"O que interessa para nós é que a posse das áreas seja reintegrada, e que os índios sejam assentados em locais que o governo federal vai ter que encontrar."
Fabian Vendruscolo, prefeito de Guaíra.
O convívio entre índios e proprietários rurais no Oeste do Paraná, onde a demarcação de reservas indígenas foi interrompida a pedido da Casa Civil na semana passada, tem sido marcado pela hostilidade. A situação se agravou do fim do ano passado para cá, quando um posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi instalado em Guaíra, na fronteira com o Paraguai, e os produtores rurais passaram a se organizar para reivindicar a reintegração de posse de áreas invadidas.
Protestos durante a visita da presidente Dilma Rousseff à região, em fevereiro, fizeram com que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, interviesse e pedisse estudos complementares sobre a criação da reserva guarani pretendida pela Funai.
Foram esses estudos que culminaram no pedido de interrupção do processo de demarcação, na semana passada. O governo já anunciou que vai alterar o processo de demarcação de terras indígenas, que contará com a participação de outros órgãos além da Funai.
Acusações
No Paraná, índios e fazendeiros trocam acusações de vandalismo e intimidação. Os proprietários das terras invadidas, nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, acusam os índios de terem vindo do Paraguai e de outros estados, "incitados" pela Funai. A região é um dos maiores polos agrícolas do Paraná.
"Incitam os índios com promessas, com benefícios de governo", diz o presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Guaíra, Silvanir Rosset. "Os índios invadem áreas, saqueiam, não têm limites. E, como são índios, são intocáveis." Os produtores dizem que o fluxo migratório aumentou no fim do ano passado, e que as terras invadidas são depredadas e queimadas.
Indigenistas negam e dizem que a população indígena na região de fronteira vive "como uma bola de pingue-pongue", com características nômades, mas que tem direito histórico às terras.
"Aquela região é historicamente indígena. E nenhum índio saiu porque quis, todos foram compelidos a deixar esses lugares", comenta o indigenista Edívio Battistelli. Para eles, os índios é que têm sido intimidados. Há relatos de indígenas que são xingados de "bugrinhos" e "invasores", e de jovens que cometeram suicídio.
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