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Curitiba

Tiroteio reforça clima de medo entre moradores do Bolsão Sabará

Ruas praticamente vazias, pouca circulação de carros e pátios de escolas vazios traduziam o clima pesado de medo que pairava, na tarde desta sexta-feira (4), no Bolsão Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A apreensão dos moradores foi agravada por um tiroteio, ocorrido no meio da tarde, em um bosque próximo da Escola Municipal Mansur Guerios. Em pouco tempo, boatos de dois assassinatos – que não foram confirmados –ganharam as ruas. A poucas quadras dali, dois adolescentes foram mortos e três ficaram feridos nesta semana. Outros seis estariam jurados de morte.

O som de pelo menos quatro disparos fez com que moradores pensassem que a lista de marcados para morrer tivesse tido mais duas baixas. O tiroteio foi ouvido por volta das 15h30, nas imediações da escola. Moradores relatam que houve pânico e corre-corre. "A gente viu muitos guardas passando, correndo. Todo mundo disse que tinham matado mais dois", disse um morador. A Guarda Municipal confirmou que um agente ouviu os disparos e acionou outras equipes. Duas motos e duas viaturas foram ao bosque, mas os suspeitos já não estavam no local. Ninguém ficou ferido.

Tensão

O clima de tensão entre os moradores decorre, segundo a Delegacia de Homicídios (DH), de um enfrentamento de gangues formadas por jovens. Desde o início da semana, a unidade trabalha na Vila Sabará e identificou três grupos: o Cidade de Deus (CDD), o Comando Sabará e o Comando Corbélia. As facções são compostas por jovens com idades entre 12 a 20 anos. Todos teriam integrantes matriculados na Escola Municipal Cândido Portinari, onde estudavam os dois jovens mortos nesta semana. "Até mesmo meninas de 12 são atraídas por estas gangues e namoram os adolescentes que dominam os grupos", explica o investigador Carlos Henrique Lima.

Segundo a polícia, as drogas estão presentes nos grupos identificados, mas não são o maior motivador dos assassinatos. A versão, no entanto, diverge da apresentada por moradores ouvidos pela Gazeta do Povo. Um deles aponta que os confrontos estão ocorrendo pela disputa pelo controle do tráfico. Outro – um aposentado – diz que a Polícia Militar (PM) sabe quem são os envolvidos na venda de entorpecentes, mas que é conivente com a prática.

"Tem ponto [de tráfico] até em frente de posto de saúde. Todo mundo sabe onde é. A PM vem à noite, encosta [a viatura], conversa com os traficantes, mas não prende ninguém. Deve ter algum acerto", acusa. A Gazeta do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM, que, até as 21 horas, não havia se manifestado.

Medo

A tensão gerada pelas mortes consumadas e pela suposta lista de marcados para morrer foi reforçada por um bilhete, enviado pela Secretaria Municipal de Educação aos pais da Escola Cândido Portinari, dizendo que "se não estivessem seguros em encaminhar os filhos para a escola, poderiam deixá-los em casa, no dia 4, sem prejuízo pedagógico". De acordo com a Secretaria, dos 2,2 mil alunos (distribuídos nos turnos da manhã e tarde), somente 700 compareceram às aulas nesta sexta.

Uma mulher que pediu para não ser identificada conta, pesarosa, que depois de cinco anos morando no bairro, precisou impedir os filhos de brincar de bola na rua. Outra, mãe de três filhos, disse que se prepara para deixar a Vila Sabará neste fim de semana.

Os moradores reclamam da falta de policiamento e apontam que, mesmo após as mortes desta semana, não havia viaturas patrulhando a vila. "É preciso policiamento ostensivo e um cuidado melhor no Bosque São Nicolau, antro de gangues", disse. Durante a tarde de sexta, após o boato, a reportagem não viu nenhum carro da Polícia Militar circulando pelo local. A PM também não respondeu a esta lacuna.

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