A alternância de dias muito quentes e muito frios que o país viveu neste inverno, se olhada individualmente, pode ser explicada pela variação normal do clima. Mas se observada dentro de uma sequência de oscilações de eventos extremos ao longo dos últimos anos pode ser interpretada como mais um sinal de que as mudanças climáticas já estão acontecendo.

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Essa é uma das conclusões que podem ser tiradas do primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O trabalho é resultado do esforço de 345 pesquisadores, das mais diferentes áreas, que avaliaram estudos feitos desde 2007 sobre os impactos do aquecimento global no Brasil.

"Oscilações de extremos são coincidentes com as mudanças climáticas. Com o aquecimento da atmosfera, ela fica mais instável, o que cria uma variabilidade de extremos. Do muito quente para o muito frio. Do muito úmido para o muito seco", explica o meteorologista Tercio Ambrizzi, da Universidade de São Paulo (USP), coordenador do grupo de trabalho 1 do painel.

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Ao analisar o histórico de ocorrência desses eventos, os pesquisadores observaram que, nos últimos 30 anos, tem aumentado a frequência de chuvas fortes (com mais de 60 milímetros de água) no inverno do Sul e do Sudeste, onde a estação é seca. "Isso não ocorria antes dos anos 70, por exemplo. Se fosse uma ou outra chuva só, poderia ser uma simples variação, mas o aumento desses eventos nos diz que algo está diferente. É uma resposta local às mudanças globais", afirma. O mesmo vale, diz ele, para as duas secas históricas experimentadas pela Amazônia em 2005 e 2010.

Projeção

Esse olhar sobre o passado, somado aos trabalhos com modelagens climáticas, ajuda a entender o que as projeções têm indicado para as próximas décadas. O relatório mostra uma elevação de temperatura de 2,5°C a 5°C nos meses de verão, e de 3°C a 6°C no inverno, até o final do século. A variação depende do bioma analisado.

Em relação às chuvas, há uma previsão de diminuição de até 50% no inverno no Nordeste e aumento de até 35% no Rio Grande do Sul. "O que as projeções mostram coincide com o que já estamos sentindo", comenta Ambrizzi.