Cresce o número de pessoas sozinhas
Pelo menos 5,1 milhões de mulheres brasileiras afirmaram, no ano passado, que vivem sozinhas. O número é maior do que o de homens: 4,3 milhões. Nos últimos 16 anos, o porcentual de domicílios formados apenas por mulheres cresceu de 6,2% para 8,9% um aumento maior que o do público masculino (era 5,4% e subiu para 7,5%). Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Sem pressão
Segundo a professora do curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Samira Kauchakje, a mudança cultural faz com que as pessoas se sintam mais à vontade para viver da maneira como desejam. "Diminuiu a pressão, principalmente em relação às mulheres, pelo casamento precoce e pela necessidade de ter filhos", diz. Para ela, isso também é resultado da mudança dos princípios religiosos. "Hoje já é considerada família aquela pessoa que vive sozinha, apenas com seus bichos de estimação", comenta Samira. (PM)
Ter filhos já não é mais uma prioridade para os casais brasileiros. O número de cônjuges que declararam não ter crianças cresceu nos últimos 16 anos, entre 1992 e 2008, de 4,9 milhões para 10,1 milhões. O Paraná segue a tendência. No mesmo período, dobrou a quantidade de casais que disse não ter filhos: em 1992 eram 305,6 mil e, no ano passado, foram 662,5 mil. Os dados nacionais são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008.
A escolha pela vida a dois é um reflexo do mundo moderno: homens e mulheres estão, cada vez mais, postergando ou anulando a possibilidade de ver a família crescer. "Houve uma mudança no planejamento familiar. Hoje ele está muito mais ligado aos estudos e ao consumo. Os casais querem, antes de ter filhos, conquistar uma estabilidade profissional e comprar a casa própria", explica a professora do curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Samira Kauchakje. Ela lembra que a opção da mulher pelo mercado de trabalho e por uma maior escolarização também retarda diretamente as chances de engravidar. "Quando ela casa, às vezes já passou do período fértil", afirma.
O Ipea mostra ainda que diminuiu a taxa de fertilidade antes era de 1,8 filho por mulher e agora é 1,4. O sexo feminino também está cada vez mais atarefado: a proporção de lares chefiados por elas aumentou consideravelmente no Brasil em 16 anos passou de 4,5% para 31,2%.
Os reflexos das mudanças de hábito dos casais e, principalmente do sexo feminino, contribuem diretamente para o envelhecimento da população. A expectativa do IBGE é de que, daqui a 16 a 20 anos, a população idosa se iguale ao número de jovens e crianças. O Ipea mostra ainda que o Brasil vai atingir, em 2030, o número máximo da sua população: 206,8 milhões. Por outro lado, depois de 10 anos (em 2040), a quantidade vai cair para 204,7 milhões, o que comprova a tendência de um país que está envelhecendo. A inversão da pirâmide (mais idosos do que jovens) vai acontecer ainda mais rápido no Sul. "A expectativa de vida no Paraná, por exemplo, é dois anos maior do que a média nacional. Um paranaense vive, em média, 74,1 anos", explica o analista do IBGE Luis Alceu Paganoto.
A quantidade de idosos dobrou nos últimos 16 anos. O Paraná tinha 591 mil pessoas com mais de 60 anos em 1992 e, no ano passado, chegou ao número recorde: 1,1 milhão, um aumento de 100%. Também cresceu consideravelmente a quantidade dos que conseguem ultrapassar os 70 anos: antes os "idosos mais velhos" eram 206 mil e, no ano passado, o estado chegou a ter 480 mil.
"É o reflexo de uma sociedade tipicamente urbana, em decorrência das próprias dificuldades que as pessoas encontram para se viver neste meio. Este envelhecimento é problemático", afirma o sociólogo da PUCPR Lindomar Wesslier Boneti. O Brasil pode vir a ter um nível de desenvolvimento melhor, por outro lado, segundo Boneti, vai enfrentar diversos conflitos, principalmente na área da saúde, da assistência social e com a falta de mão-de-obra. "Este envelhecimento é um equívoco cultural, em que a criança é tida como um problema. É errado pensar que a felicidade pode ser encontrada apenas no isolamento, na individualidade. Na Europa, é muito estranho perceber que os lugares são feitos somente para os adultos, não há vida infantil", comenta.
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