O técnico da seleção brasileira feminina de basquete, José Alves Neto, comunicou nesta quinta-feira (27) o seu pedido de desligamento do cargo, após a demissão do preparador físico da seleção Diego Falcão, no último sábado (22).
A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) decidiu demitir Falcão por pressões das jogadoras da seleção, após ele ter feito publicações contrárias ao aborto, em meio à discussão do PL Antiaborto.
"Diante dos últimos acontecimentos envolvendo o preparador fisico da Seleção Brasileira feminina de basquetebol Diego Falcão, profissional com quem trabalho há 17 anos e sempre escolhi para estar comigo nos últimos clubes e seleções em que fui o treinador; também seguindo os princípios e valores da minha fé, da qual devo tudo o que sou e tenho, quero comunicar que hoje deixo meu cargo de treinador da Seleção Brasileira Feminina de Basquete", anunciou Neto pelas redes sociais.
Neto esteve no comando da seleção nos últimos seis anos e fez agradecimentos à CBB, ao presidente Guy Peixoto e ao vice presidente Marcelo Souza. Também agradeceu à comissão técnica e todas atletas que fizeram parte do time (veja a nota na íntegra).
Como técnico, ele foi bicampeão dos Jogos Pan-Americanos, campeão Sul-Americano e campeão da AmericupW.
“A Basquete Brasil agradece ao técnico pelo seu trabalho nesses anos e deseja boa sorte na sequência da sua carreira profissional”, disse a Confederação Brasileira de Basquete em nota.
Ao tomar conhecimento da saída do técnico, Diego Falcão enalteceu a iniciativa de Neto. “A lealdade é o alicerce da relação entre pessoas, e nada que foge disso será tido como verdadeira”. Acabou de deixar o cargo da seleção!!! Não esperava nada diferente disso. Homens de DEUS, seguimos balançando o céu!!!", escreveu Falcão.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) também elogiou a iniciativa do técnico em um comentário nas redes sociais. "Homem com H maiúsculo. Parabéns por exercer virtudes que estão escassas hoje em dia", escreveu o parlamentar.
Mais uma baixa na seleção
A demissão de Falcão também levou o preparador físico Ricardo Borin pedir desligamento da seleção brasileira feminina de basquete. Pelas redes sociais, Borin informou a sua decisão em apoio ao colega do time.
"Depois dos ocorridos no último final de semana com a demissão do preparador físico da seleção brasileira de basquete feminino Diego Falcão, decidi pedir meu desligamento da seleção. Foram 3 anos bem legais! É o ápice para um profissional chegar à uma seleção por meio da competência de seu trabalho. E me sinto honrado ter feito parte disso", comunicou o preparador.
Borin reforça que tomou a decisão após a divulgação do caso na imprensa e depois de ouvir o pronunciamento oficial de Diego Falcão. "Prefiro não fazer mais parte. Trabalho com alto rendimento esportivo, e para mim o que valida a competência de um profissional é sua competência para exercer sua função, e os resultados que ele entrega, sejam atletas ou profissionais envolvidos", disse.
"Aliás o esporte sempre foi o maior instrumento de união. E é isso que acredito e vou continuar acreditando. Também não compactuo com ambientes ditadores ou onde pessoas só podem ser elas mesmas caso partilhem de um determinado lado de opinião", complementou Borin.
Relembre o caso
A demissão do preparador físico ocorreu após ele se posicionar contra o aborto nas redes sociais. Pai de família, católico e conservador, Falcão nunca negou o seu posicionamento pró-vida e a defesa da sua fé.
Em meio às polêmicas e discussão em torno do PL Antiaborto,, Falcão publicou uma frase de Madre Teresa de Calcutá que diz “qualquer país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar qualquer violência para conseguir o que deseja”, sem qualquer referência ao projeto. A demissão foi confirmada por ele no domingo (23) em uma outra postagem e republicação de mensagens de apoio a ele.
O aborto é crime no Brasil, não punido em casos de estupro e risco de vida para a mulher (artigo 128 do Código Penal) ou quando o bebê sofre de anencefalia, por decisão de 2012 do Supremo Tribunal Federal.
O PL do Antiaborto - que teve a urgência aprovada pela Câmara, mas a discussão foi adiada para o segundo semestre - aplicava uma punição em qualquer caso quando o aborto for realizado após a 22ª semana. Com o feto obtendo condições de sobrevivência fora do útero, o crime passaria a ser equiparado ao homicídio.
Nesta quarta-feira (26), Falcão publicou um vídeo com um posicionamento oficial sobre a sua demissão. Ele diz que ficou "surpreso" com a decisão da CBBasquete e que a mensagem divulgada por ele contra o aborto foi totalmente "deturpada" por sites e algumas jogadoras. "Nunca neguei o meu posicionamento pró-vida. Já posto sobre a vida e a questão do aborto há muito tempo e mesmo trabalhando na CBB nunca houve problema, e por que agora houve problema?", declarou.
"A intolerância religiosa tá vencendo o profissionalismo. Nem no esporte e nem no Brasil pode ser assim", ressaltou.
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