Escolha

Duração menor e demanda do mercado motivam estudantes

Uma pesquisa de mercado com professores da área foi o que levou a estudante Ana Cristina Herrero de Morais, 19 anos, a optar pelo curso tecnológico em Comunicação Institucional da UFPR, há dois anos. Ela sonhava em fazer Jornalismo, mas após visitar uma feira de profissões, constatou que a graduação em tecnologia oferecia um campo de atuação mais vasto.

Outro atrativo, segundo ela, é a duração mais curta do curso: três anos, contra quatro do bacharelado com habilitação em jornalismo. Cursando atualmente o quarto período, Ana faz estágio há sete meses, em uma empresa de reciclagem de celulares, e agora arruma as malas para um intercâmbio de um semestre em Coimbra. "Fui a primeira colocada no setor em um processo seletivo. Vou cursar matérias em comunicação, que batem com a minha grade. Faço estágio em uma empresa holandesa que está abrindo agora no Brasil, e essa vivência na Europa vai agregar aos meus conhecimentos."

Com a opção de três línguas – inglês, espanhol e francês –, o curso oferece disciplinas práticas que ensinam a redigir documentos, textos, programação gráfica e até confecção de jornais murais. A média salarial inicial para um tecnólogo em comunicação institucional é de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. "E é fácil achar emprego", ressalta Ana.

A agilidade da graduação tecnológica em Secretariado foi o que chamou a atenção da curitibana Karla do Vale, 25 anos. Ela conta que junto com a promoção ao cargo de secretária, há dois anos, veio a cobrança de um curso superior no currículo. "Optei pelo tecnólogo por ter dois anos de duração. Faço na modalidade EAD, vou para a aula uma vez na semana, mas me obrigo a ler, estudar bastante, porque se não atingir a média vira uma bola de neve", garante ela, que está indo para o último semestre do curso.

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Glossário

Saiba as diferenças entre os cursos de nível superior:

Bacharelado : oferece formação teórica e prática, com duração de 4 a 5 anos e meio, em média. Confere título de bacharel e permite cursar pós-graduações.

Licenciatura: é um curso para formação de professores, portanto, exigem uma carga horária mínima de estágio em sala de aula. Com duração média de 4 anos, confere ao aluno o título de licenciado e permite continuidade em pós-graduações.

Tecnológico: com duração de 2 a 3 anos, oferece formação mais prática em determinada área do conhecimento. Confere ao estudante um diploma de tecnólogo, mediante a conclusão da carga horária, que inclui estágio supervisionado.

As graduações em tecnologia têm avançado no Brasil, mas ainda estão longe de ultrapassar os tradicionais bacharelados. Em dez anos, de 2002 a 2011, o ingresso de estudantes em cursos tecnólogos saltou quase dez vezes, indo de 38,4 mil para 415 mil. Já a oferta de vagas em licenciaturas e bacharelados cresceu apenas 40% no período, mas, juntas, as duas modalidades ainda somam mais de 80% dos ingressos nas universidades brasileiras. De acordo com o Ministério da Educação, em 2012 o país contava com 5.969 cursos tecnólogos, o que representa 19% do total de graduações.

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INFOGRÁFICO: Veja a distribuição dos alunos de graduação no país

Na avaliação do especialista em Gestão Educacional Renato Casagrande, o número ainda é pequeno perto de países desenvolvidos, como a Bélgica, onde a formação de nível de tecnólogo supera os bacharelados. Segundo ele, isso é fruto de uma visão deturpada difundida à época da implantação da modalidade de ensino por aqui, no final dos anos 90. "Muitas instituições foram oportunistas e venderam o modelo como supletivo de um bacharelado, para atrair jovens sem renda suficiente para as graduações onerosas. Isso ajudou a ampliar o preconceito em relação a cursos de baixa duração."

Com duração máxima de três anos – alguns chegam a ser concluídos em 24 meses –, os cursos tecnólogos têm a vantagem de ter uma grade mais prática e focada em uma área de competência específica. "Um bacharelado em administração, de quatro anos, tem umas 300 horas basicamente de finanças, ou 10% da carga horária total. Se a pessoa fizer uma especialização na área, ganha mais 360 horas. Um curso tecnólogo de finanças, por exemplo, tem 1,5 mil horas só sobre o assunto", detalha Renato Casagrande.

O pró-reitor adjunto de graduação e educação profissional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Carlos Henrique Mariano, ressalta que os cursos de tecnologia são uma tendência, mas não vieram para substituir as graduações tradicionais. Atualmente, dos 97 cursos de nível superior oferecidos pela UTFPR, apenas 26 são tecnologias contra 42 engenharias. "O mercado é bom desde que o curso esteja focado em áreas que não sombreiem com tradicionais, como um tecnólogo em eletricidade e uma engenharia elétrica. Nosso curso de radiologia é um exemplo: não existe uma graduação similar."

O diretor do Setor de Educação Profissional e Tecnológica da UFPR – que oferece 12 cursos em tecnologia –, Luiz Antonio Passos Cardoso, acrescenta que, embora focados no mundo do trabalho, os tecnólogos são diferentes dos cursos técnicos de nível médio, porque preveem um conhecimento mais profundo. "Digo para meus alunos que a vantagem em relação aos bacharelados é ganhar dois anos para seguir na carreira acadêmica. Um bacharel em ciência da computação leva cinco anos para se formar. Um tecnólogo leva três e, em mais dois, ele é mestre."

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Modalidade ainda tem espaço a conquistar

O professor Carlos Henrique Mariano, pró-reitor da UTFPR, explica que a vocação principal das graduações em tecnologia é adaptar suas grades curriculares à demanda do mercado, o que ainda não acontece. "Se a área estiver saturada, o curso se modifica. Esse é o desafio, a teoria do curso, que lá pela quinta turma seja outro curso, porque o mercado mudou."

No curso de Análise de Desenvolvimento de Sistemas, da UFPR, por exemplo, é comum que estudantes arrumem emprego, ao passar do segundo para o terceiro ano. "Se o aluno for aplicado, encontrará mercado", garante Luiz Antonio Passos Cardoso.

Entre as desvantagens, acrescenta Carlos Mariano, está a ausência de um piso salarial definido para os tecnólogos, o que provoca uma grande variação nos valores pagos, dependendo da empresa. "Existe muita dificuldade, porque eles não têm um conselho. Para algumas áreas tem o Crea, mas que é de engenheiros, então, tem essa limitação em atribuições profissionais."

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