O fotógrafo Sebastião Salgado entregou à presidente Dilma Rousseff, em Brasília, uma proposta de recuperação do Vale do Rio Doce após o desastre das barragens da mineradora Samarco - uma joint venture da Vale e da BHP Billiton - na região. Nascido em Aimorés - cidade do leste mineiro afetada pela catástrofe -, o fotógrafo conduz trabalhos de recuperação ambiental na região desde 1998. Neste domingo (15), ele deu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Como foi possível apresentar uma proposta de recuperação do local em tão pouco tempo?
Trabalhamos na região há muito tempo e temos um projeto de recuperação de todas as nascentes do Rio Doce, aprovado pelo BNDES, mas parado por causa da restrição orçamentária. Temos cerca de 377 mil nascentes no Rio Doce e precisamos recuperar ao menos 300 mil delas, a um custo que varia entre R$ 12 mil a R$ 15 mil por propriedade rural.
Como a presidente e os governadores de Minas e do Espírito Santo reagiram à proposta?
A recepção deles foi perfeita porque eles não têm plano, não há alternativa, e oferecemos uma. A gente propõe negociar com a Vale e a BHP, as duas maiores mineradoras do mundo, para a criação de um fundo gerido de forma público-privada. Temos uma referência do que é um fundo necessário para uma catástrofe desse tamanho, pois após a tragédia no México a British Petroleum pagou algo na casa dos U$ 20 bilhões.
E como o fundo seria utilizado?
Vamos ter um grupo e criar um programa de utilização desse fundo. Vamos precisar recuperar as nascentes e matas ciliares, instalar em cada uma das cidades um tratamento de esgoto para que separe a poluição que acontece naturalmente. Minha ideia é ter um fundo investido para que passe a ser uma forma eterna de amparo. Esse vale não vai se recuperar antes de 20 ou 30 anos. São projetos de longo prazo. Só o nosso projeto de nascentes leva de 15 a 20 anos para ser executado. Não pode ser uma proposta humilde.
Como conseguir a adesão das empresas?
Tenho quase certeza de que as empresas terão boa vontade em participar. O nome da Vale, até muito pouco tempo, era Vale do Rio Doce, empresa que nasceu aqui. Ela é o maior empregador da região. É uma empresa responsável. A Vale é um dos nossos sponsors (patrocinadores) do projeto já desde o início.