Testemunhas ouvidas pela polícia afirmam ter visto o goleiro Bruno com Eliza Samudio e o filho no sítio que o jogador tem em Minas no começo de junho, dias antes de a modelo desaparecer.
A versão é diferente da que foi dada pelo atleta do Flamengo, apontado pela polícia como principal suspeito pelo sumiço de Eliza, desaparecida há 20 dias.
"Eu estive com ela há uns, não sei dizer muito bem, mas talvez uns dois, três meses atrás quando fui conhecer a criança", afirmou o goleiro sobre o caso na semana passada.
O desaparecimento de Eliza Samúdio começou a ser investigado depois de denúncias de que ela havia sido agredida no sítio que pertence ao jogador. Para a polícia, Bruno é o único suspeito.
A reportagem tentou contato durante toda a semana com o goleiro Bruno para comentar o caso. Ele chegou a marcar uma entrevista no sábado (3), mas desmarcou minutos antes. Hoje no fim da tarde a equipe do "Fantástico" falou com ele pelo telefone e o atleta prometeu marcar uma nova data para a entrevista.
Ao todo, 25 pessoas já prestaram depoimento. De acordo a polícia, no dia 9 de junho, Eliza Samudio ligou para uma amiga. O rastreamento telefônico apontou que ela estava numa região próxima ao sítio. Esse teria sido o último contato da modelo.
Mas de acordo com depoimento do administrador do sitio, Elenilson Vitor, ele teria visto Eliza no dia 10 de junho.
O desaparecimento de Eliza é investigado desde o dia 24 de junho, quando um informante diz que Eliza Samudio foi violentamente agredida até a morte no sítio do goleiro Bruno e que o corpo foi ocultado e os objetos pessoais da modelo queimados.
A polícia passa a vigiar o local. "Só com mandado de busca e apreensão, ok?", afirma o porteiro para evitar a entrada na propriedade.
Sangue
Além do sítio, outra peça-chave no inquérito é o carro importado que pertence a Bruno. Foi apreendido com Clayton da Silva, amigo do jogador.
O teste do luminol revelou a presença de sangue humano dentro do veículo. Imagens obtidas com exclusividade pela reportagem do "Fantástico" mostram as marcas espalhadas por um dos vidros. As amostras do material já estão em análise e o resultado do DNA pode apontar se o sangue é ou não de Eliza Samudio. O laudo deve sair ainda nesta semana.
No quebra-cabeça montado pelos investigadores uma peça não se encaixa: se o sangue encontrado no carro for de Eliza Samudio, como ela teria sido vista no dia 10, dois dias depois da apreensão do veículo?
Para o chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, o carro pode ter saído do pátio de forma criminosa. "Tudo é possível, pode ter suborno. A pessoa que apreendeu, que fez a ocorrência pode ter errado a data", afirma Edson Moreira.
Orgias e violência
Os depoimentos também indicam que o goleiro promovia orgias com prostitutas em seu sítio. A propriedade fica num condomínio fechado, um refúgio familiar sempre que ele está em Minas.
"Sempre no final da noite acontecia isso, esse fato de tirar a roupa, de pular na piscina, de strip tease", diz uma amiga de Bruno.
Declarações de Bruno
A trajetória do camisa 1 do Flamengo é marcada por belas defesas e polêmicas. Recentemente, Bruno deu uma declaração infeliz ao tentar defender o amigo Adriano, que teria brigado com a mulher.
"Muitos que são casados sabem que, às vezes, em um relacionamento, é preciso uma discussão, ou até mesmo algo mais sério. Quem nunca saiu na mão com a mulher? Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, xará", declarou Bruno.
O bebê de Eliza
Nas investigações, o caseiro José Roberto Machado diz à polícia que viu um bebê no sítio, que seria filho de Bruno. O administrador da propriedade, Elenilson Vítor da Silva, relata que a criança chegou ao local com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, apontado como o braço direito do jogador.
De acordo com os interrogatórios, o bebê foi tirado do sítio por Dayane de Souza, mulher de Bruno. Ela chegou a ser presa por subtração de incapaz e liberada. A polícia passa a investigar o desaparecimento de Eliza.
"Há grande possibilidade da Eliza já estar morta", afirma o delegado do caso Edson Moreira.
Investigadores entram no sítio, cavam o terreno e fotografam uma cisterna. Do porão, retiram uma lona preta.
