Pacientes cardíacos com doença de Chagas que receberam injeções de células mononucleares - incluindo células-tronco - da própria medula óssea não tiveram melhora clínica detectável, segundo os primeiros resultados de um estudo nacional projetado para avaliar a eficácia de terapias celulares no tratamento de doenças do coração. Os pacientes até que melhoraram. O problema é que os que receberam só uma injeção de solução salina (placebo) melhoraram tanto quanto aqueles que receberam as células.

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"Conclusão: injeção intracoronária de células mononucleares autólogas (do próprio paciente) extraídas da medula óssea não melhora a função do ventrículo esquerdo ou a qualidade de vida de pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica", decreta o estudo, publicado na edição mais recente da revista científica Circulation. O trabalho é assinado por 12 médicos e cientistas brasileiros, ligados a nove hospitais de São Paulo, Paraná, Goiás, Bahia e Pernambuco.

Trata-se de um dos quatro braços de estudo que compõem um grande projeto clínico sobre terapias celulares aplicadas ao coração, lançado em 2005, com financiamento do Ministério da Saúde e coordenado por Antônio Carlos Campos de Carvalho, do Instituto Nacional de Cardiologia e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As outras três linhas de pesquisa, ainda em andamento, são para cardiomiopatia dilatada, isquemia crônica e infarto agudo do miocárdio.

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No caso dos chagásicos, o estudo envolveu 183 pacientes em estágio avançado da doença, com fração de ejeção menor que 35% (uma medida da capacidade do coração de bombear sangue). De todos eles, foram coletadas células mononucleares da medula óssea. Metade dos pacientes teve as células reinjetadas em suas artérias coronárias. A outra metade recebeu só uma injeção de solução salina.

Os pacientes foram selecionados aleatoriamente para cada grupo. Nem eles nem os médicos sabiam quem tinham recebido o que - células ou placebo - até o final do estudo. Todos receberam o mesmo tratamento padrão e foram acompanhados por pelo menos um ano. Na média, 12 meses após a injeção, a fração de ejeção do grupo que recebeu as células aumentou de 26,1% para 29,6%. Enquanto no grupo placebo aumentou até um pouco mais, de 26,1% para 31,3%.

"Não houve diferença de eficácia entre os grupos", resumiu Carvalho, em entrevista. Segundo ele, o resultado não significa que a terapia celular esteja morta como opção para o tratamento de chagásicos. Significa, apenas, que ela não funcionou dessa maneira específica como o estudo foi feito.

Os cientistas planejam novos experimentos com outros tipos de células e protocolos diferentes - por exemplo, com pacientes mais precoces e injeção de células diretamente no músculo cardíaco. "Continuo muito entusiasmado com a perspectiva de que a terapia celular terá um papel importante na medicina do futuro", afirma Carvalho.

A médica Valéria Carvalho, do Hospital Sírio-Libanês, também não ficou decepcionada. "Não podemos descartar um eventual efeito terapêutico dessas células, utilizando outros protocolos", diz. "Há muitas questões em aberto que só poderão ser respondidas com mais pesquisas."

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"A lição mais importante desse estudo é que o chagásico é muito mal tratado no Brasil", diz o pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos, do Hospital San Rafael, na Bahia, referindo-se ao fato de que os pacientes participantes melhoraram simplesmente por receber um atendimento médico de melhor qualidade. Os chagásicos são tipicamente pessoas de baixa renda, dependentes do sistema público de saúde.