A bala perdida que atingiu o taxistaRoberto Brauhardt, de 28 anos, na madrugada do último fim de semana em Curitiba pode ter sido disparada por um policial militar que estaria trabalhando como segurança em uma casa noturna da cidade. O caso será investigado por uma sindicância interna da Polícia Militar e também pela Delegacia de Homicídios (DH).
Brauhardt estava trabalhando em um ponto de táxi na Rua Brasílio de Lara, no Bairro Alto, quando foi atingido com um tiro na nuca. A ocorrência foi registrada por volta das 5h de domingo. De acordo com a delegada chefe da DH, Vanessa Alice, houve uma confusão no interior do bailão "Baila Comigo". Testemunhas relataram que um segurança retirou do local uma das pessoas envolvidas na briga e depois atirou duas vezes com uma arma de fogo para tentar amedrontar o rapaz e "controlar a situação", no entanto, uma das balas perdidas acertou o taxista.
Uma denúncia que chegou às autoridades é de que o segurança seria um PM que fazia "bico" na casa noturna. O segundo emprego é proibido para os policiais.
No fim da tarde desta segunda-feira, a PM divulgou uma nota oficial, assinada pelo comandante do 13º Batalhão, tenente coronel César Alberto de Souza. Segundo a nota, um policial militar da unidade estava no local da ocorrência. Uma investigação interna da corporação vai averiguar se o PM estava trabalhando no bailão. A arma de fogo do suspeito foi apreendida e vai passar por perícia para que se possa confirmar se o tiro que atingiu Brauhardt foi disparado pelo PM.
Ainda de acordo com o comunicado da polícia, caso o "bico" seja confirmado, o policial pode ser expulso da instituição e o comando da Polícia Militar deve acionar o Ministério Público do Trabalho para que a casa noturna também seja responsabilizada pela contratação da atividade de segurança privada não autorizada.
Um inquérito na Polícia Civil também vai apurar o caso. A delegada Vanessa informou nesta segunda-feira que ainda não iria se pronunciar sobre o envolvimento do policial no caso. O responsável pelos disparos poderá ser indiciado por tentativa de homicídio com dolo eventual (quando o agente assume o risco de produzir o resultado).
O taxista está internado em estado grave nos Hospital Nossa Senhora do Rocio, em Campo Largo, na região metropolitana. Até o fim da tarde desta segunda, ele estava em coma induzido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do local.
Situação recorrente
Reportagem publicada em março na Gazeta do Povo mostrou que os "bicos" são comuns entre os PMs, não apenas no Paraná. Segundo pesquisa publicada pelo Ministério da Justiça e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), 77,8% de 64 mil policiais entrevistados em todo o Brasil avaliam que "a maioria" ou "mais ou menos a metade" dos profissionais de sua corporação mantém uma segunda atividade remunerada em caráter permanente.