Para entrar na casa, pulam uma janela. No segundo andar, examinam móveis, cortinas e o piso. Encontram roupas de mulher e fraldas de bebê.
Depois, vão para a mata e usam uma lanterna amarrada a uma corda para checar outra cisterna sob as árvores.
À noite, peritos voltam para um teste com luminol, um reagente químico que detecta vestígios de sangue imperceptíveis a olho nu. Mas a tentativa não dá certo.
Treino como goleira
Eliza Samudio nasceu em Foz do Iguaçu, no Paraná, em 22 de fevereiro de 1985.
Depois que os pais se separaram, Eliza ficou vivendo com o pai, o empresário Luiz Carlos Samudio. "A família dela, o alicerce dela era eu, não tinha mãe", afirma ele.
Luiz Carlos se casou de novo e teve mais três filhos. Eliza morava com o pai e estudava em um colégio estadual.
Ela decidiu que queria virar modelo. A professora Dulce Magda de Melo lembra bem dos momentos em que a carteira, na fileira da parede, ficou vazia.
"Ela tinha eventos que eles convidavam para ela desfilar", recorda Dulce.
No histórico escolar de Eliza, consta uma suspensão porque ela teria rasurado o livro de uma professora. As notas não eram muito altas, mas sempre boas em educação física.
Eliza Samudio sonhava com a carreira de modelo, mas também gostava muito de esportes. Ainda adolescente, ela começou a treinar futsal e a posição que Eliza escolheu foi a de goleira.
"Ela jogava bem, catava bem, sabia jogar com os pés, tinha boa postura na quadra e uma boa altura. Era uma menina que tinha bastante presença dentro do gol", lembra o técnico Joel Coelho.
"Ela era são paulina, então o sonho dela era conhecer o estádio do São Paulo", revela Vanessa Cordeiro.
O sonho se realizou. Com quase 20 anos, Eliza deixou a casa e se mudou para São Paulo, para seguir a carreira de modelo. As notícias que vinham da capital falavam, principalmente, do encantamento da são paulina Eliza com o estádio do Morumbi.
Logo, teriam surgido trabalhos também no Rio de Janeiro, onde ela conheceu o goleiro Bruno.
"E aí houve o envolvimento dos dois e a conseqüência você já sabe, o que acabou acontecendo", afirma o pai de Eliza.
Meses depois, o pai soube da gravidez e que Eliza teria sido ameaçada, agredida e estaria sendo pressionada por Bruno para fazer um aborto.
"A única vez que me pronunciei foi quando a coisa ficou mais grave. Aí eu disse a ela: trate de resolver numa boa por todas a situação, se não resolver, me chama que eu vou lá resolver com você. Aí, ela passou a evitar falar sobre o assunto comigo", lamenta o pai Luiz Carlos.
No domingo passado, o pai de Eliza e a atual mulher foram buscar o bebê encontrado na cidade de Contagem, Minas Gerais. Desde segunda-feira, estão com a criança em Foz do Iguaçu.
"Aparentemente, ele está saudável. Ele é esperto e muito fortinho", diz a madrasta de Eliza, Silvia Cordeiro Oliveira.
Na sexta-feira, o pai de Eliza, que tem a guarda provisória do bebê, entrou com o pedido de guarda definitiva. Mas a mãe de Eliza, que mora no estado de Mato Grosso do Sul e que não via a filha há seis anos, também quer ficar com o menino. "Independente dele ser filho dele (Bruno) ou não não me interessa, eu estou preocupada é com o bem da criança", afirma.
O encontro
Eliza Samudio era deslumbrada com o mundo do futebol. Colecionava fotos com jogadores como Raí e Cristiano Ronaldo. O encontro com o ídolo do Flamengo aconteceu no Rio de Janeiro.
"Depois do churrasco todo mundo foi pra alguma festa. Eles ficaram juntos e a partir daí se encontraram algumas vezes, ficaram uns quatro meses que ela falava se encontrando com ele", conta uma amiga.
"O relacionamento aconteceu no dia 21 de maio de 2009 quando aconteceu a gravidez", explica a advogada.
Na época, o goleiro Bruno estaria pagando um apartamento para a namorada no Rio de Janeiro. O atleta não teria gostado do fato de Eliza ter procurado a imprensa para dizer que o filho era de Bruno.
"Ele entrou no quarto, puxou os cabelos dela, pegou o celular dela, pediu para ela ligar para a imprensa, dizer que era mentira".
