Após mudanças como o encurtamento de linhas e fim da tarifa única, o transporte coletivo metropolitano integrado a Curitiba decidiu trazer uma facilidade para a vida do usuário e agora conta com acesso Wi-Fi em 24 pontos de embarque. A Gazeta do Povo testou o serviço oferecido nas linhas metropolitanas e conseguiu acesso satisfatório em 18 locais. O benefício no sistema metropolitano foi prometido pela gestão Beto Richa no ano passado, junto a um pacote de novidades para essas linhas na esteira do raxa na gestão da Rede Integrada de Transportes (RIT). Na prática, a implantação da internet gratuita coube às próprias empresas -- para quem a administração estadual delegou a gestão financeira do sistema. E, apesar de ainda pouco conhecido, o serviço é aprovado por quem já o utiliza.
Veja o que funcionou e o que não funcionou
Dirlene Fonato, 21, mora em Colombo, trabalha em Curitiba e acessa a internet do Terminal do Maracanã desde que tomou conhecimento da novidade por meio de uma reportagem compartilhada no Facebook. “Uso o Wi-Fi enquanto espero o [a linha] Ana Terra. É uma mão na roda”, disse a estagiária em educação física, que ressaltou negativamente o fato de essa linha circular com intervalos de 40 minutos.
Curitiba
A oferta de conexão gratuita à internet também está sendo implantada nos terminais da capital. Dos 22 terminais de Curitiba, seis devem ter acesso à internet até o fim do ano e os demais apenas em 2017. O Terminal do Capão Raso foi o primeiro a ganhar a novidade.
Há, porém, pontos em que a conexão não se completou no teste realizado pela reportagem no mês passado (veja infográfico). De acordo com a Metrocard, o sinal ainda está sendo ampliado em todos os hotspots já disponíveis. Em nota, a associação informou ainda que “o serviço oferecido de forma aberta e gratuita aos passageiros ainda está em fase de testes e que isso pode causar eventuais instabilidade no acesso”.
Passageiro que embarca no Terminal Central de Araucária, Guilherme Assis, 23, lamenta ainda não ter conseguido conexão nesse ponto. “Faz tempo que tento. Seria bom para esperar o ônibus e economizar crédito, mas deve ser culpa do sinal”, afirmou o assistente administrativo.
Também ainda há certo desconhecimento sobre o serviço. O novo Terminal de Fazenda Rio Grande, por exemplo, teve mais de 11 mil acessos em junho -- 92% do total daquele mês. Mas durante uma visita de meia hora na última semana, a reportagem teve dificuldade em encontrar alguém que o conhecesse. Alertada da possibilidade, Giselle de Araújo, 37, comemorou a novidade. “Agora vou navegar”, disse ao se conectar pela primeira vez.
Para informar a população, as empresas de ônibus estão fixando adesivos nas cabines dos cobradores dos terminais. Além disso, elas têm feito ações publicitárias na mídia em geral e também em suas páginas institucionais. Até o final de junho, 37 mil conexões haviam sido realizadas desde que o serviço foi criado – em média -- 600 conexões por dia. Os terminais de Piraquara, do Guadalupe e do Pinheirinho estão na lista para serem os próximos a oferecer o novo serviço.
Wi-fi nos ônibus pode não sair da promessa
Apesar da promessa cumprida de disponibilizar Wi-Fi nos pontos de embarque, outra novidade aguardada por passageiros pode não sair do papel. Segundo a Metrocard, o acesso à internet dentro dos ônibus está sendo reavaliado por conta da amplitude do sinal de rede na região. “A associação está avaliando a continuidade ou não deste projeto, em virtude de questões tecnológicas que fogem ao controle da empresa”.
Falando em termos técnicos e não necessariamente sobre a região metropolitana de Curitiba, Renato Carneiro, presidente da 2S Inovações Tecnológicas, disse que dificuldades com a amplitude do sinal podem ser dribladas com os equipamentos à disposição no mercado. “Para ter Wi-Fi no ônibus, você precisa de um roteador robusto e é aconselhável que seja para duas operadoras. Quando houver sombra de cobertura de uma, a outra cobre o sinal”.
Segundo Carneiro, algumas empresas têm colocado roteadores comuns – de uso doméstico -- nos ônibus de outras praças e isso atrapalha esse tipo de projeto. “Roteadores mais baratos não resistem à operação dentro de um veículo”, explicou o presidente da empresa. A 2S é a responsável pela implementação da tecnologia de Wi-Fi a bordo nos ônibus que estão fazendo o transporte dos convidados de uma multinacional na Rio 2016. A solução também foi implantada em 18 ônibus de um dos patrocinadores dos jogos olímpicos.
Esse tipo de serviço também já foi testado em Curitiba. Por aqui, os veículos em teste da chinesa BYD e da sueca Volvo disponibilizaram Wi-Fi aos passageiros -- um deles, inclusive, está em operação. A montadora asiática também colocou um ônibus elétrico em teste em Fazenda Rio Grande, mas ele não contava com esse serviço.
Não é só isso
Estudo recente publicado pela Transit Center, uma organização norte-americana, mostrou que oferecer acesso à internet no transporte coletivo é positivo, mas não é fator preponderante para atrair mais passageiros. A organização com sede em Nova Iorque separou em conjuntos de quatro itens situações hipotéticas para que os passageiros apontassem a mais importante e as menos importantes. Tempo de viagem, frequência e custo foram as que receberam a melhor avaliação. Acesso à internet ficou na última colocação de uma lista que totalizou 13 itens.
Outro ponto destacado na pesquisa é o conforto e, nesse item, alguns terminais metropolitanos ainda derrapam. Reportagem publicada pela Gazeta do Povo em janeiro de 2015 mostrou a situação de penúria desses locais, em especial da do Terminal do Cachoeira, em Almirante Tamandaré. Lá havia uma promessa de reforma e ampliação para 2014, que até agora não saiu do papel. O governo do Estado afirmou que houve um impasse para a desapropriação de um imóvel herdado por mais de 50 pessoas, mas que o projeto está pronto e que a Procuradoria do Estado trabalha no caso. A Comec informou ainda que, no início deste ano, a Prefeitura fez a limpeza e a pintura no local, mas que ele voltou a sofrer atos de vandalismo em seguida. Esse foi um dos seis pontos sem conexão.
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