Menos de 24 horas após a prisão em flagrante de dois homens que agrediram um casal gay no setor de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, um homem abordava turistas que passavam pelo saguão, na manhã desta terça-feira (14), oferecendo transporte clandestino.
Após negociarem o preço da viagem, dois visitantes foram levados pelo homem até o estacionamento e embarcaram num carro de passeio. A prática é comum, segundo motoristas de táxis de duas cooperativas credenciadas que trabalham na área. A própria superintendência do aeroporto admite estar ciente da irregularidade e espera reduzir esse tipo de problema com o início da fiscalização eletrônica no desembarque do Terminal 2, que deve começar em até 15 dias.
A Polícia Civil também sabia da atuação dos "jóqueis" (apelido dado às pessoas que oferecem serviço de transporte não autorizado) no Tom Jobim. Na segunda-feira (13), após a agressão aos visitantes, o titular da Delegacia do Aeroporto Internacional do Rio (Dairj), Ricardo Codeceira, disse que os presos fazem parte de um grupo investigado há dois meses.
"A fiscalização eletrônica reduzirá ao máximo a irregularidade. Quando foi implantada no Terminal 1, os problemas migraram para o 2", disse o superintendente do aeroporto internacional, Emmanoeth Vieira de Sá. "Fizemos reuniões com a CET-Rio e vamos ter duas faixas no desembarque, sendo a primeira para os táxis especiais e amarelinhos cadastrados. Na segunda, qualquer veículo poderá circular e o táxi amarelo poderá pegar passageiro, se ele fizer sinal. Mas será proibido fazer ponto nesta faixa, sujeito a multa
Durante o carnaval, o Tom Jobim terá reforço de 20% na equipe de fiscalização, para evitar a ação de "jóqueis" que, segundo motoristas, recebem em média R$ 10 para embarcar passageiros nos táxis. Quem desembarca no aeroporto internacional também está sujeito ao assédio de taxistas não credenciados, que costumam cobrar "no tiro" (fora do taxímetro). Na segunda-feira, um casal não aceitou pagar R$ 60 pela corrida até o Centro, alegando que ela custa, em média, R$ 40.
Carro particular fazendo transporte ilegal é outro problema recorrente no Tom Jobim. Na segunda, segundo um guarda municipal, o motorista de uma Zafira foi multado. Taxistas credenciados, no entanto, também tumultuam o desembarque dos turistas. Embora não seja ilegal, motoristas das diferentes cooperativas do aeroporto, incluindo as de táxis especiais, formam uma barreira humana na saída do saguão, assustando quem chega à cidade. São tantos que o visitante tem até dificuldade para sair com o carrinho de bagagem. A prática também é comum no Aeroporto Santos Dumont e na Rodoviária Novo Rio.
A atriz Carla Soares, que passa semanalmente pelo Tom Jobim, considera a abordagem vergonhosa. "É muito feio! O visitante tem que ter liberdade para escolher o transporte. Essa barreira de homens na porta de saída do aeroporto dá uma péssima impressão para os turistas", avaliou.
No saguão do Tom Jobim e da rodoviária, por exemplo, os passageiros podem usar o serviço de cooperativas de táxis especiais e amarelinhos, que cobram de acordo com tabela fornecida pela prefeitura. Quem opta por este serviço nem sempre sabe que pode pegar os táxis convencionais, fora dos terminais, pagando apenas o valor do taxímetro. Mas tem gente que prefere recorrer às cooperativas, para se sentir mais seguro. "Estou indo para o Centro, numa região que não conheço. Fico com medo de o taxista ficar dando voltas comigo", disse Tatiane Peyroteo, que mora em Arraial do Cabo e pagou R$ 26 por uma corrida até a sede da prefeitura.
No Santos Dumont, Paola Russo evita o serviço da AerosDumont, cooperativa de táxis amarelos que atua praticamente sozinha no terminal. Na segunda-feira ela saiu do aeroporto e fez sinal para um taxista que garantiu cobrar pelo taxímetro. A cooperativa diz que é pelo taxímetro, mas, quando entro no carro, o motorista diz que é tabelado.
Segundo a Secretaria municipal de Transportes, a AerosDumont atua historicamente no local, mas este cenário vai mudar após a implantação, no Santos Dumont, do programa Boa Praça (que já funciona no Terminal 1 do Tom Jobim e inclui a fiscalização eletrônica). A rodoviária também receberá o programa.
Envolvidos na agressão ocorrida no Tom Jobim, Marcos Ribeiro da Silva, de 40 anos, e Rodrigo Alves da Silva, de 31, já foram transferidos para a Polinter e indiciados por lesão corporal e tentativa de homicídio. Eles foram presos em flagrante na segunda-feira à tarde, após agredirem o vendedor Cristiano Damasceno, de 40 anos, e o jornalista Dario Amorim, de 48, depois de uma discussão. Cristiano chegou a ser internado no Hospital Santa Maria Madalena, na Ilha do Governador, e teve alta médica na noite do mesmo dia. Ele sofreu ferimentos no maxilar e está com um corte na cabeça.