Questão ambiental
Abate gera discussão
Em meio à batalha para tirar os pombos da área urbana, a prefeitura de Londrina não descarta abater as aves. A medida, no entanto, não é vista como a melhor saída por especialistas. Em 2010, o abate de pombos chegou a ser liberado no município pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas, ainda assim, não chegou a ser executado.
A infectologista Jamile Sardi Perozin, do Hospital do Câncer de Londrina, defende que nem sempre os casos de criptococose estarão associados aos pombos, já que o fungo causador da doença pode ser encontrado na natureza.
Flávio Queiroz Telles Filho, também infectologista, emenda que cidades do interior do Paraná, como Londrina, quase não têm mais bosques ao seu redor. Com isso, os pombos se alimentam em áreas de plantio e se aglomeram em árvores da cidade para dormir.
A sujeira, o mau cheiro e o risco de doenças estão levando Londrina a apostar na tecnologia para espantar os pombos da área urbana. Equipamentos eletromagnéticos foram instalados em locais de grande concentração dos animais, na busca por afastá-los da região central. Ainda em fase de testes, a ação é mais uma das intervenções humanas contra as aves. Nos últimos anos, as tentativas incluem uso de rojões, criação de um pombal, colocação de repelentes químicos e sonoros e poda de árvores. Mas, pouco adiantou: os pombos resistiram e continuam como parte da paisagem, em especial, do Bosque Central.
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a cidade tem de 200 mil a 400 mil pombos. A maioria se alimenta no campo e usa árvores do centro como dormitório. Além do incômodo com a sujeira que fazem, os animais poderiam estar provocando mortes. A mais recente ocorreu em março passado, quando um homem de 47 anos ficou debilitado pela criptococose, doença provocada por um fungo encontrado nas fezes dos pombos.
Especialista em aves, o veterinário Ivens Gomes Guimarães avalia que o controle dos pombos é necessário e que as ações não podem ser isoladas. "Os nichos são dinâmicos, variam conforme condições, por exemplo, de alimentos. É preciso estudar a época em que a população cresce, onde isso ocorre e estabelecer estratégias".
Micoses
O infectologista Flávio Queiroz Telles Filho, do Hospital das Clínicas de Curitiba, observa que as principais doenças transmitidas por pombos são a psitacose ornitose e a histoplasmose, ambas micoses pulmonares; e a criptococose, considerada por ele a mais séria de todas. A infecção se dá pela aspiração de esporos encontrados nos excrementos secos de pombos e tende a afetar, principalmente, o sistema nervoso. "É o principal agente de meningite por fungo", explica.
A doença tem entre os sintomas fortes dores de cabeça, visão turva, náuseas e confusão mental. "A taxa de mortalidade atinge em média 20% dos casos", estima o médico, que, apesar da situação em Londrina, não considera alto o número de mortes no município. "Em Curitiba, tratamos de 20 a 30 casos por ano no HC. O lugar no mundo onde há mais óbitos é na África, onde os casos estão mais associados à falta de tratamento do HIV".
Estratégia
Repelente dá certo em locais fechados
Repelentes eletromagnéticos contra pombos foram instalados em agosto em dois locais da cidade na Praça Sete de Setembro, na área central, e no Terminal Urbano Irerê. A estratégia apresentou resultado em dez dias no terminal. Os pombos deixaram o local para se esconder em uma igreja e numa casa abandonada nas imediações. Mas, na praça, as aves fizeram até ninho ao lado dos equipamentos.
Segundo o secretário Municipal de Meio Ambiente, Cleuber Moraes Brito, a tecnologia empregada consiste na emissão de ondas eletromagnéticas que atingem o bico dos pombos. Eles ficam desorientados e vão para outros lugares. "O caso do Irerê está consolidado, em qualquer outro lugar que seja prédio já temos uma solução." Já na praça, argumenta Brito, tudo indica que será preciso buscar outras alternativas.
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