Eliza saiu do apartamento e foi para a casa de amigas. Em outubro do ano passado, Bruno voltou a procurá-la dizendo que queria fazer um acordo.
"Às duas horas da manhã, alguns dias depois, ele ligou dizendo que estava na frente da casa a esperando para conversar. Ela saiu feliz né", conta a amiga.
No dia seguinte, Eliza, grávida de cinco meses, registrou queixa na delegacia de mulheres do Rio de Janeiro.
"Ele me levou para o apartamento dele, me deu um monte de remédios para dormir e uma bebida horrorosa, horrível, que eu não sei o que era. Aí, eu dormi, acordei, "eram" 2h da tarde, aí eles falaram: "está bom, sexta feira, você vai abortar a criança. Aí eu falei: "tá bom". Aí ele falou assim: "se você for à delegacia ou em qualquer lugar eu vou atrás de você, mato você, mato sua família, mato suas amigas que eu sei onde está cada uma, sei o nome de cada uma delas", declarou Eliza em um vídeo.
Esta semana saiu o resultado do exame feito nesse dia que comprovou a presença de abortivos na urina de Eliza. Uma contra-prova ainda será feita.
Vida em São Paulo
Depois do episódio, Bruno passou a ser investigado criminalmente. Eliza fugiu para São Paulo e ficou na casa da mãe de uma amiga.
"Pensei que se fosse uma filha minha que tivesse em situação que ela se encontrasse e tivesse uma pessoa para apoiar, para mim era uma benção de Deus", diz a mãe da amiga de Eliza que a hospedou.
Eliza passou toda gravidez com a amiga. O bebê nasceu em fevereiro. Mãe e filho ficaram em São Paulo até o começo de maio deste ano.
"Cheguei do meu trabalho e ela tava sentada no mesmo cantinho que ela sempre estava e o nenê do ladinho. Ela falou: "tia, vou viajar para o Rio". Aí me deu um desespero, sabe quando você pensa um montão de coisa, que se fosse minha filha, eu jamais deixaria, mas ela é adulta, já tem um filho, como vou fazer?", desabafa a mulher que hospedou Eliza.
"Eu inclusive eu a orientei, Eliza, já aconteceu uma agressão, tente não se aproximar dele, deixa isso tudo para o processo e fica em casa esperando", explica a advogada de Eliza.
Últimos contatos
Segundo uma mensagem, enviada do celular de Eliza, ela estaria em um hotel no Rio de Janeiro.
"Ela me mandou uma mensagem no dia 11 de maio dizendo que já estava no Rio de Janeiro, dizendo "estou no mesmo hotel que fiquei aquela vez, se acontecer algo, já sabe quem foi", revela a advogada.
Eliza prometeu voltar para São Paulo no fim de maio, mas no dia 4 de junho, contou à amiga que o plano era outro.
"Ela comentou "ah, o Bruno queria que eu fosse morar em Minas, porque ele vai fechar contrato com um time de fora e gostaria que o filho dele tivesse mais contato com a família dele que mora em Minas".
Bruno disse que não via Eliza há dois ou três meses.
"Tive a informação dela de que o Bruno pegou o filho no colo, pediu fotos do filho", afirma a advogada.
O último contato foi feito com a família que a abrigou em São Paulo. Eliza dizia que estava em Minas, mas que pretendia voltar para a capital paulista.
"O último dia em que ela ligou mesmo, que as minhas filhas falaram com ela, foi no dia nove. Nesse dia, minha filha falou: Eliza, quando você vem aqui, quando você vem embora"?
"Ela disse: daqui uns 10 dias estou chegando, porque a roupa do Bruninho está perdida, porque ele está gordinho e eu vou pegar o restante da roupinha dele", afirma a testemunha. "Depois disso, a minha filha tentou várias vezes entrar em contato com ela, mas só dava fora de área, como se fosse desligado e ela nunca deixou o celular dela desligado", lembra a mãe da amiga de Eliza.
O goleiro Bruno disse que Eliza tinha entregado o bebê a um funcionário dele, mas as pessoas próximas dizem que isso era impossível.
"Eu não imagino a Eliza sofrendo sozinha por aí sem o filho, porque para ela entregar o filho dela pra alguém, ela nunca entregaria aquele menino pra ninguém. Aqui é a casa dela, sempre foi, se ela estiver viva, vai estar sempre à disposição dela", diz, emocionada, a amiga.