Quando cada movimento é um desafio e cada curva, uma surpresa; quando não é possível antever um obstáculo e torna-se impossível distinguir os arredores; quando uma tarefa diária do trabalho precisa da ajuda de outros; a tecnologia entra como uma aliada. Na ponta dos dedos, pode estar uma solução para dar mais autonomia a quem nem sempre consegue fazer sozinho tudo o que gostaria devido a alguma deficiência física.
Nesse sentido, pesquisadores brasileiros buscam soluções para facilitar a vida de quem tem dificuldades para se comunicar ou locomover. Em Curitiba, o curso para técnico de mecânica da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFR) tem uma disciplina para quem deseja desenvolver soluções pontuais para pessoas com deficiência.
[Com o programa] crianças e adultos cegos ou com baixa visão conseguem usar computadores de forma eficaz em sua escola ou emprego
O professor Francisco Gödke ressalta que a tecnologia assistiva propõe o desenvolvimento de equipamentos a baixo custo e de fácil acesso. “Temos como premissa que o desenvolvimento exija baixa mecanização e não precise de maquinários para desenvolver as peças. Temos parceria com as escolas especiais de Curitiba e região. Desde 2010, os protótipos são doados para escolas”, diz.
A UTFPR também disponibiliza um software desenvolvido internamento chamado de Emulador de Teclado e Mouse. O programa pode ser baixado gratuitamente no site do curso ( http://www.damec.ct.utfpr.edu.br/assistiva/). Com esse software, pessoas tetraplégicas ou com outras dificuldades motoras e de comunicação, podem usar o computador com mais facilidade.
Cadeira
Nos laboratórios do Rio Grande do Sul, pesquisadores desenvolvem uma cadeira de rodas tecnológica. Batizado Hefestos – deus grego com defeito nas pernas, renegado por suas deformidades pelo próprio pai, Zeus –, o projeto aproveita as tecnologias móveis, hoje à disposição de todos, para auxiliar as pessoas com deficiências.
A auxiliar administrativa Rosane Falcão, 32 anos, pôde testar os benefícios dessa tecnologia. Em uma cadeira de rodas aparamentada com dispositivos eletrônicos diversos – incluindo uma placa com processador especial, suporte bluetooth e identificação por radiofrequência –, bastam alguns toques na tela de um tablet para que ela possa ver onde há rampas de acesso, banheiros e elevadores adaptados a cadeirantes. E, caso se perca ou precise do apoio de alguém, a ajuda está a um botão de distância.
Acoplar tecnologia à cadeira de rodas também foi um trabalho desenvolvido por estudantes do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção de Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). O grupo desenvolveu uma cadeira para paratletas com um sistema de aquisição de dados biométricos. Esse sistema mede a temperatura corporal, pressão arterial e nível de oxigênio no sangue do paratleta.
Crítica
O empreendedor social e deficiente visual Fernando Botelho acredita que é necessário melhorar o acesso aos produtos que resultam das pesquisas em tecnologia assistiva. “Algumas universidades fazem pesquisa na área, mas, normalmente, as tecnologias desenvolvidas não são comercializadas ou distribuídas efetivamente. Precisamos melhorar a forma com que editais de apoio a pesquisa são desenhados e facilitar a cooperação entre universidades e empresas”, critica Botelho. Ele desenvolveu o aplicativo F-123, que auxilia deficientes visuais.