Um terreno de 5 mil metros quadrados no bairro Fazendinha, em Curitiba, é explorado, há nove anos, como ponto de venda de veículos irregulares, produtos furtados e contrabando. A área de terra batida é conhecida na região como a "Pedra", uma espécie de feira de carros usados na esquina das ruas Raul Pompéia e Waldemar Cavanha, em pleno centro comercial formal do bairro. O detalhe é que o terreno pertence à prefeitura, que nunca reclamou a área.
A simples menção do nome do feirão causa arrepios em parte dos moradores e comerciantes da região. É um local "barra pesada" (expressão ouvida diversas vezes pela reportagem), onde brigas e tiros podem ocorrer a qualquer momento. A "Pedra" oferece de tudo de CDs piratas a aparelhos de celular, passando por equipamentos de som, televisores, tênis e peças para carros. O problema é a procedência. Nada é vendido com nota fiscal e a origem quase sempre é mal explicada. Apenas os produtos aparentemente novos, que vem do Paraguai, inspiram alguma confiança. Os demais, em sua maioria, seriam oriundos de arrombamentos cometidos na região, de acordo com denúncias feitas à reportagem.
Um empresário do Fazendinha, que não será identificado por questões de segurança, teve o CD player do carro furtado no ano passado. Como já conhecia a fama da "Pedra", foi ao local para ver se achava o som. Não deu outra. Ele acionou a polícia e conseguiu recuperar o equipamento. "Quando voltei com o policial, o sujeito tinha escondido o som. Só na delegacia ele devolveu", conta. Depois disso, por ser conhecido no bairro, foi ameaçado de morte. "A Pedra é uma boca quente. Ali só tem bandido e quem se mete com eles corre risco", alerta.
Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, qualquer um que queira vender um carro ou algum produto no terreno precisa pagar uma comissão às pessoas que se apresentam como "donas da área". Na venda de um carro, por exemplo, o valor seria de R$ 150. Em agosto de 2004, em plena tarde de uma segunda-feira, uma mulher foi baleada (com quatro tiros) na "Pedra" por se recusar a pagar a suposta taxa. Ela escapou com vida, segundo noticiou a imprensa na época.
Intimidação
A reportagem da Gazeta do Povo esteve no local e a visão realmente intimida. Dezenas de homens, aparentemente desocupados, ficam em pequenos grupos em meio aos carros usados sempre atentos à movimentação no terreno. Eles se diferenciam dos ambulantes, que estão sempre prontos a oferecer alguma pechincha.
A primeira tentativa de entender o funcionamento da "Pedra" foi infrutífera. As respostas vinham em forma de perguntas do tipo "por que quer saber?" ou "quem é você"? Nas demais tentativas um simples "não sei de nada" encerrava a conversa antes mesmo de começar. Confirmar o pagamento da taxa, então, nem pensar.
Mas a cobrança acontece, segundo testemunhas. "Se você levar o carro lá, alguém logo te aborda e explica o sistema. Se não concordar tem de sair. E quem é que vai contestar?", indaga um morador da região, que também pediu para não se identificar aliás uma condição imposta pela maioria dos entrevistados.
O silêncio também impera no comércio ao redor da "Pedra". Ninguém quer arrumar confusão com os "chefões" do terreno, que se beneficiam de uma área pública. "Todo mundo tem medo. Eu mesmo evito até de passar a pé lá pelo meio", diz um comerciante.
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