Cunhada no século 3 antes de Cristo, pesando quase 400 gramas de puro bronze, a mais antiga moeda romana armazenada no Museu Paranaense, em Curitiba, não passa despercebida. De longe é possível notar a imponência dessa relíquia de 2,3 mil anos. Ela é uma das 23 moedas tanto da República (509 a. C. a 27 a.C.) quanto do Império (27 a.C a 476 d.C.) romanos que formam um tesouro arqueológico de valor inestimável.
Junto com outras seis moedas da Idade Média, elas fazem parte de um enigma. Ninguém sabe de que maneira toda essa riqueza histórica atravessou o Oceano Atlântico, resistiu por séculos e veio parar na capital do Paraná. O Museu Paranaense e o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, são os únicos do Brasil a ter moedas do Império Romano.
No caso paranaense, não há registros detalhados sobre o histórico do acervo, que entrou em exposição na sexta-feira (26). A hipótese mais plausível, segundo o diretor do Museu, Renato Carneiro, é de que pelo menos parte dessas moedas tenham vindo na bagagem dos imigrantes europeus que ocuparam o estado a partir das últimas décadas do século 19 e começo do 20.
Carneiro explica que não é absurdo pensar que portugueses, italianos, franceses, espanhóis, ingleses, entre outros povos, tenham trazido “uma ou outra moeda encontrada enquanto se arava a terra em seus países natais”. “Afinal, muitos desses imigrantes vinham de regiões outrora dominadas pela cultura e economia romana, ocupadas por legionários que recebiam seu soldo em moedas romana”, afirma.
Origem
A precariedade de registros dos primeiros tempos do acervo do Museu Paranaense, que foi criado em 1876, impede de se conhecer a verdadeira origem das peças datadas do Império Romano. “Isso é que mais instiga a nossa curiosidade. Aos historiadores fica, por enquanto, a possibilidade de lançar hipóteses”, comenta Carneiro.
O Livro Tombo – onde é registrado o acervo de uma instituição – mais antigo do Museu foi organizado em 1933 e encerrado em 1966, e possui o lançamento de cerca de 20 moedas cuja origem está assinalada como sendo da Roma Antiga, todas com data de entrada de 25 de novembro de 1933. Mas não há especificações de quem doou a maior parte das moedas.
Antes desse período, no Guia do Museu Paranaense de 1900, o então diretor do espaço, Agostinho Ermelino de Leão, chegou a descrever o acervo disposto. Nas páginas 14 e 15, apresentava o acervo da seção de Numismática. Segundo o texto, na vitrine número 4 tem-se o registro ‘Collecção de medalhas desde o tempo de Marco Aurélio (162 a 180 annos da era vulgar)”. “É a primeira informação pública de que o museu seria possuidor de objetos tão antigos que remontavam ao Império Romano”, ressalta Carneiro.
Pote de moedas
Apenas duas moedas medievais, portanto mais recentes e datadas de meados dos anos 1400 depois de Cristo, possuem indicativo de quem doou: o português que morou em Curitiba Rui de Sampaio e Mello. Pouco se sabe sobre o doador e menos ainda de como ele tinha essas moedas. Reza a lenda de que um raio teria atingido uma árvore na propriedade de Rui em terras portuguesas. Esse raio teria caído sobre um pote com algumas moedas medievais que estaria enterrado. “Fica realmente difícil de conhecer a verdadeira história, mas essa é uma boa história”, diverte-se o diretor do Museu.