neste ano, englobam confirmações de 2015.

A diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Juliane Oliveira, avalia que os números são reflexo de um trabalho de identificação do vírus da hepatite C no município. Em 2015, 634 casos da doença foram notificados na cidade. Neste ano, até outubro, foram 269. “Nosso trabalho é buscar pacientes. Se há a possibilidade de oferecer mais testes, logo o número de notificações também será maior”, comenta.

Para a infectologista Maria Cristina Assef, entretanto, a taxa curitibana faz parte de um achado epidemiológico difícil de ser compreendido. “Não tem uma explicação realmente. Não tem uma prevalência de uso de drogas maior que em outros grandes centros, por exemplo, que pudesse justificar eventualmente isso”, observa.

Doença silenciosa

Ela salienta, contudo, que, por se tratar de uma doença silenciosa, é importante que pacientes e médicos se mobilizem para diagnosticar precocemente a hepatite C. Em quadros mais severos, a doença pode causar cirrose, câncer de fígado e levar à morte. “Ela é assintomática na maioria dos pacientes, o que é uma preocupação para nós. Quando o paciente tem sintomas, geralmente já há complicações”, explica Maria Cristina, ao definir que o ideal é que os médicos, independente de especialidade, peçam, ao menos uma vez na vida do paciente, exames de HIV, sífilis e Hepatites B e C.

“Já existe uma recomendação do Conselho Federal de Medicina para isso. Assim como pedem exame de colesterol, vamos pedir também exames de algumas doenças que são silenciosas”, diz a médica.

Maria Cristina assinala que, embora o ideal seja que todas as pessoas fizessem o teste de hepatite C, hoje, o risco ainda é maior junto ao público maior de 45 anos. Isso acontece porque esta faixa etária pode ter sido submetida a práticas que antes da década 1990 aumentavam o risco de transmissão do vírus pelo sangue. “Antigamente, não tínhamos seringa descartável. O farmacêutico do bairro, por exemplo, fazia a injeção com a mesma seringa. Os dentistas não esterilizavam o equipamento”, recorda.

Além disso, acrescenta a especialista, quem recebeu sangue antes de 1993 também tem mais chances de ter sido exposto ao vírus da doença. Isso porque o vírus da hepatite C foi descoberto em 1989, já os testes para detecção em doadores só entraram na rotina dos bancos de sangue em 1993.

Quem fez tatuagem ou piercing ou ainda costuma fazer a manicure e pedicure fora de casa também deve avaliar bem a situação. “Você precisa avaliar como essa tatuagem foi feita, se o estúdio toma cuidado com a esterilização. A exposição ao sangue, quer seja pelo compartilhamento de agulhas, quer seja por seringas ou por procedimento estético não adequado expõe as pessoas”, enfatiza Maria Cristina.

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