O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente considerado uma condição que afeta crianças, mas algumas pessoas podem desenvolvê-lo durante a vida adulta, apontam dois estudos diferentes, do Brasil e do Reino Unido, publicados no periódico científico JAMA Psychiatry na quarta-feira (18).
Os estudos sugerem que o início tardio do TDAH pode ser uma desordem própria e distinta, já que muitos adultos jovens diagnosticados não tiveram o transtorno durante a infância.
Além disso, no caso dos adultos diagnosticados com TDAH, os sintomas de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade eram, em geral, mais severos do que os observados em crianças e tendiam a vir acompanhados de acidentes de carros, prisões e comportamentos criminosos, disseram os pesquisadores.
“Nossa pesquisa traz novos esclarecimentos sobre o desenvolvimento e o início do TDAH, mas também levanta muitas questões sobre o TDAH que surge após a infância”, disse a coautora de um dos estudos, Louise Arseneault, professora na King’s College, de Londres.
“Quão similar, ou diferente, é o TDAH de início tardio em comparação com o TDAH que começa na infância? Como e por que o início tardio aparece? Quais tratamentos são mais eficazes para o TDAH de início tardio? Essas são as questões que deveríamos estar procurando responder”, disse Arseneault.
Estima-se que cerca de 4% dos adultos apresentam TDAH.
Segundo o critério para o diagnóstico clínico, o TDAH se manifesta quando uma criança menor de 12 anos mostra pelo menos seis tipo de comportamentos desatentos, ou impulsivos, que interferem no seu desenvolvimento por seis meses consecutivos.
Diagnóstico
No estudo britânico, com mais de 2.000 gêmeos, 166 indivíduos foram considerados com TDAH adulto, e 68% deles “não preencheram os critérios para TDAH em nenhuma avaliação na infância”.
A pesquisa determinou o TDAH em crianças com base em depoimentos de mães e de professores, coletados nas idades de 5, 7, 10 e 12 anos.
Para adultos, que tinham entre 18 e 19 anos quando estudados, o diagnóstico era feito partindo-se de uma entrevista, na qual os sujeitos relatavam seus próprios sintomas e comportamentos.
Entre os adultos, pesquisadores da King’s College London encontraram “um grupo menor com TDAH persistente” desde a infância.
Talvez o TDAH adulto com início na infância e o TDAH adulto com início tardio tenham causas diferentes, as quais “têm implicações para estudos genéticos e para o tratamento do TDAH”, diz o estudo.
Analisando os dados dos gêmeos, os pesquisadores também descobriram que o TDAH adulto era menos provável de ocorrer na mesma família do que o TDAH na infância, e que aparecia quase com a mesma frequência em homens e mulheres - ao contrário do TDAH na infância, muito mais comum em meninos.
“Nós descobrimos que aqueles com TDAH de início tardio apresentam elevados índices de ansiedade, depressão e dependência de maconha e álcool”, acrescenta o estudo.
O estudo do Brasil, que acompanhou mais de 5.000 pessoas a partir de 1993, observou que poucos adultos (12%) com TDAH haviam sido diagnosticados quando criança, e que poucas crianças diagnosticadas com TDAH (17%) continuaram na vida adulta.
Isso sugere “a existência de duas síndromes que têm trajetórias de desenvolvimento distintas”, afirma o estudo.
Aqueles que foram diagnosticados com TDAH de início tardio mostraram “altos níveis de sintomas, comprometimentos e outros distúrbios de saúde mental”, relata a investigação.
Mais pesquisas são necessárias para revelar outros fatores que podem contribuir para o aparecimento do TDAH em adultos, e se ele deve ser considerado um distúrbio distinto do TDAH na infância.
Conclusões prematuras
Um editorial que acompanha a publicação, assinado por Stephen Faraone, da SUNY Upstate Medical University, em Nova York, e Joseph Biederman, da Harvard Medical School, em Massachusetts, classificou as conclusões como interessantes, mas “prematuras”. Os diagnósticos de TDAH em adultos jovens derivaram de sintomas autorrelatados, que são “menos confiáveis” do que os relatos de pais e professores, comentaram Faraone e Biederman.
“Os adultos nos estudos do Brasil e do Reino Unido tinham entre 18 e 19 anos. Essa é uma fatia muito pequena da vida adulta para tirar conclusões definitivas”, avalia o texto.
Em vez disso, os pesquisadores devem considerar os dados como um “chamado” para realizar estudos mais rigorosos sobre o TDAH, e os médicos que tratam pacientes devem estar cientes de que o TDAH de início tardio existe e deve ser tratado - mesmo que a literatura médica diga que o transtorno deva ser diagnosticado até os 12 anos de idade -, de acordo com o editorial.
“O atual critério de início baseado na idade para o TDAH, apesar de estar baseado nos melhores dados disponíveis, pode não estar correto”, alertaram os pesquisadores.
“Esperamos que pesquisas futuras determinem se e como esse critério deve ser modificado”, completam.
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