O tigre Hu, que atacou um menino no zoológico de Cascavel, deve permanecer isolado por cerca de 15 dias, informou nesta quinta-feira (31) o veterinário do local Valmor Passos. O afastamento, que até então era para ser de apenas um dia, foi decidido pela equipe do zoo para proteger o animal e evitar que ele fique muito exposto e, consequentemente, estressado.
No fim da tarde desta quarta (30), Hu atacou um menino de 11 anos que ultrapassou a grade de proteção para alimentá-lo. Segundo mostra um vídeo feito por um dos visitantes do zoo, a criança também tentou "brincar" com o tigre, que avançou no braço direito do garoto. Ele foi levado para o Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), em Cascavel, onde chegou por volta das 17 horas.
Segundo informações do departamento de comunicação do hospital, a equipe médica que avaliou o menino verificou que não havia como salvar o membro. O braço foi amputado na altura do ombro.
"Em casos assim não tem mesmo como colocar o braço de volta", explica o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba Alexandre Biondo. "A mordida é dilacerante, não cortante, e arranca toda a estrutura de músculo, vasos, nervos e tendões."
No topo da cadeia alimentar, o tigre é um dos maiores predadores do mundo. Em alguns casos, mamíferos desta espécie (Panthera tigres) podem chegar a 300 quilos, sendo a força exercida por sua mandíbula uma das suas principais armas de defesa e instrumento de predação. "Uma mulher em Curitiba foi atacada por um pit bull e teve o braço arrancado. E esse é um cachorro que tem força na mandíbula e pesa, no máximo, uns 40 quilos. Agora imagina um leão, ou um tigre, que podem chegar aos 300 quilos", comenta Biondo. "A mordida é fatal, porque eles têm mecanismo de defesa e ataque inatos para provocar morte."
O diretor afirma que no Zoológico de Curitiba os felinos são mantidos longe de qualquer acesso que possa ter o visitante. "No zoológico [de Curitiba] eles são isolados por tela dupla. Isso que os visitantes ainda reclamam que as telas não são boas porque não dá para tirar foto. Mas, toda vez que você facilita a visualização pode facilitar também a predação."
Tigre Hu começou a ser criado por família
O tigre Hu está há três anos no Zoológico de Cascavel. "Ele está acostumado com o público e podemos dizer que ele tem temperamento dócil", afirma o veterinário Valmor Passos. Hu veio de Maringá, onde foi mantido quando filhote pelo mesmo criador do leão Rawell, hoje em Curitiba. Depois de ter parte da cauda amputada, o criador achou que o tigre não possuía mais as condições para ser exposto, e resolver doar o animal ao zoo de Cascavel. Dos mesmos criadores também estão presentes no local um leão, três leoas, duas onças pardas e uma onça preta todos, segundo a administração do zoo, isolados devidamente em espaços que contém alertas de perigo.
Hu tem três anos e meio e, se não houve nenhum problema, pode passar dos dez anos no cativeiro. Logo depois do incidente desta quarta, o felino foi encaminhado para uma área isolada. "Foi um acidente. Em 40 anos de zoológico nunca vi uma coisa desta", comentou o veterinário.
O zoológico de Cascavel está inserido em um parque da cidade que, no total, chega a 19 hectares. São 360 animais, entre aves, répteis e mamíferos, de 67 diferentes espécies. "É comum a gente pegar visitante provocando os animais, o pessoal pega bambu e fica cutucando o leão, fica provocando os macacos. Mas de chegar nesse ponto é a primeira vez."
De acordo com Passos, o vídeo que mostra o momento em que a criança se aproximou do tigre já foi analisado pela equipe do zoológico. Segundo ele, é possível ver que o animal urina duas vezes próximo à tela, que seria uma mostra de que não estava gostando da atitude da criança. "Mas, claro, ele [o menino] não entendeu, porque é uma maneira muito específica, e continuou ali."
Segurança
Atualmente, uma equipe de seis guardas patrimoniais tomam conta do zoológico de Cascavel. Nenhum dos guardas estava fiscalizando a jaula do tigre no momento em que o menino estava no local.
Para o veterinário, não houve omissão do trabalho dos guardas, até porque existe um sistema de isolamento entre os visitantes e os animais, e também placas que indicam perigo. Tudo isso para reforçar a segurança no local. Passos considera que todos os métodos de segurança adotados hoje pelo zoo de Cascavel são funcionais, e não há indicação de que eles terão de passar por uma reavaliação.
"Se mudar qualquer situação do ambiente vamos assumir uma culpa que não é nossa. Está tudo de acordo aqui dentro", completou.