Eles correspondem a praticamente um terço da população brasileira, mas ainda encontram dificuldades para se comunicar e se locomover em qualquer cidade. Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há hoje no país cerca de 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, além de 23,5 milhões de idosos, que, em grande parte, têm limitações de locomoção.
A falta de profissionais capacitados para atender pessoas com deficiência visual e auditiva em órgãos públicos e a precariedade dos passeios permanecem como os principais entraves para que esses brasileiros possam usufruir e participar do convívio urbano. Restrições que já estão sendo vencidas, em parte, com o auxílio da chamada tecnologia assistiva: equipamentos e softwares voltados para promover a acessibilidade das pessoas com deficiência, dentro de casa ou nas ruas.
Já disseminados no exterior, esses produtos começam a se tornar mais presentes no Brasil e no Paraná. Neste mês, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) inicia a implantação de centrais de atendimento a surdos com intérpretes virtuais. Em outras frentes, pesquisadores paranaenses desenvolvem aparelhos para garantir vagas de estacionamentos para quem tem deficiência física ou permitir que pessoas tetraplégicas possam navegar na internet.
"Acessibilidade não é só a largura das portas dos banheiros ou rampas no lugar de escadas. É permitir a comunicação, a facilidade no transporte. Nesses casos, a tecnologia pode ser o melhor caminho", afirma o engenheiro-mecânico Sergio Yamawaki, inventor do Totem de Acessibilidade.
De longe, em Libras
Desenvolvido nos Estados Unidos e comercializado no Brasil por uma empresa de Londrina, o Vpad é um instrumento semelhante a um tablet que permite uma espécie de teleconferência com intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Neste mês, 25 aparelhos serão instalados em unidades do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). O surdo aciona o Vpad e o intérprete passa a atendê-lo, ao mesmo tempo em que repassa as informações e pedidos para o funcionário do Crea-PR que estará junto do aparelho. O Vpad também serve para uso doméstico o surdo chama a central e o intérprete liga para o telefone desejado.
Bengala eletrônica
As bengalas eletrônicas surgiram nos Estados Unidos e servem para impedir que cegos, ao caminhar por calçadas e ruas, batam de frente em orelhões, postes e árvores. Através de emissões de ondas, como em um sonar, os aparelhos conseguem avisar ao cego que em frente dele há um objeto. Para isso, a bengala vibra ou emite um bip quanto mais intensa a vibração, mais perto o objeto. Os aparelhos importados ainda são caros em torno de 1,5 mil a 2 mil dólares mas, recentemente, pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina, criaram uma bengala nacional, com as mesmas funcionalidades.
Totem dedo-duro
Criado pelo engenheiro curitibano Sergio Yamawaki, é um painel eletrônico que pode ser instalado junto a vagas de estacionamento para idosos e pessoas com deficiência física. A ideia é que credenciais eletrônicas, em forma de chips, sejam entregues para aqueles que têm direito às vagas. Assim, quando outro motorista tenta utilizar o espaço indevidamente, aparece um aviso no painel eletrônico e, caso o condutor permaneça no local, avisos sonoros chamam a atenção do infrator e de quem estiver por perto. O totem já foi apresentado em Brasília para o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a expectativa é que ele possa ser implantado em larga escala no país em breve, começando por Curitiba.
Cursor inteligente
O grupo Imago, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), especializado em tecnologia de ponta, aprimora atualmente uma ferramenta que nasceu no Departamento de Informática da instituição. Chamado de MouseEye, o software permite que pessoas tetraplégicas possam mover o cursor na tela de um computador usando os olhos. Uma câmera reconhece o rosto do usuário e identifica a direção do movimento desejado. O clique é realizado piscando os olhos. Criado para ser usado com uma webcam normal, o MouseEye está sendo testado com câmeras 3D, que devem aprimorar o reconhecimento. "Ferramentas como essa permitem que o deficiente tenha uma interação mais prática, que não seja cansativa ou tediosa", afirma o professor Luciano Silva, um dos coordenadores do Imago.